Nível do Lago Guaíba chegou a 4,92 metros na tarde desta quarta-feira (22). Lagoa dos Patos voltou a baixar, no Sul do estado. RS soma 161 mortes e 82 pessoas desaparecidas. Protesto de moradores do bairro Humaitá, em Porto Alegre
Reprodução/TV Globo
O Guaíba ficou abaixo dos 4 metros, nesta quarta-feira (22). Foram 19 dias – quase três semanas – em que o nível do lago permaneceu em índices nunca antes registrados em Porto Alegre.
Mesmo com a baixa, no bairro Menino Deus algumas ruas voltaram a alagar durante a tarde. Ainda assim, o recuo das águas permitiu a liberação de avenidas que antes estavam alagadas na capital. A cidade ainda tem 55 vias bloqueadas por causa dos temporais. Ao mesmo tempo, quem depende do transporte público enfrenta problemas para se locomover.
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No bairro Humaitá, um dos mais atingidos e ainda alagado, ministros acompanharam o prefeito Sebastião Melo (MDB) para dialogar com moradores que bloquearam a BR-290, a Freeway, em um protesto que ocorreu por volta das 16h.
Parte da água retornou ao bairro Menino Deus pelo bueiro
Kizzy Abreu/Agência RBS
E enquanto as ruas da capital estão tomadas de lixo e entulho, quem sobrevive da reciclagem de resíduos está sem fonte de renda, com a inundação de cooperativas.
No Sul do estado, a volta da chuva preocupa a região da Lagoa dos Patos, que voltou a baixar seu nível em São Lourenço do Sul, alcançando 2,59 metros. O máximo registrado na cidade foi o índice de 2,90 metros, no dia 19 de maio.
A Secretaria da Saúde do RS confirmou duas mortes e 29 diagnósticos de leptospirose no período das enchentes que atingem o estado. Os casos foram confirmados após análise do Laboratório Central do Estado (Lacen), a partir da notificações enviadas pelos municípios.
O Rio Grande do Sul não registrou novas mortes em razão dos temporais e cheias nas últimas 24 horas. Desde o final de maio, o estado soma 161 vítimas e 82 pessoas desaparecidas. São 467 municípios afetados, do total de 497 cidades no RS.
O governo do estado anunciou R$ 78 milhões em ajuda direta aos municípios. Esse dinheiro vai ser usado em ações como compra de material e obras de pequeno porte. Outros R$ 90 milhões vão ser destinados a aluguel social, moradia solidária e contratação de maquinário.
Confira, nesta reportagem, um resumo do dia no estado.
Guaíba abaixo de 4 metros
Os porto-alegrenses esperaram 19 dias para que o Guaíba ficasse abaixo dos 4 metros. Com as cheias das últimas semanas, o nível chegou a ultrapassar os 5 metros.
Com 3,92 metros na tarde de quarta, o Guaíba ainda está acima da cota de inundação, de 3 metros. Cientistas do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) afirmam que o vento que sopra do sul, previsto para sexta (24), pode represar o lago e elevar o nível para perto dos 4 metros novamente.
“Chuvas durante a semana também poderão contribuir para prolongar a cheia acima de 3 metros em junho”, diz o boletim do IPH.
Protesto na Zona Norte
Um dos bairros mais atingidos pela enchente segue debaixo d’água em Porto Alegre. Moradores do Humaitá, na Zona Norte, protestaram pedindo agilidade nos trabalhos de bombeamento de água na região, que reúne cerca de 12 mil habitantes nas proximidades da Arena do Grêmio.
Uma estação de bombeamento de água segue inundada. Com isso, é necessário que o bairro seja atendido por um dos equipamentos emprestados pela Sabesp à Prefeitura de Porto Alegre.
Rua alagada no bairro Humaitá, em Porto Alegre
Reprodução/RBS TV
Os moradores chegaram a bloquear o trânsito na BR-290, a Freeway. A rodovia fica nas margens do Rio Jacuí e liga o interior do estado, pelas pontes do Guaíba, ao Centro Histórico e às regiões do Vale do Sinos, Serra e Litoral.
O prefeito Sebastião Melo (MDB) foi até o local, acompanhado do ministro-chefe da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do RS, Paulo Pimenta (PT), e do ministro do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes (PDT).
Moradores do bairro Humaitá, em Porto Alegre, bloqueiam BR-290 em protesto
Alessandro Castro
Ruas alagadas
Ruas do bairro Menino Deus, em Porto Alegre, voltaram a alagar na tarde, afetando moradores e o trânsito na região. A água transbordou em trechos das ruas Coronel André Belo, Barão do Gravataí, 17 de Junho e Avenida Praia de Belas.
O Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) disse que há explicações distintas para inundações em diferentes pontos do bairro.
O alagamento nas ruas Coronel André Belo, Barão de Gravataí e 17 de Junho estaria associado ao desligamento temporário da Estação de Bombeamento de Águas Pluviais (Ebap) 16. A desativação desta casa de bombas, localizada na Rótula das Cuias, deixou os bairros Menino Deus e Cidade Baixa alagados em 6 de maio.
O órgão afirmou em uma rede social que a ideia era colocar um motor adicional em operação, por meio da rede elétrica, e que a estação já estaria ligada novamente, permitindo que a água escoasse em direção ao Guaíba.
Já em um trecho da Avenida Praia de Belas, o motivo do alagamento, segundo o Dmae, é que a água teria como destino o Arroio Dilúvio, que estaria cheio. Assim, por ação da gravidade, a água retornaria às ruas pelo bueiro.
Trecho da Avenida Praia de Belas está alagado
Duda Fortes/Agência RBS
Situação de avenidas e transporte público
A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) registra 45 ruas e avenidas bloqueadas totalmente por causa do acúmulo de água e outras 10 com bloqueio parcial pelo mesmo motivo. Nas últimas semanas, 216 ocorrências do tipo foram solucionadas na capital.
O transporte público coletivo ainda está operando com redução de linhas de ônibus. A prefeitura afirma que os desvios de trânsito provocam atrasos, mas admite que há viagens levando o dobro do tempo normal. Das 13 mil viagens e mil ônibus em períodos normais, Porto Alegre conta atualmente com cerca de 10 mil viagens e 647 ônibus.
“Piorou bem mais. Já estava ruim, agora piorou. Chega a ser de hora em hora”, diz a aposentada Elza Terres.
Paradas de ônibus na capital seguem cheias e espera desagrada usuários
Muitos terminais de ônibus ficaram alagados. No bairro Praia de Belas, um ponto ainda está sendo limpo. No Centro Histórico, os terminais Parobé e Rui Barbosa estão fora de operação.
Um ponto de ônibus foi improvisado na Praça Dom Feliciano, em frente à Santa Casa, para atender as linhas da Zona Norte. Quem segue da Zona Leste ao Centro, o terminal provisório está na Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Já os veículos que paravam no Terminal Uruguai, perto da prefeitura, está improvisado na Avenida Loureiro da Silva.
“O nosso viário está colapsado. O que ocasiona, evidentemente, as viagens ficarem maiores. O que a gente está fazendo é reforço nos intervalos [entre as viagens]”, explica Adão de Castro Júnior, secretário de Mobilidade de Porto Alegre.
Garis limpam terminal de ônibus no bairro Praia de Belas, em Porto Alegre
Reprodução/RBS TV
Situação dos recicladores
Associações de recicladores de Porto Alegre estimam que 33% dos espaços de triagem na capital foram inundados durante as enchentes. Além disso, as cooperativas que não foram atingidas estão sem material para reciclar.
O que muita gente descartava e que sustentava famílias está em falta – seja porque foi estragado ou está contaminado. A sobrevivência é com doações ou auxílios.
“Vai ter que ir direto para o aterro sanitário. Não tem como. Está contaminado isso aí já, sabe? Não tem proveito mais. A gente precisa de ajuda”, pede Josué Moreira, presidente da Cooperativa Mãos Unidas, que funciona na Zona Norte.
Cooperativas de reciclagem também foram atingidas pela enchente
No local em que Moreira trabalhava, a água acumulada atingiu quase 2 metros. As máquinas usadas na triagem, que custavam até R$ 40 mil, estragaram. As cerca de 50 toneladas de materiais que seriam reciclados vão ter que voltar para o lixo. O resultado é falta de trabalho e, sem trabalho, os recicladores não vão ter salário para receber.
Essa é uma das 17 cooperativas com quem a prefeitura tem contrato assinado para receber do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) o que é jogado no lixo seco. A enchente causou estragos em seis dos locais.
A prefeitura promete ajuda à categoria.
“Existem políticas públicas, já de imediato, emergenciais para todos, mas os mais vulneráveis são o foco de nossa política e não parou ainda o aporte de capital que a prefeitura tem feito todos os meses aos 333 recicladores”, afirma Jorge Brasil, secretário municipal de Desenvolvimento Social.
Unidades de reciclagem sofrem prejuízos em meio às enchentes no RS
RBS TV/Reprodução
Leptospirose
Duas pessoas morreram e outras 29 tiveram diagnóstico positivo para leptospirose desde o início das cheias no RS, confirmou o governo do estado nesta quarta (22). Os casos foram confirmados após análise do Laboratório Central do Estado (Lacen), a partir da notificações enviadas pelos municípios.
Em Venâncio Aires, um homem de 33 anos morreu no dia 17 de maio, de acordo com a prefeitura. A identidade dele não foi revelada. Em Travesseiro, Eldo Gross, de 67 anos, morreu também em 17 de maio.
A leptospirose é uma doença endêmica, com circulação sistemática, como observa a Secretaria Estadual da Saúde. Os alagamentos, no entanto, aumentam a chance de infecção, e por isso a pasta alerta que a população procure um serviço de saúde logo nos primeiros sintomas: febre, dor de cabeça, fraqueza, dores no corpo, especialmente na panturrilha e calafrios.