Há cerca de um mês, a ONG World Central Kitchen, que atua em desastre ambientais, auxilia na alimentação de moradores da capital. Porto Alegre soma 160,2 mil pessoas afetadas. Cozinha solidária produz mais de 20 mil refeições por dia
VO
Duas entidades se uniram em Porto Alegre, há um mês, para distribuir marmitas a atingidos pelas enchentes. A ONG internacional World Central Kitchen (WCK), que hoje atua na Faixa de Gaza e na Ucrânia, trabalha com o Instituto FeedMe, formado no Rio Grande do Sul em maio deste ano com o mesmo propósito. Juntas, as organizações produzem mais de 20 mil refeições diárias.
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Somente na capital, 160,2 mil pessoas foram afetadas pelos temporais e pelas cheias, que deixaram 176 mortos no Rio Grande do Sul. Cerca de 40 mil edificações foram atingidas no município; entre elas, mais de 300 escolas e 22 hospitais.
A união das organizações se deu em um momento em que o voluntariado perdeu força no estado, com o retorno das pessoas à rotina. A partir disso, 35 pessoas de todo o Rio Grande do Sul foram remuneradas para realizar o serviço de atendimento à população.
Cerca de 40 pessoas trabalham em uma cozinha solidária, que inclui 30 fogões, 30 panelas e milhares de quilogramas de alimentos. Mesmo global, a proposta busca preservar o gosto da cultura local. A iniciativa das entidades é colocada em prática com equipes presentes em bairros atingidos.
“[Chefes brasileiros] me contaram da feijoada, do carreteiro, da carne de panela. Disseram que todos caberiam em uma marmita. Aí sentei com eles para decidir as receitas e adaptar ao jeito que vocês [brasileiros] comem”, revela Ale Chocano, cozinheira da WCK.
O maior desafio, de acordo com a WCK, é a dificuldade de deslocamento, com estradas fechadas. Esse mesmo problema também atrapalha a chegada de pessoas atingidas para se alimentar.
Cozinha prepara mais de 20 mil marmitas todos os dias
Reprodução/RBS TV
Mapeamento e organização
As refeições são entregues após as equipes mapearem áreas afetadas e conversarem com lideranças comunitárias. A partir desse contato é possível compreender o perímetro e entender quantas pessoas precisam de ajuda.
O chefe responsável pela cozinha, Icaro Conceição, revela que os voluntários que atuam no local realizam um revezamento para atuar em todas as frentes, tanto na produção quanto na distribuição dos alimentos.
“Dois cozinheiros por dia vão nos abrigos servir as marmitas para ter uma noção do que está acontecendo, para ter toda a parte do serviço lá fora”, revela o chefe.
O espírito de solidariedade também é reconhecido por estrangeiros, que vieram ao estado pela primeira vez.
“Os brasileiros são mesmo incríveis quando se trata de ajudar os outros. Eles se unem e ajudam a comunidade e também pessoas fora da comunidade. Eu estou realmente impressionada, não apenas com a comunidade que eu vi aqui, mas também com o time que nós construímos”, afirma Trish Engel, responsável pelo mapeamento de comunidades da WCK.
Marmitas buscam preservar gosto local dos moradores
Reprodução/RBS TV
Números da tragédia no RS
As enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul entre o fim de abril e o início de maio deixaram 176 mortos. Ao todo, 806 pessoas ficaram feridas e 39 seguem desaparecidas, de acordo com o mais recente boletim da Defesa Civil, divulgado na sexta-feira (14).
O desastre ainda mantém 433,5 mil pessoas fora de casa – 10,7 mil em abrigos e 422,7 mil desalojadas (em casa de amigos e parentes).
Dos 497 municípios que compõem o estado, 478 registraram transtornos relacionados às cheias e aos temporais, afetando mais de 2,3 milhões de pessoas.
Cachoeirinha, na Região Metropolitana de Porto Alegre, foi inundada pela enchente
Coletivo Mato do Julho
Movimento ‘Pra cima, Rio Grande’
‘Pra cima, Rio Grande’ é um movimento do Grupo RBS que busca reafirmar o compromisso com o estado neste momento de dificuldade, levado a cabo pelas enchentes e pelos temporais. A iniciativa estimula a força de ações empreendidas pela sociedade civil, pelo poder público e por empresas, garantindo ampla visibilidade para propostas como as vistas na reportagem, que reforçam o debate público sobre o tema e auxiliam a população gaúcha.
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