Fies: prazo de convocação da lista de espera termina nesta sexta; MEC diz que está atento à situação no RS, mas não altera datas


Mesmo diante da tragédia nas inundações do Rio Grande do Sul, MEC não havia esticado calendário até a manhã desta sexta, último dia do processo seletivo. Pelo Fies, candidatos podem financiar mensalidades de faculdades privadas. Fies oferecerá 112.168 vagas nos dois processos seletivos de 2024.
Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
O Ministério da Educação (MEC) confirmou, na manhã desta sexta-feira (17), que termina à meia-noite o prazo para as convocações da lista de espera do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) do primeiro semestre de 2024.
➡️Na última quarta-feira (15), quando questionado pelo g1 sobre um possível adiamento do calendário devido à tragédia no Rio Grande do Sul, o órgão afirmou que estava “atento à situação do Estado para todos os prazos”. No entanto, até a mais recente atualização desta reportagem, nenhuma alteração no cronograma havia sido informada.
Uma nota publicada no site do MEC, às 9h desta sexta, apenas reforça que é o último dia para a convocação do Fies, sem mencionar os estudantes que podem ter sido prejudicados pelas inundações no Sul.
📱Como o mecanismo de seleção e de chamada dos alunos exige entrega de documentação e formalização de contratos por meios digitais, instituições de ensino e estudantes do RS podem ter enfrentado dificuldades para concluir os processos nas regiões afetadas pelas inundações (como falta de luz e impossibilidade de entrar na própria moradia).
O Fies oferece, neste 1º semestre, 67 mil vagas para que estudantes possam financiar as mensalidades de faculdades privadas e só pagá-las após a formatura.
🗓️Enem 2024: No caso da próxima edição do Exame Nacional do Ensino Médio, o ministro da Educação, Camilo Santana, postou nas redes sociais que a pasta estuda prorrogar o prazo para estudantes do Rio Grande do Sul se inscreverem na prova e solicitarem a isenção da taxa de inscrição.
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Prazo do Fies havia sido prorrogado em abril, por falhas técnicas do sistema
Em 26 de abril, o MEC anunciou que adiaria o prazo previsto inicialmente pelo edital para convocar alunos na lista de espera do Fies.
A decisão da pasta foi comunicada após reclamações de estudantes sobre falhas técnicas e demora excessiva para a lista de espera “rodar” (ou seja, chamar novos nomes, considerando quem desistiu da vaga).
Em resumo, as queixas do estudantes eram as seguintes:
💻O sistema eletrônico pelo qual eles enviam os documentos na matrícula apresentou problemas técnicos desde o início do processo, atrasando todas as etapas seguintes;
📋As listas de espera não estavam “rodando” no ritmo esperado, por isso, milhares de alunos que não foram aprovados na 1ª chamada ainda aguardavam a convocação;
📝A mesma pessoa estava sendo aprovada em mais de uma opção de curso (algo vetado pelo edital do Fies).
Além disso, houve as seguintes reclamações:
O edital do Fies 2024 foi publicado apenas em 7 de março, quase dois meses após a divulgação dos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) — em 2023, o documento saiu em 27 de janeiro, antes das notas da prova.
As inscrições do Fies terminaram em 18 de março, após algumas universidades já terem iniciado o ano letivo. Isso fez com que os aprovados, que ainda teriam todo o trâmite da pré-aprovação e da matrícula, perdessem as primeiras semanas de aula.
Abaixo, entenda os detalhes dos problemas:
💻Problema 1: sistema de entrega de documentos com falhas
🔴Os alunos que foram pré-selecionados na 1ª chamada (divulgada em 28 de março) tinham de enviar, como é de praxe, uma série de documentos para a universidade. O sistema eletrônico usado pelas instituições de ensino, no entanto, apresentou problemas técnicos e atrasou esse processo.
Por isso, o MEC aumentou o prazo para a etapa de conferência de dados pessoais. Segundo relatos enviados à reportagem, mesmo assim, as falhas não foram corrigidas e continuaram atrasando as matrículas.
“O sistema de acesso das faculdades oscilou muito, falhou e comprometeu os prazos. Foi uma correria gigante [desde o início]”, explica Rogério*, coordenador de bolsas e financiamento de uma instituição de ensino privada.
“É comum termos intercorrências no Fies, mas, neste ano, foram muitas mudanças [nas regras do programa] em pouco de espaço de tempo. É como trocar o pneu com o carro andando”, diz.
📋Problema 2: a lista de espera não estava ‘rodando’
Aconteceu, então, um efeito cascata:
🔴Quando um candidato que passou na 1ª chamada não efetiva a matrícula ou não entrega os documentos a tempo, a vaga é transferida para a lista de espera (todos os reprovados disputam essa segunda chance). Em geral, a lista “roda” várias vezes, e novos alunos vão sendo convocados. O período para essa “repescagem”, segundo o edital, originalmente iria de 28 de março a 30 de abril.
🔴No entanto, jovens ouvidos pelo g1 afirmaram que a lista de espera não estava “rodando” como em anos anteriores. A primeira saiu em 28 de março, como era previsto, mas a segunda só foi divulgada em 18 de abril.
🔴Provavelmente, o que explica essa lentidão foi justamente o problema no sistema de entrega dos documentos.
Formou-se um ciclo: os candidatos pré-selecionados não conseguiam completar a matrícula -> o MEC prorrogava o prazo para esses alunos entregarem os documentos –> as vagas ficavam “represadas” e não eram liberadas para as listas de espera.
“Durante os 20 dias em que a lista não ‘rodou’, tive crises de ansiedade constantes, e não consegui ser produtiva nem no trabalho, nem nos estudos”, conta Alice Rêgo, de 20 anos, de Xinguara (PA).
Ela busca uma vaga em medicina. “Acho que o pessoal do MEC não tem noção do quão difícil é, porque isso mexe com um sonho gigante. Tento vestibular há 5 anos, e o Fies é minha esperança de realizar isso. Estão acabando com a minha saúde mental.”
Maria Eduarda Souza, de 24 anos, também ficou aflita com a lentidão das listas de espera.
“Estou arrasada, porque só tem uma pessoa na minha frente [na ‘fila’]. Conversei com alguns alunos que foram convocados para essa mesma faculdade [em Maceió] e que não se matricularam, mas as vagas deles não foram disponibilizadas para mais ninguém depois”, conta.
🔴Diante do problema nos mecanismos de matrícula, instituições de ensino ficaram com vagas do Fies ociosas: nem foram ocupadas pelos convocados na 1ª chamada, nem foram para a lista de espera.
“Se continuar dessa forma, muitas vagas não serão preenchidas e muitos vão perder a oportunidade de estudar e conseguir concretizar um direito fundamental e garantido pela Constituição Federal de 1988”, escreveram candidatos em um e-mail enviado ao MEC. “Precisamos ter uma prorrogação no prazo final para divulgação das listas de espera.”
A pasta, primeiramente, respondeu aos estudantes, em mensagem obtida pelo g1, que “não vislumbra possibilidades de prorrogação”. Depois, mudou de posicionamento e postergou a data.
Jhessyka Neves, de 33 anos, havia ficado desnorteada com esse retorno.
“A gente fica aguardando, paga cursinho, não sabe se vai pra frente ou pra trás, e a lista não roda. Estou vendo pelo site que tem vaga ociosa, que não tá sendo preenchida”, conta a candidata a medicina.
📝Problema 3: aprovação dupla de um mesmo candidato
Na segunda lista de espera divulgada pelo MEC, há elementos que não respeitam determinadas regras do programa.
O Fies permite que cada candidato se inscreva em até 3 opções (A, B e C) de curso/faculdade, em ordem de preferência. Se, na 1ª chamada, a pessoa for convocada para a alternativa C, por exemplo, não terá o direito a concorrer na lista de espera para a A ou a B.
➡️Resumindo: passou em alguma das suas opções de graduação? Você pode se matricular nela ou abrir mão do Fies neste semestre. Não há chance de disputar a “repescagem” nas suas outras alternativas.
Essa regra existe justamente para dar mais chance a todos os alunos que disputam o financiamento. No entanto, o sistema falhou: há registros de candidatos que já tinham sido aprovados na primeira chamada e que, ainda assim, foram selecionados novamente na lista de espera.
É o caso de Marina*, que passou “direto” em uma vaga de medicina pelo Fies, mas não quis se matricular e, por isso, nem entregou os documentos para o financiamento.
Automaticamente, ela já deveria ter sido excluída do processo seletivo. Só que… seu nome apareceu novamente na lista de espera do Fies, em outra opção de graduação. Ou seja: foi aprovada duas vezes.
“Quando vi o e-mail com essa segunda convocação, fiquei preocupada e nervosa, porque sabia de um monte de gente que precisava da vaga e que estava apreensiva. Confrontei a faculdade, já que isso não poderia ter acontecido pelas regras do Fies. Confirmaram que meu nome estava entre os selecionados [de novo]. Enquanto isso, outras pessoas estão tentando se matricular”, conta ao g1.
* A pedido dos entrevistados, os nomes verdadeiros foram trocados por fictícios.
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Estudantes relatam problemas no processo seletivo do Fies

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