O Fantástico percorreu os municípios mais afetados pela chuva e mostra a importância de decisões rápidas para evitar que o lixo se acumule e prolifere doenças na população. O trabalho para remover o entulho de bairros inteiros na busca por um recomeço no RS
Quando a chuva termina e o nível das águas baixa, aparece um outro efeito da tragédia no Rio Grande do Sul: é preciso retirar toneladas e toneladas de detritos. O que se vê são restos de móveis, utensílios ou mesmo casas inteiras. Vai tudo embora, levando junto lembranças preciosas.
O Fantástico deste domingo (2) mostra o desafio de administrar essa quantidade monumental de resíduos. Segundo a pesquisa, a quantidade de lixo gerada na cheia que atingiu o Rio Grande do Sul é maior do que foi gerada na guerra na Faixa de Gaza.
“A gente chegou em 47 milhões de toneladas de resíduos”, diz Guilherme Iablonovski, pesquisador de soluções para o desenvolvimento sustentável da ONU.
Essa conta vem do estudo feito por pesquisadores da Universidade do Rio Grande do Sul e da ONU Meio Ambiente, mas ainda é preliminar. A previsão é de que a quantidade seja ainda maior.
A cheia do Rio Grande do Sul gerou ao menos 47 milhões de toneladas de detritos.
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Muitas áreas do Rio Grande do Sul permanecem alagadas. Onde já secou, as casas agora convivem com montanhas daquilo que não dá mais para aproveitar.
“É a nossa casa, né? O que restou da nossa casa. Isso é herança do nosso pai. Ele deixou para mim e para o meu irmão”, diz Jesoaldo Machado Soares.
O irmão Jeverson diz que a casa foi dividida entre os dois e as duas famílias moravam lá.
“A gente seguiu aqui, com água que passou de um metro. Tinha uma escada aqui. Eu subi com a esposa, dois filhos e dois cachorros. Um com 50 quilos e o outro no colo. Levei dois colchões, pão e água. Ficamos 7 horas ali em cima. É horrível”, recorda Jesoaldo.
O desafio do lixo
Na cidade de Canoas (RS), 70 mil residências foram afetadas. São 120 caminhões e 40 retroescavadeiras trabalhando diariamente na remoção do entulho, mas é um processo lento.
“A gente está se deparando com praticamente a casa inteira na calçada. Camas, colchões, o guarda-roupas, mesas. Praticamente todos os objetos”, diz o secretário municipal de Serviços Urbanos de Canoas, Lucas Lacerda.
Pelas contas da prefeitura, em média o que sai de uma única casa enche um caminhão. Até agora, foram quase 4 mil viagens para uma área que só não está cheia porque ela serve como ponto de transferência para um aterro em Gravataí, a 30 quilômetros de distância.
O desafio do lixo está presente nas cidades atingidas pelas cheias no Rio Grande do Sul.
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Outro aterro sanitário em Gravataí recebe os resíduos que chegam de Porto Alegre. Na capital gaúcha, existem três áreas que servem para receber os caminhões de lixo enquanto 800 garis atuam nas ruas.
“Antes, a gente trabalhava de segunda a sábado. Agora, estamos de segunda a segunda, tocando direto. Está corrido, mas vai fazer o que? Tem que ajudar, não adianta”, diz o coletor de lixo Alexsandro Dias Capela Júnior, 21 anos.
Enquanto trabalha nas ruas recolhendo o lixo, a mulher de Alecsandro, a manicure Gabriela Rosa dos Santos, grávida de 5 meses, é quem limpa a casa. No dia em que a enchente chegou, a preocupação era salvar o que fosse possível do enxoval do bebê.
Gabriela Rosa dos Santos, grávida de 5 meses, teve a casa invadida pela água em Porto Alegre.
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“Eu consegui tirar dele o bebezinho-conforto, que foi onde eu botei as coisinhas dentro. Um pacotinho de fralda e meia dúzia de roupinha”, conta.
Atualmente, o casal vive com a mãe de Alexsandro. A casa dele e outras da rua continuam sem luz e é nessa condição que o casal pensa no futuro que pretendem dar ao filho.
“Acho que eu vou embora, infelizmente. Todos os anos têm enchente e, como dizem, que a enchente vai ser pior que a outra agora. Eu tenho medo de que dá próxima vez eu não tenha uma casa para voltar”, desabafa Gabriela.
Criação de novas áreas de descarte
A situação não é muito diferente no Vale do Taquari. Por lá, milhares de pessoas perderam as casas e só encontraram entulhos deixados pela cheia.
Em Lajeado, um aterro municipal recebe cerca de 250 caminhões por dia da própria cidade, de Cruzeiro do Sul e de Santa Clara. O local tinha sido uma antiga minha de saibro e começou a operar no dia 6 de maio, quando as águas ainda não tinham baixado completamente.
“A cidade estava ilhada, sem energia elétrica. A gente tinha de ter uma decisão que pudesse causar menos impacto. E nisso que a gente pensou e que conseguiu demonstrar para o órgão ambiental e fazer essa ação”, explica o engenheiro responsável pelo aterro, Antônio Mallmann.
Novas áreas de descarte foram criadas para receber entulhos no Rio Grande do Sul.
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Em todo o estado, foram criados 46 pontos de descarte. São aterros próximos aos locais com detritos e que ajudam na velocidade da limpeza e na diminuição dos custos da operação.
Se a retirara demorar, existe o risco de proliferação de doenças e de novas chuvas levarem esses lixos para leitos dos rios.
“Nós optamos por uma nova alternativa: identificar locais potenciais para o recebimento desse material inerte. Uma coisa muito importante. Não misturar aquele resíduo comum, hospitalar eletrônico, com esse resíduo madeira, concreto da construção civil para que a gente possa dispor, segregar e reaproveitar no futuro pelo quantitativo”, fala a secretária de Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul, Marjorie Kauffmann.
De acordo com o engenheiro Philipe Andando, os móveis e madeiras são levados para o novo local. Em outro ponto, será colocada a lama.
Os resíduos inertes, aqueles provenientes da construção civil, deverão ser reciclados. E isso vem sendo analisado desde as cheias de 2023.
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