Número considera hospitais, clínicas, postos de saúde e farmácias potencialmente atingidas em regiões inundadas. Desastre deixou 161 mortos e 2,3 milhões de pessoas afetadas. Hospital Pronto Socorro de Canoas alagado
Reprodução/TV Globo
As cheias que deixaram 161 mortos e afetaram mais de 2,3 milhões de pessoas no Rio Grande do Sul também impactaram o sistema de saúde. Um levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado nesta terça-feira (21) mostra que mais de 3 mil estabelecimentos de saúde foram potencialmente atingidos de alguma forma.
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O número considera hospitais, postos de saúde, farmácias e clínicas particulares. Em Porto Alegre, por exemplo, são 1.141 locais afetados.
“Precisamos entender qual é o nível de desassistência da população e como ficou a estrutura de atendimentos de saúde. É preciso pensar que há portadores de doenças crônicas, por exemplo, que precisam de atendimento contínuo, e com problemas de saúde que podem se agravar”, explica o pesquisador do Observatório de Clima e Saúde, Diego Xavier.
Estabelecimentos de saúde e áreas de inundação no RS
Observatório de Clima e Saúde/Fiocruz/Divulgação
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) calcula danos estruturais em 163 unidades básicas de saúde (UBSs), 9 hospitais, 3 pronto-socorros, 5 unidades de pronto atendimento (UPAs) e 14 farmácias.
“As necessidades mais urgentes ainda são aquelas que dizem respeito à ampliação do número de leitos para rede hospitalar”, diz a secretária Arita Bergmann.
Em Porto Alegre nesta terça (21), a ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou o repasse de mais de R$ 202 milhões para a reconstrução de estruturas destruídas e o custeio de hospitais e UBSs.
“Não só o desafio de reconstrução de todo o estado, mas é um desafio para o Brasil”, afirma a ministra.
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Hospital inundado
Uma das situações mais marcantes é vista em Canoas, onde o Hospital de Pronto-Socorro ficou alagado. O caso foi exibido no Jornal Nacional, da TV Globo. No dia 4 de maio, a água invadiu o hospital, surpreendendo o médico Álvaro Fernandes, diretor-técnico do centro de saúde.
“Começou a subir, invadindo a emergência, nosso pátio das ambulâncias, atingindo a própria sala vermelha e nesse momento começaram também, por causa da altura da água, todas as pessoas populares, transeuntes com suas famílias e seus animais entrando por aqui também, então fluindo para dentro do hospital”, relata.
O hospital é especializado em traumas e emergências e serve de referência para 102 municípios do Rio Grande do Sul. Cerca de 400 pessoas estavam no prédio naquele momento. Não há data para reabrir o hospital.
Ao todo, 26 estabelecimentos de saúde foram afetados em Canoas.
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Preocupação com a saúde
Municípios do Rio Grande do Sul já registraram duas mortes em razão da leptospirose, doença transmitida pela urina de ratos misturada com a água suja. Pesquisadores verificaram que a água das cheias tem a presença de coliformes fecais e da bactéria E. coli.
Além disso, há a preocupação com a saúde das pessoas que precisaram sair de casa e estão em abrigos. Em Novo Hamburgo, na Região Metropolitana de Porto Alegre, um pronto atendimento foi montado para atender 24 horas por dia em um pavilhão que recebe desabrigados.
“Fiz cateterismo em fevereiro, 12 de fevereiro. Tô aqui doente de novo. Tô com pontada. Fui bem atendida pelos médicos aqui, tomei soro, fiz o medicamento”, diz Antônia Maria Faccin, desabrigada de 59 anos.
A inundação levou remédios controlados e receitas, deixando um saldo de doenças que as equipes ainda tentam diagnosticar.
“Como as pessoas saíram de rompante de seus habitats, perderam receitas de diabetes, de de hipertensão, de depressão, de tudo. E o agravante das doenças infecciosas, que vieram juntas com as enchentes. Leptospirose, dengue”, fala o médico Gustavo Henrique da Rocha Lacerda.
Com as baixas temperaturas, aumentam os casos de doenças respiratórias. Os especialistas também ressaltam que, a longo prazo, após a redução do nível as águas, as pessoas afetadas podem enfrentar sofrimento mental e depressão.
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