Regiões mais pobres foram mais atingidas pelas cheias em Porto Alegre e região; veja mapas


Estudo do Observatório das Metrópoles mostra relação entre renda, cor e raça com as áreas inundadas na capital e cidades próximas. Desastre afetou 2,3 milhões de pessoas, deixando 157 mortos em todo o estado. Moradores atravessam área alagada na Região das Ilhas, em Porto Alegre
Reprodução/RBS TV
Os rios que transbordaram após as cheias na Região Metropolitana de Porto Alegre alcançaram regiões que até então não enfrentavam inundações, como os bairros de classe média Menino Deus e Cidade Baixa, na capital. No entanto, os maiores impactos das enchentes se impuseram sobre a população mais pobre.
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Um estudo do Observatório das Metrópoles, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), mostra que as áreas mais atingidas são aquelas que reúnem mais pessoas de baixa renda. A análise foi feita pelo pesquisador André Augustin, do Núcleo Porto Alegre do Observatório das Metrópoles.
“No caso da renda, é muito demarcado. Se viu que as áreas alagadas são, principalmente, as áreas mais pobres. Não só [regiões de menor renda]. Mas, na maioria dos casos, as áreas mais próximas dos rios que alagaram são as áreas mais pobres”, diz.
Até esta segunda-feira (20), as cheias deixaram 157 mortos no Rio Grande do Sul, com 657,8 mil pessoas fora de casa. O desastre afetou 2,3 milhões de pessoas em todo estado.
Um mapa cruza os dados de renda com as inundações provocadas (mancha cinza) em Porto Alegre e cidades vizinhas como Eldorado do Sul, Guaíba, Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo e Novo Hamburgo.
A análise usa dados do Censo 2010 e considera apenas as áreas alagadas. Dessa forma, o estudo não trata de outros tipos de impacto observados nessas cidades, como a falta de água e energia elétrica ou dificuldades de locomoção por problemas em estradas, avenidas e ruas.
Em vermelho, aparecem os locais onde vivem pessoas cujo rendimento mensal nominal médio chega a, no máximo, um salário mínimo.
Em tons de laranja, rendimentos que variam de um a três salários mínimos.
Já em tons de verde, estão pontos onde moram pessoas com rendimento de três a 10 salários mínimos ou mais.
Mapa mostra áreas mais atingidas pela cheia dos rios em Porto Alegre e região
Observatório das Metrópolis/Divulgação
André Augustin observa que, em cidades como Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo e Novo Hamburgo, as áreas de baixa renda correspondem a locais que foram alagados pelo cheia do Rio dos Sinos.
Em Porto Alegre, o principal impacto foi no bairro Arquipélago, composto pelas ilhas do Delta do Jacuí. A região, historicamente, convive com os alagamentos. “A gente já via no caso das ilhas que já acontecia”, diz Augustin.
Nessa área, a situação de alagamento, provocada pela cheia do Guaíba, ainda é crítica. Sem poder voltar para casa, mais de 200 moradores da região estão improvisando moradia em barracas, carros e até debaixo de uma ponte.
O padre Rudimar Dal’Astra, responsável por uma paróquia no bairro, é um dos que precisou sair de casa.
“Essa resistência dos moradores das ilhas ficarem aqui no local é algo que, cada vez mais, me impressiona. Não deixar a sua casa, não deixar o seu lugar, não deixar o seu lar. Isso é algo que mexe muito com a gente”, comenta o religioso.
Área inundada na Região das Ilhas, em Porto Alegre
Reprodução/RBS TV
No entanto, as águas avançaram sobre pontos da Zona Norte, como os bairros Humaitá e Sarandi, também de menor renda. Esses locais foram atingidos pelo Rio Gravataí, principalmente. Já na região central, bairros de maior rendimento, como Menino Deus e Cidade Baixa, também foram atingidos – pelo Guaíba e pela água não bombeada após falhas no sistema anticheias.
Em Eldorado do Sul, o impacto foi generalizado: a água inundou tanto os locais mais pobres quanto condomínios de luxo erguidos nas margens do Guaíba.
A cidade de Eldorado do Sul foi uma atingida pelas inundações
Reuters/via BBC
Cor e raça
Além do rendimento, a pesquisa observou a relação entre cor e raça com as inundações. Tanto pessoas negras quanto brancas foram atingidas, aponta Augustin. No entanto, os bairros mais afetados têm uma proporção maior de pretos e pardos em comparação com a média das cidades observadas.
“No caso da raça, há alguns bairros da Zona Norte de Porto Alegre com a população negra acima da média da cidade. A mesma coisa em os outros municípios, como São Leopoldo, de colonização alemã”, explica o pesquisador.
Quanto mais forte o tom de laranja e vermelho, maior a presença da população negra nos municípios.
“Não só já eram os mais pobres e mais negros. Eles, quando são atingidos, sofrem mais”, diz André Augustin.
Relação entre raça e cor e as inundações na Região Metropolitana de Porto Alegre
Observatório das Metrópoles/Divulgação

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