Estruturas provisórias reconectam caminhos afetados pelas cheias em Porto Alegre, Região Metropolitana e Sul do RS. Estado registra 169 mortos e 50 desaparecidos desde o início das enchentes. Trânsito no ‘corredor humanitário’ aberto na Zona Norte de Porto Alegre
Reprodução/TV Globo
Quase um mês depois do início dos temporais e cheias que deixaram 169 mortos e 50 pessoas desaparecidas até esta terça-feira (28) no RS, as águas do Guaíba começam a recuar em partes da capital Porto Alegre, onde estruturas provisórias vêm sendo montadas para permitir a circulação nas regiões atingidas. No Sul do estado, a Lagoa dos Patos também recuou, mas o cenário ainda preocupa.
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Em Porto Alegre, a prefeitura abriu nesta terça um terceiro “corredor humanitário”, permitindo a saída da cidade pela Zona Norte. Duas estruturas do tipo, montadas com pedras, já funcionavam na região central da capital.
Também na Zona Norte, foi liberado um acesso para o vão móvel na Ponte do Guaíba para quem segue em direção a Eldorado do Sul. A prefeitura, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a concessionária CCR ViaSul também abriram um retorno para que a capital possa ser acessada pela Avenida Sertórrio.
A redução do nível da cheia também permite que as pessoas voltem para suas casas ou locais de trabalho. Uma operação de limpeza começou no Mercado Público de Porto Alegre, que deve reabrir até o final de junho. Também em bairros da Zona Norte da capital, as bombas de água iniciaram a drenagem de áreas alagadas há 25 dias.
A Prefeitura de Porto Alegre enviou os primeiros dados de pessoas afetadas pela enchente para o pagamento dos R$ 5,1 mil do Auxílio Reconstrução. A capital havia ficado de fora da lista de cidades contempladas por não enviar o cadastro da população ao governo federal.
O governo do RS também anunciou mudanças na cota de inundação do Guaíba, referência para as inundações na capital (entenda os detalhes na reportagem).
Na Região Metropolitana, a Trensurb marcou para quinta-feira (30) a operação emergencial dos trens urbanos. Segundo a direção da estatal, três estações em Porto Alegre tiveram “perda total” após as cheias.
No Sul do estado, o transporte de lanchas deve ser retomado entre Rio Grande e São José do Norte na quarta (29). A travessia está suspensa há mais de duas semanas por conta da cheia da Lagoa dos Patos. Passarelas provisórias foram montadas para que os passageiros possam ingressar nas embarcações.
Confira, nesta reportagem, um resumo do que ocorreu durante o dia no Rio Grande do Sul.
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‘Corredor humanitário’ e acesso a ponte
O Guaíba chegou a 3,78 metros nesta terça. Esse nível agora deve ser tomado com uma nova referência de cota de inundação. O Governo do RS alterou a cota de 3,00 para 3,60 metros.
A antiga medição era observada no Cais Mauá. No entanto, a régua no local foi desativada após a enchente e uma régua emergencial foi instalada na Usina do Gasômetro, mais ao sul. Como o local apresenta características diferentes, a medida para que o lago inunde a cidade aumentou 60 centímetros.
A Prefeitura de Porto Alegre concluiu as obras e liberou o trânsito em um novo “corredor humanitário” localizado na Zona Norte. A via está na Avenida Assis Brasil, entre a sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) e a BR-290, a Freeway.
A orientação da prefeitura é de que o “uso do caminho é preferencial para veículos de emergência, mas poderá ser utilizado por carros de passeio”. Por esse caminho, os automóveis só poderão sair da cidade.
O primeiro “corredor humanitário” foi construído liberado em 10 de maio, entre a Rua da Conceição e a Avenida Castelo Branco, ao lado da Rodoviária de Porto Alegre, que está parcialmente alagada. No dia 21 de maio, um segundo corredor foi construído junto ao mesmo local. A rota ampliada para saída da capital foi feita via Largo Vespasiano Júlio Veppo, que fica na entrada principal da rodoviária.
Trânsito em ‘corredor humanitário’ aberto na Zona Norte de Porto Alegre
Reprodução/TV Globo
Nas imediações da antiga Ponte do Guaíba, foi liberado mais um acesso emergencial a Porto Alegre. Quem trafega pela BR-290, a Freeway, pode ingressar no vão móvel para seguir a Eldorado do Sul e o interior do estado.
Além disso, as equipes de trânsito abriram um retorno para quem pretende ingressar na Zona Norte da capital pela Avenida Sertório. Essa via permite o acesso à Terceira Perimetral, que atravessa Porto Alegre de norte a sul.
Parque Marinha do Brasil, em primeiro plano, e Centro Histórico de Porto Alegre, acima na imagem
Reprodução/TV Globo
Situação na Capital
O Mercado Público começou a passar por um processo de limpeza, no Centro Histórico. Os trabalhos devem durar, no mínimo, 10 dias. O prédio erguido em 1869 ficou alagado. Uma empresa vai custear a limpeza no local.
“Hoje, felizmente, não tem mais água. A gente já está se sentindo mais animado. A ansiedade nossa em poder voltar é muito grande”, diz Valdir Sauer, dono de um comércio no Mercado Público.
Limpeza do Mercado Público de Porto Alegre é retomada
O impacto da enchente divide Porto Alegre em duas: nas zonas Central e Sul, a água baixou e a população já voltou ou está por voltar para casa. Já na Zona Norte, a inundação persiste, com imóveis debaixo d’água e pessoas fora de casa já há 25 dias.
A bomba emprestada pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) passou a funcionar, drenando a água que ainda alaga a região. Algumas ruas começaram a ficar secas. Isso permitiu que moradores pudessem limpar suas casas.
Conforme dados da prefeitura, dois dos bairros mais afetados ao Norte da Capital, o Humaitá e o Farrapos, somam 30 mil habitantes e mais de 3,5 mil empresas, nas imediações da Arena do Grêmio. Além disso, o bairro Sarandi tem 26 mil moradores afetados pelas enchentes.
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Moradores limpam ruas e casas no bairro Humaitá, em Porto Alegre
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Já a Região das Ilhas foi tomada por areia. Segundo o professor Maurício Andrades Paixão, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS, a areia é resultado da erosão do solo pela água.
“Quando a gente tem grandes eventos de precipitação [chuva], a gente acaba tirando as partículas do solo, que são levadas pelos rios. Então é comum ter esse alto sedimento, ele se deposita”, explica.
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Também nesta terça, a Prefeitura de Porto Alegre deu início ao envio do primeiro lote de dados para o pagamento do Auxílio Reconstrução do governo federal. O benefício começou a ser pago na segunda (27), mas os moradores da capital não receberam pois a prefeitura não havia encaminhado as confirmações dos dados das famílias.
Até as 10h de terça, a prefeitura encaminhou informações de 24.516 famílias, com prioridade para aquelas que estão desabrigadas ou desalojadas devido às recentes inundações. A família habilitada para o benefício Auxílio Reconstrução receberá um pagamento de R$ 5,1 mil, que deve ser pago em parcela única via PIX.
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Trens na Região Metropolitana
A Empresa de Trens Urbanos (Trensurb) projeta iniciar a operação emergencial na quinta-feira. Os trens da companhia estão parados desde 3 de maio, em razão dos temporais e cheias.
Funcionários da estatal trabalham na manutenção de uma subestação de energia. Ainda não há detalhes de como vai funcionar a circulação dos trens, que ligam Porto Alegre a Novo Hamburgo, em uma linha de 43,8 km de extensão.
O g1 mostrou que três estações de trêm tiveram “perda total” após as cheias na capital. No sábado (25), o o diretor-presidente da Trensurb, Fernando Stephan Marroni, disse que a ideia da empresa era atender 30 mil passageiros de atividades essenciais em viagens entre Novo Hamburgo e São Leopoldo e entre Canoas e São Leopoldo.
Veja antes e depois de bairro alagado em Canoas
Escadas rolantes que dão acesso à Estação Mercado, do Trensurb, em Porto Alegre
Reprodução/RBS TV
Travessia na Lagoa dos Patos
Deve ser retomado na quarta o transporte de passageiros em lanchas, entre Rio Grande e São José do Norte, no Sul do RS. A travessia está suspensa há mais de duas semanas, em razão da cheia na Lagoa dos Patos.
Para permitir o acesso dos passageiros às embarcações, passarelas foram montadas em um pier de Rio Grande. Acessos provisórios também foram erguidos em São José do Norte, do outro lado da Lagoa dos Patos.
A Metroplan analisa os pontos de atracação nos dois municípios e as condições climáticas para liberar as viagens.
Passarela provisória montada para acesso a lanchas em Rio Grande
Reprodução/RBS TV
Em Pelotas, a Lagoa dos Patos media 2,45 metros na tarde desta terça. Durante a manhã, o nível era de 2,32 metros na cidade. Já o Canal São Gonçalo, que liga as lagoas Mirim e dos Patos, baixou de 3,04 metros para 2,95 durante o dia.
A medição do governo do estado em São Lourenço do Sul indica que a Lagoa dos Patos está em 2,49 – acima da cota de inundação, de 1,30 metro.
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