Noa (Daisy Edgar-Jones) está cansada dos encontros que consegue por meio de aplicativos de relacionamento e, quando conhece o charmoso Steve (Sebastian Stan) em um supermercado, vê a possibilidade de finalmente se apaixonar por alguém. Esta é a trama de “Fresh”, filme exibido no Festival de Sundance e disponível no Brasil pelo Star+, que seria uma comédia romântica como outra qualquer, se não fosse por um detalhe: Steve é um canibal. O que parecia ser o início de uma história de amor se torna um suspense de tirar o fôlego — e a fome.
Para interpretar Steve, Sebastian Stan conta ter se inspirado em casos de canibais da vida real, e não em personagens já conhecidos, como o caso de Hannibal Lecter. “Fiz muitas pesquisas para isso: assisti a muitos documentários de true crime e achei muitas informações online também”, contou em entrevista a Splash.
No entanto, interpretar um personagem controverso não foi o maior desafio para o ator, afinal, ele está acostumado a viver diferentes personalidades: o ator é desde Tommy Lee na série “Pam & Tommy” até o Soldado Invernal nos filmes da Marvel. Para ele, o mais difícil em “Fresh” foi construir a relação entre Steve e Noa de uma maneira orgânica e verdadeira.
O “casal” começa a se relacionar, mas a verdade sobre Steve aparece quando ele sequestra Noa para poder comer e vender sua carne. No entanto, mesmo com essa relação de presa e predador, o canibal parece desenvolver sentimentos dúbios pela prisioneira.
“O maior desafio foi montar esse relacionamento, porque ele começa com uma conexão simples no começo do filme, mas, à medida que avança, algumas características vão sendo adicionadas”, explica Stan. “Há muita manipulação de ambos os lados, e foi preciso trabalharmos juntos para ajustar a dose.”
Os eventos se intensificaram de tal modo que, ao final do filme, você não sabe dizer o que Noa ou Steve estão sentindo ou querem de verdade.
Daisy Edgar-Jones (“Normal People”) acredita que a confusão causada no espectador é algo bom, pois “a ambiguidade faz parte do meio da trama e é muito interessante”. “Acho que, a primeira vez que eles se conhecem, há algo genuíno na conexão deles, e isso parte o coração de Noa quando ela vai descobrindo a verdade.”
“Eles têm o mesmo senso humor e algo realmente faz o olho dela brilhar por ele — e por que não o dele por ela? Ela talvez saiba disso e usa para manipulá-lo como consegue, para se manter viva.”
Carne de primeira
Como um bom filme que trata de canibalismo, diversas cenas mostram refeições feitas a partir carne humana (claro, apenas na trama). Para os atores, a temática de revirar o estômago não foi um problema durante as gravações. Edgar-Jones conta que passou mal apenas uma vez durante as filmagens.
“Eu tive um momento difícil em uma cena que eu tinha comido um burrito de café da manhã e vários ovos moles. Acabei vomitando tudo!”, conta. “Mas, de modo geral, eu fiquei bem porque fomos gravar as cenas de jantares só no final da produção. Eu estava muito concentrada para estar consciente de cada mordida que dava.”
Em dados momentos do filme, pedaços de carne humana são manuseados por Steve para arrumá-los para venda. Segundo Sebastian Stan, esses adereços foram criados pelo departamento de arte e pareciam extremamente verdadeiros. “Eles construíram uma espécie de massa proteica que eu conseguia manusear, cortar e usar durante as cenas.”
A veracidade desses adereços torna tudo ainda mais perturbador para mim.
“Me senti um filme de ação dos anos 1980, quando não usavam muitos efeitos especiais e eram obrigados a usar mais efeitos práticos. Quando se é ator, é preciso brincar com isso”, finalizou Stan.