Com pesquisa no RS, medicamento para combater gordura no fígado entra em fase final de testes


Medicamento será alternativa a remédio importado dos Estados Unidos, que custa quase R$ 100 mil por mês; doença afeta cerca de 35% dos brasileiros e pode levar a cirrose, tumor e necessidade de transplante Fachada do Hospital de Clínicas, em Porto Alegre
Gustavo Diehl/Secom/UFRGS
Uma doença silenciosa, que afeta aproximadamente 35% da população, deve ter em breve um medicamento exclusivo, com parte dos estudos realizados no Rio Grande do Sul.
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A Esteatose hepática é o acúmulo de gordura no fígado, e em estágios mais avançados chega à cirrose – que é o surgimento de fibroses no órgão – tumor ou necessidade de transplante. A droga pesquisada no RS é a Survodutida, que chegou à fase 3 de testes no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. É a última etapa antes de ela ser liberada para comercialização.
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Apesar de ainda não estar aprovada, a fase 2 foi animadora, segundo Mário Reis Alvares-da-Silva, Chefe do Serviço de Gastroenterologia da instituição.
“É uma droga que os resultados de fase 2 são espetaculares e nos trazem um grande otimismo no sentido de controlar a doença no futuro. O estudo está agora em fase de organização em vários centros do mundo, inclusive aqui, e deve começar no mês de outubro”, estima.
Até hoje, no mundo, somente um remédio teve comprovação de atacar diretamente a doença. O tratamento com outras medicações é indireto, reduzindo a gordura corporal. A medicação que age exclusivamente no fígado é o Resmetirom. Só que ele precisa ser comprado nos Estados Unidos, e o custo gira em torno de R$ 1 milhão por ano.
“Ele é caríssimo. A pessoa pode importar, mas tem um custo variado entre R$ 70 mil a R$ 90 mil a caixinha, que dura 30 dias. E para uma medicação que, teoricamente, deve ser utilizada por toda a vida – explica Alvares-da-Silva”.
Apesar do acesso ainda limitado, o pesquisador considera esse um passo importante, que terá evolução com o tempo.
“Tem que ter um certo cuidado para não se gerar uma corrida desmedida para um remédio cujos resultados não são tão excelentes. Mas é uma grande expectativa. Muito provavelmente essa droga, ela ou outras que virão, em combinação com outras que estão em andamento, a gente vai poder ter, daqui a pouco sim, um tratamento efetivo para a doença”.
Impacto do consumo da carne vermelha
A doença é mais comum em pessoas obesas e diabéticas, mas a genética também é recorrente. Para avaliar esse fator, foi feito um estudo, em parceria com as universidades do Estado de São Paulo (USP) e de Haifa, em Israel.
O objetivo era medir o impacto do consumo da carne de gado em pessoas que tenham predisposição para a gordura no fígado. Uma herança genética “dupla”, de pai e de mãe, chamada de polimorfismo. O resultado traz um alerta.
“Se na família dela houve história de doença hepática, esse risco aumenta, porque há uma tendência genética também para as doenças hepáticas. Aqueles que têm um fator genético e que consomem mais carne vermelha, carne de boi, essa pessoa tem um risco de ter uma evolução maior. Isso para o Rio Grande do Sul não é uma boa notícia” afirma o médico.
Ele compara o caso à quando uma pessoa tem cirrose mesmo sem um histórico de consumo de bebidas alcoólicas.
“Muitas vezes aquela questão de que uma mãe, um pai, um irmão faleceu ou teve uma cirrose e nunca bebeu, e as pessoas ficam, ‘mas por que ele teve isso, ele nunca bebeu?’ Pode ser isso, esse determinismo genético”, afirma.
A pesquisa acompanhou 511 pessoas, das quais 298 pacientes do Rio Grande do Sul e 213 de Israel.
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