Polícia indicia empresa por mortes de animais após inundação de lojas durante enchente em Porto Alegre


Número de animais mortos identificados ao longo da investigação chegou a 175 nas unidades da Cobasi no Shopping Praia de Belas e na Avenida Brasil, no bairro São Geraldo. Animais morrem dentro de loja alagada em shopping e também em unidade no bairro São Geraldo
Montagem sobre fotos de Kathlyn Moreira/Grupo RBS e Divulgação/Cobasi
A Polícia Civil indiciou por crime ambiental a empresa Cobasi, proprietária de duas lojas onde animais à venda morreram após inundações durante a enchente que atingiu Porto Alegre em maio. Sete funcionárias das unidades também foram responsabilizadas, incluindo uma gerente regional e uma responsável técnica pelos animais.
Os inquéritos descrevem os crimes de “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”, com pena aumentada porque os animais morreram.
Somados, o número de bichos mortos identificados pela polícia chega a 175. São roedores, aves e peixes.
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As lojas ficam no shopping Praia de Belas, na Região Central da cidade, e na Avenida Brasil, no bairro São Geraldo.
“Importante salientar que duas unidades fazem parte da mesma rede nacional, com faturamento bilionário anual, e mesmo assim não realizaram qualquer atitude para retirar os animais antes da enchente, ou ainda, para resgatá-los quando a água já acessava as lojas. Foi necessário que terceiros, resgatistas, tomassem conhecimento dos fatos para que alguma ação fosse tomada”, disse a delegada Samieh Saleh, responsável pela investigação.
A delegada Samieh justifica a responsabilização dos funcionários dizendo que “durante a investigação, foi constatado que a omissão por parte dos responsáveis pela empresa resultou não somente em sofrimento aos animais, mas também na morte de diversos deles, incluindo aves, peixes e roedores”.
O g1 procurou a assessoria da Cobasi, mas não obteve retorno até a atualização mais recente desta reportagem. No dia 31 de maio, a companhia disse que “foi surpreendida e vem suportando as consequências de uma tragédia natural” e que precisou abandonar os espaços urgentemente, com a certeza de “que todos os animais foram colocados em altura razoável em relação ao piso”.
Animais mortos são retirados de loja alagada em shopping de Porto Alegre
Relembre os casos
Avenida Assis Brasil
No dia 11 de maio, voluntários entraram na loja localizada na Avenida Assis Brasil, no bairro São Geraldo, após uma denúncia de que lá estariam sendo mantidos animais desde o início da inundação.
Animais foram resgatados e entregues às responsáveis pela loja, que remanejaram eles para outra unidade. Entretanto, houve animais que morreram após vários dias isolados.
De acordo com a delegada Samieh, as gerentes indiciadas relatam à polícia que deixaram comida e água em maior quantidade para os animais, pois acreditavam que a situação não levaria muito tempo.
“Entretanto, após o alagamento da região, o que inviabilizou o acesso à loja, os animais ficaram diversos dias sem comida, água e luz”, diz Samieh.
Shopping Praia de Belas
A Cobasi divulgou uma nota em 17 de maio afirmando que uma unidade localizada no subsolo do shopping “teve de ser deixada de forma emergencial, seguindo as orientações das autoridades locais”, por força das cheias e dos temporais que, até esta quarta-feira, deixaram 175 mortos no RS.
A empresa afirmou que uniu esforços para que os animais estivessem em uma altura segura e pudessem ser resgatados com o retorno dos funcionários, mas “a tragédia foi sem precedentes” e houve “a perda das vidas dos animais que estavam no local”.
Após a divulgação do documento, o Praia de Belas Shopping disse que a unidade foi avisada do “risco de alagamento severo”. O centro comercial também afirmou que “ofereceu toda assistência necessária para o acesso ao local”.
Com a repercussão, a Delegacia do Meio Ambiente realizou uma vistoria na unidade em 19 de maio, juntamente com o Corpo de Bombeiros e com a Organização Não Governamental (ONG) Princípio Animal, a partir de uma autorização da Justiça.
O objetivo era localizar animais que pudessem estar vivos e fotografar o espaço. Segundo Cícera Silva, advogada da ONG, não foi possível encontrar animais, pois o local estava inundado e sem luz.
No dia 23 de maio, após a água baixar na Capital, a Polícia Civil conduziu uma vistoria na loja do shopping, de onde foram retirados 38 animais mortos. A investigação também identificou que equipamentos de informática usados no subsolo foram levados ao mezanino, área que não alagou, para não estragar.
“Eles foram retirados como precaução e levados ao mezanino, tendo ficado intactos. Esses materiais, CPUs, ficaram intactos no andar de cima. O que denota que a loja teve uma preocupação em subir esses objetos”, afirmou a delegada Samieh Saleh na ocasião.
Ação judicial
No dia 31 de maio, a Defensoria Pública do Estado (DPE) do Rio Grande do Sul entrou com uma ação indenizatória na Justiça de R$ 50 milhões. Além da indenização, o órgão defendeu que a loja seja proibida de vender animais e solicitou que não sejam usadas gaiolas fixadas em locais que possam ter risco de inundação.
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