Polícia Federal cumpriu ordens judiciais na casa do político. Primeira-dama e dois vereadores também são investigados. Defesa de prefeito diz que “não há fatos novos que justifiquem operação”. Prefeito Divaldo Lara participou da sessão de abertura da Câmara de Vereadores de Bagé na sexta-feira (3)
Tamile Padilha/Prefeitura de Bagé
A Polícia Federal (PF) cumpriu, nesta terça-feira (13), 34 mandados de busca e apreensão em uma operação contra a prática de “rachadinha”, que é o recolhimento ilícito de parte dos salários de servidores por agentes políticos. Um dos alvos das ordens judiciais é o prefeito de Bagé, Divaldo Lara (PL). O município de 118 mil habitantes fica na fronteira com o Uruguai.
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A investigação afirma que, desde 2017, servidores comissionados seriam obrigados a destinar parte dos salários para o grupo. O suposto desvio de mais de R$ 10 milhões teria sido revertido para fins eleitorais sem a devida declaração à Justiça Eleitoral, de acordo com a polícia. Segundo a PF, Lara seria o responsável por uma organização criminosa que receberia os valores arrecadados.
Além do prefeito, a primeira-dama, Priscila Fischer Lara, é investigada por atuar no esquema. Policial civil, a esposa do político é suspeita de ter acesso a informações privilegiadas de investigações.
Os advogados de Divaldo e Priscila disseram que “não existem fatos novos que justifiquem o mandado de busca e apreensão” e que é um “esgotamento da mesma investigação”. A defesa diz ainda que o “prolongamento indefinido da investigação é ilegal, desproporcional e sua abusividade será demonstrada em juízo”.
Sobre a suposta atuação de Priscila no esquema, a Polícia Civil do RS afirmou que vai se informar a respeito da situação.
A casa de Lara em Bagé foi um dos alvos dos mandados, autorizados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Rio Grande do Sul. Os agentes também cumpriram ordens judiciais em Porto Alegre e Florianópolis. Foram cumpridas ordens de busca e apreensão domiciliar e pessoal.
Policial federal durante cumprimento de ordem judicial em Bagé
PF/Divulgação
Vereadores suspeitos
Dois vereadores também são investigados pela PF. Rodrigo Ferraz (PL) e Michelon Apoitia (PL) são suspeitos do recolhimento de valores dos salários dos servidores.
A RBS TV não obteve retorno dos advogados de Ferraz até a atualização mais recente desta reportagem.
Já a defesa de Apoitia disse que não existem fatos que justifiquem o ocorrido de hoje e que a abertura de processo em período pré-eleitoral “deixa evidente a prática do uso de tribunais para prejudicar adversários”.
Terceira fase
A ação realizada nesta terça é a terceira fase da Operação Coactum. A PF apura os crimes de inserção de declaração falsa em prestação de contas eleitorais (conhecido como “caixa dois”), organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro, além de outros possíveis crimes contra a Administração Pública.
A segunda fase da operação, realizada em maio, recolheu mídias, dinheiro e provas. Na ocasião, dois servidores foram presos em flagrante por peculato, pois foram encontrados com os valores recolhidos de funcionários públicos.
O nome da operação, “Coactum”, se refere ao “caráter compulsório das contribuições a que os servidores são obrigados a entregar parcelas de suas remunerações, sob pena de exoneração dos cargo”, diz a PF.
Policiais cumprem mandado de busca em residência em Bagé
PF/Divulgação
Quem é Divaldo Lara
Divaldo Vieira Lara, de 45 anos, é natural de Bagé. Entre 2009 e 2016, o político foi vereador do município. Ele foi eleito prefeito em 2016, sendo reeleito em 2020.
Uma de suas bandeiras é o combate à corrupção, simbolizado por um relho. O prefeito se descreve, nas redes sociais, como “patriota, de direita” e é apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O político chegou a ser afastado do cargo em 2019 por crimes licitatórios, de responsabilidade, de desvio de verbas públicas e por organização criminosa. Lara voltou ao cargo cerca de três meses depois da decisão.
O prefeito foi declarado inelegível por oito anos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2022, mas não está impedido de cumprir o restante mandato, que termina em 2024. Na denúncia, o Ministério Público Eleitoral (MPE) apontou que houve uso indevido da máquina pública durante as eleições de 2018. Servidores municipais de Bagé teriam sido coagidos a fazer campanha para o irmão do prefeito, Luis Augusto Lara, em horário de expediente.
Nas eleições de 2020, Lara foi acusado de abuso de poder econômico por aparecer em um evento ao lado do empresário Luciano Hang, dono das Lojas Havan. Tanto o prefeito quanto o empresário foram absolvidos pelo TRE e pelo TSE.
Em 2023, Divaldo Lara sugeriu que vereadores de oposição passassem por testes toxicológicos contra o uso de drogas, levando uma enfermeira para uma sessão da Câmara Municipal. Vereadores de oposição mostrataram indignação com a ação, que consideraram uma “cortina de fumaça”, mas aceitaram realizar o teste.
Além do ex-deputado estadual Luís Augusto, que teve o mandato cassado em 2022, Divaldo é irmão da atual deputada estadual Adriana Lara (PL).
Prefeito Divaldo Lara durante campanha, usando relho como símbolo de combate à corrupção
Reprodução
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