Humorista e influencer é suspeito de estelionato. Em 2022, abriu loja e vendeu produtos, mas nunca entregou, de acordo com a Polícia Civil. Prejuízo a clientes é estimado em R$ 5 milhões. Conversas entre vítima de estelionato e Nego Di
Arquivo pessoal
Um morador de Pelotas, na Região Sul do Rio Grande do Sul, foi uma das 370 vítimas identificadas pela Polícia Civil de um suposto esquema criminoso com envolvimento do influencer e humorista Dilson Alves da Silva Neto, conhecido como Nego Di. Ele relata ter sofrido um prejuízo de R$ 30 mil com a compra de aparelhos de ar-condicionado que nunca chegaram.
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“Nos perfis dele [em redes sociais], a gente via que ele debochava do caso, aproveitava a vida com o nosso dinheiro. Viajando para fora, Punta Cana… O que aconteceu [a prisão] dá esperança de que a gente pode ser ressarcido”, conta o homem, que preferiu não se identificar.
Nego Di foi preso preventivamente no domingo (14) em Santa Catarina. Após, foi transferido para o Rio Grande do Sul. Ele é sócio de uma loja suspeita de vender produtos, mas não entregar. O prejuízo às vítimas é estimado pela polícia em R$ 5 milhões.
A defesa de Nego Di afirma que está tomando as medidas legais cabíveis. Leia a manifestação completa abaixo.
Nego Di chega a Porto Alegre após prisão por suspeita de estelionato
O golpe
O morador de Pelotas viu nos preços baixos dos produtos vendidos pela loja, a “Tadizuera”, uma oportunidade de negócio em 2022. Fez um empréstimo de R$ 30 mil e comprou 33 aparelhos de ar-condicionado, que iria revender. Os preços variavam de R$ 799,90 a R$ 1.199 – abaixo do de mercado.
“Na época, não se tinha notícias de envolvimento dele em esquema. Parecia uma pessoa de confiança. Eu precisava do dinheiro para custear um tratamento de saúde. Conversei com amigos que faziam instalação de ar-condicionado, acertamos o negócio e fiz a compra. Mas deu tudo errado”, conta.
Os prazos de entrega começaram a encerrar e os aparelhos de ar-condicionado não chegavam – e nunca chegaram.
Sem os aparelhos, dinheiro e com a cobrança do empréstimo que fez, ele afirma que começou a entrar em desespero.
“Não estava aguentando. Não enxergava uma saída daquele problema. Tive depressão. Minha família dependia de mim. Foi muito difícil”, lembra.
Após diversas cobranças pelos canais de atendimento da loja, Nego Di entrou em contato com ele sinalizando que teve problemas com as transportadoras que fariam a entrega – e garantiu que faria o ressarcimento do dinheiro. Veja o print acima.
Repassou o contato de Anderson Bonetti, sócio de Nego Di no esquema e que está foragido, e ele também afirmou que faria o ressarcimento. No entanto, isso nunca aconteceu.
“Aí, eu fiz um boletim de ocorrência [na delegacia de polícia] e procurei um advogado”, conta.
Investigação
A loja virtual “Tadizuera” operou entre 18 de março e 26 de julho de 2022 – ocasião em que a Justiça determinou que ela fosse retirada do ar. Nego Di fazia a divulgação em seus perfis nas redes sociais dos produtos à venda, como aparelhos de ar-condicionado e televisores, muitos deles com preços abaixo do de mercado – uma televisão de 65 polegadas, por exemplo, era vendida a R$ 2,1 mil.
Parte dos seguidores do influenciador comprou os produtos, mas nunca recebeu, de acordo com a Polícia Civil. A investigação aponta que não havia estoque, e que Nego Di enganou os clientes prometendo que as entregas seriam feitas, apesar de saber que não seriam. Ainda assim, movimentou dinheiro que entrava nas contas bancárias da empresa.
A Polícia Civil afirma que tentou por diversas vezes intimar Nego Di para prestar esclarecimentos, mas ele nunca foi encontrado.
A Polícia estima que o prejuízo dos 370 clientes lesados seja superior a R$ 330 mil, mas como as movimentações bancárias são milionárias, a suspeita é de que o número de vítimas do esquema seja maior e inclua pessoas que não procuraram a polícia para representar criminalmente contra o influenciador.
Antes da prisão, Nego Di se manifestou na sua conta de X, o antigo Twitter. “Estávamos preparados para o que aconteceu ontem [sexta]. Nós sabíamos que iria acontecer mais cedo ou mais tarde, e todo mundo sabe o porquê do que aconteceu ontem”, escreveu ele.
Nego Di no ‘BBB21’
Reprodução/Globo
Quem é Nego Di
Gaúcho de Porto Alegre, Dilson Alves da Silva Neto, mais conhecido como Nego Di, participou do Big Brother Brasil em 2021. Ele entrou como integrante do grupo Camarote, pois já trabalhava como influenciador digital e comediante. Ele foi o terceiro eliminado do programa, com 98,76%.
Após o reality, ele começou a promover rifas em redes sociais, divulgando no regulamento que “quem comprar mais números” ganha o prêmio. A prática é investigada pelo Ministério Público (MP) e motivou uma operação contra ele e sua companheira.
Nego Di já sofreu sanções da Justiça do Rio Grande do Sul por divulgação de fake news em seus perfis nas redes sociais. Em decisão em maio este ano, o Tribunal de Justiça (TJ), ele teve que apagar publicações sobre as enchentes.
Na ocasião, Nego Di alegou que as autoridades estariam impedindo barcos e jet skis de propriedade privada de realizar salvamentos na região de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, por falta de habilitação dos condutores. Além disso, ele também compartilhou imagens de cadáveres boiando que não eram da tragédia em questão, inclusive uma de uma inundação no Rio de Janeiro.
A Justiça determinou a exclusão imediata das publicações e proibiu Nego Di de reiterar as afirmações mentirosas, sob pena de multa no valor de R$ 100 mil.
Nota da defesa do investigado
Em relação aos recentes acontecimentos envolvendo o humorista Dilson Alves da Silva Neto, conhecido como NegoDi, gostaríamos de esclarecer que estamos tomando todas as medidas legais cabíveis.
Destacamos a importância do princípio constitucional da presunção de inocência, que assegura a todo cidadão o direito de ser considerado inocente até prova em contrário. O devido processo legal deve ser rigorosamente observado, garantindo que o acusado tenha uma defesa plena e justa, sem qualquer tipo de pré-julgamento.
Pedimos à mídia e ao público que tenham cautela na divulgação de informações sobre o caso, uma vez que a ampla exposição de fatos ainda não comprovados pode causar danos irreparáveis à imagem e à carreira de NegoDi.
Qualquer divulgação precipitada pode resultar em uma condenação prévia injusta, prejudicando sua honra e dignidade.
Hernani Fortini,. Jefferson Billo da Silva, Flora Volcato e Clementina Ana Dalapicula.
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