Um peixe de aparência incomum chamou a atenção de banhistas que caminhavam pela praia do Boqueirão, em Santos, litoral de São Paulo. Ao avistar de longe o que pensou ser um chifre na cabeça do animal, a professora de Inglês Hiasmyn Pareja, de 34 anos, resolveu chegar mais perto para conferir e descobriu que, além de “chifrudo”, ele era “dentuço”. O animal tinha dentes bem grandes, projetados para fora da boca.
“Eu estava na praia curtindo o sol com a minha filha e a minha tia quando avistei esse peixe, já morto. Dava para ver que ele tinha um chifre grande na cabeça, foi o que me chamou a atenção. A maré estava alta e havia muito lixo na areia em volta dele, mas ele se destacava em meio aos detritos”, contou Hiasmyn, ao UOL.
Curiosa, ela conta que se aproximou do animal na companhia da filha, Arya, de 7 anos. Ela conta que, apesar de curiosa, a menina não quis se aproximar do peixe por conta de sua aparência esquisita. “Ao ver que ele tinha dentes grandes, ela se afastou ainda mais”.
“O peixe não estava inteiro, tinha só a cabeça. E já estava com moscas em volta, em decomposição. Tirei uma foto dele e corri para mostrar para a minha tia, que tem 80 anos, e estava tomando sol na cadeira. Como ela tem mais idade, pensei que talvez pudesse reconhecer, mas ela também não sabia do que se tratava”.
Hiasmyn conta que voltou ao local onde estava a criatura e fotografou o seu “sorriso dentuço”, de forma a que pudessem identificar o animal. “Se minha filha não estivesse com medo, eu teria dissecado o peixe ali mesmo, ver como era por dentro. Sempre fui muito curiosa, a Natureza cria seres incríveis”, disse a professora.
Criatura estranha, mas comum no prato dos brasileiros
Apesar do aspecto estranho do peixe encontrado pela professora, o biólogo marinho Marcio Hidekazu Ohkawara afirmou ao UOL que ele pertence a uma espécie muito comum no litoral brasileiro. Trata-se de um exemplar da espécie Balistes capriscus, conhecido como peixe-porco ou porquinho.
Comum no prato dos brasileiros, ele pode pesar até 2 kg e é um peixe muito conhecido por seguir ou perseguir mergulhadores. Muitas vezes apresentam um comportamento agressivo, mordendo tudo o que aparece à sua frente.
Os porquinhos costumam abocanhar tudo que vem pela frente e que eles consideram como alimento. Me lembro de quando era pequeno, quando meu pai e meus tios falavam que quando surgia um cardume de porquinho a gente podia pescar com casca de laranja, bituca de cigarro, que eles mordiam. Marcio Hidekazu Ohkawara, biólogo marinho
Com tamanho médio de 40 cm, mas podendo chegar a 60 cm de comprimento, o porquinho possui pele rígida e acinzentada e as suas escamas formam um padrão com tons azulados. Eles possuem uma boca pequena, com olhos também pequenos, distantes da boca, em cujos dentes são proeminentes. O “chifre” identificado pela professora chama-se aleta dorsal e é, na verdade, um dos três espinhos que ele possui no dorso.
“Os porquinhos possuem essas aletas como defesa contra predadores”, explica o biólogo. “Os espinhos, principalmente esse maior, que parece um chifre, impedem que eles sejam engolidos por peixes maiores”.
Exemplares dessa espécie possuem dentes grandes e fortes para que possam perfurar a carapaça dura de certas presas, como crustáceos, mariscos e ostras. Esse peixe se diferencia também por possuir um elevado nível de proteína A quantidade total de aminoácidos atinge até 18,52 g por 100 g de produto, com a leucina e a lisina predominantes entre os aminoácidos indispensáveis para o consumo humano.
Por conta disso, no Brasil, a espécie foi alvo de captura intensiva pela pesca industrial ao longo de 20 anos e ainda é, atualmente, uma das espécies mais capturadas pela pesca comercial. Por esse motivo, ela é considerada vulnerável pela IUCN Red List, ou seja, a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais.
O uso intensivo de redes de arrasto é uma das principais teorias para a sua sobre-exploração, com cerca de 46% das capturas envolvendo peixes muito jovens, o que acaba dificultando a recuperação dos estoques. Segundo informa a IUCN, há registros de declínio acentuado da espécie em São Paulo, Rio Grande do Sul e Espírito Santo.
“Provavelmente essa cabeça de peixe encontrada pela professora em Santos é resultante de ação de pesca”, afirma o biólogo. “Dá para notar que o corte é reto, feito por faca. Com certeza, ele foi pescado, cortado para aproveitamento do filé, e a cabeça foi descartada na sequência no mar”.
Criatura parecida com cobra em Ilha Comprida
O surgimento de animais exóticos nas praias do litoral paulista acontece com certa frequência. Na semana passada, um animal marinho de quase dois metros, com aparência de uma cobra, foi encontrado morto na faixa de areia da Praia da Trincheira, no extremo sul de Ilha Comprida, em São Paulo. A imagem foi compartilhada pela fotógrafa Monica Novaes nas redes sociais e intrigou seguidores.
O biólogo e ambientalista David Victor confirmou ao UOL que a foto retrata uma moreia, animal que integra a família de peixes ósseos. Uma das principais características desses animais é o corpo longo e cilíndrico, similar ao de uma serpente.