Município soma 24 mortes, e é a cidade com maior quantidade de vítimas do desastre que matou 163 pessoas no RS. Canoas também acolhe mais de mil animais em abrigo. Cem mil pessoas ainda estão fora de casa em Canoas
Das 163 mortes em razão dos temporais e cheias no Rio Grande do Sul, 24 ocorreram em Canoas, cidade vizinha a Porto Alegre. O terceiro maior município do estado, com 347 mil habitantes, soma mais de 100 mil pessoas fora de casa – população que voltou a sofrer com a chuva dos últimos dias.
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A aposentada Ana Maria Giordani teve a residência atingida pela cheia e ficou duas semanas em um abrigo. A moradora de Canoas conseguiu voltar para casa. No entanto, foram só seis dias de tranquilidade, até uma nova chuva.
“Eu nem terminei de limpar e já tem que limpar de novo. O chão eu não limpei, aquele barro, aquela coisa… ela já secou. Agora, com um monte de água, vai lavar tudo de novo”, diz.
Moradores caminham em rua alagada de Canoas
Reprodução/RBS TV
No bairro Niterói, próximo ao Rio Gravataí, a água já havia baixado. Mas a chuva de quinta-feira (23) e o sistema de drenagem comprometido causaram outra inundação. Um novo golpe em quem tentava se reerguer.
“Vai vir mais chuva ainda gente. O inverno tá vindo. Como é que a gente vai viver com essa chuvarada. Tem que dar um jeito nessas bombas”, desabafa Lisiane Machado Azeredo, assistente de departamento pessoal.
Na sexta (24), moradores bloquearam a BR-116, pedindo agilidade no bombeamento da água acumulada nos bairros. O superintendente de Infraestrutura do município alega que o sistema está prejudicado pelo nível dos rios.
“A eficiência do bombeamento na situação que a gente tá, de cheia do Rio Gravataí, que é para onde essas bombas jogam água, ela não é a mesma de quando o rio está em uma situação de cota normal. Ela encontra uma barreira, que é o rio cheio do outro lado, e então elas perdem a vazão nominal que é de 2,5 mil litros por segundo”, argumenta Guilherme Molin.
Moradores protestam em Canoas
Reprodução/RBS TV
Enquanto em outros bairros a água da chuva causa problemas, no bairro Rio Branco, próximo ao Rio Jacuí, o trabalho das bombas fez com que a parte mais alta já secasse. Pela primeira vez em 20 dias, moradores conseguiram acessar suas casas para calcular o prejuízo deixado pela água.
“Sobrou as camas, a TV, na parte de cima. E a gente tá levando”, comenta o motorista André Silvano, que espera retornar para casa em até três meses.
Mesmo com o trabalho das bombas, a prefeitura estima que a água baixe totalmente em bairros como Rio Branco, Mathias Velho e Harmonia, na zona oeste da cidade, só no final da próxima semana – se não voltar a chover.
“Minha mãe já tá numa agonia. É uma pessoa que tem 84 anos. Ela já não aguenta mais essa incerteza de ter lar ou de não ter”, lamenta Jocelito Macedo, motorista de aplicativo.
Além dos 163 mortos, há 63 pessoas desaparecidas no estado. Outras quatro pessoas morreram por leptospirose após contato com a água suja e contaminada das enchentes. As chuvas e enchentes também deixaram 806 feridos e 645 mil pessoas fora de casa.
Bombeamento de água acumulada em Canoas
Reprodução/RBS TV
Abrigos para cães
Proteção aos animais
Em Canoas, a preocupação também é com o aumento de doenças transmitidas pelos animais. A prefeitura monta uma força-tarefa para ajudar nos atendimentos aos bichos resgatados.
Um abrigo na Secretaria do Bem-Estar Animal acolhe 1,2 mil cães. A construção de novas baias nos pavilhões não para. O reforço ganhou ajuda do Grupo de Resposta a Animais em Resgate (Gras Brasil) e do Instituto Caramelo, uma ONG de proteção sem fins lucrativos.
Cão abrigado em Canoas
Reprodução/RBS TV
Muitos animais são resgatados de áreas contaminadas e chegam doentes aos abrigos. No caso de Canoas, eles são transferidos para áreas de isolamento, para evitar que a infecção se espalhe para outros bichos e também para os humanos.
“Eles aparecem normalmente com a mucosa bem amarelada, que a gente fala icterícia; têm um olhar meio brilhoso; urina, coloração bem escura. Mas a gente não tem como acertar que é leptospirose. Então, a gente faz o exame, deixa no isolamento”, explica o veterinário Filipe Rosetti.
O desafio é imunizar os animais que ainda não foram contaminados. Mais de 70% receberam a vacina polivalente, que protege contra uma série de doenças.
Vacina aplicada por veterinários em animais abrigados em Canoas
Reprodução/RBS TV
Os gatos, mais difíceis de serem resgatados durante as enchentes, também ganharam um espaço. Eles estão em outra área, restrita apenas aos funcionários.
“Estão chegando alguns gatos que têm a doença esporotricose, que é um fungo. Não é do gato, é um fungo que tem no solo, tem em casca de árvores. Então, acontece muito nos gatos, porque eles têm a mania de arranhar, de tapar suas fezes”, comenta o veterinário.
A Prefeitura de Canoas espera contratar nos próximos dias pelo menos 60 tratadores e veterinários para atuar nos abrigos geridos por voluntários.
“Muitos abrigos precisaram ser formados na cidade para dar conta de acolher esses animais que chegaram resgatados em situações, alguns deles, em situações já de hipotermia, algumas doenças, fraturas”, afirma a secretária do Bem-Estar Animal, Fabiane Tomazi Borba.
Todos os animais saudáveis estão disponíveis para quem puder garantir um lar temporário e, no futuro, também para adoção, caso os tutores não sejam encontrados.
Veterinários trabalham em abrigo de Canoas
Reprodução/RBS TV
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