Amigo de médico do ES que morreu em abrigo no RS diz que tentou acordá-lo três vezes: 'Só achei que ele estivesse cansado'


Cardiologista Leandro Medice, de 41 anos, trabalhou durante todo o domingo (12) e não acordou no dia seguinte. Suspeita é a de que ele tenha sofrido um mal súbito. Carlos José Cardoso, dermatologista, e o cardiologista Leandro Medice, 41 anos, o avião indo para o Ro Grande do Sul onde Leandro morreu
Reprodução
Antes de os amigos perceberem que o cardiologista Leandro Medice estava morto, na última segunda-feira (13), Carlos José Cardoso, dermatologista que embarcou com o médico para o Rio Grande do Sul para ajudar as vítimas das chuvas, disse que tentou acordar o médico capixaba pelo menos três vezes. O capixaba de 41 anos chegou a atender a aproximadamente 100 pessoas durante todo o domingo (12), Dia das Mães.
Compartilhe no WhatsApp
Compartilhe no Telegram
Foi o próprio dermatologista quem chamou o amigo Leandro para embarcar na missão humanitária até o Rio Grande do Sul e trabalhou ao lado dele durante todo o dia na cidade de São Leopoldo.
A principal suspeita é a de que Leandro tenha sofrido um mal súbito. O médico foi enterrado na manhã de quarta-feira (15) no Cemitério Jardim da Paz, em Laranjeiras, na Grande Vitória, e reuniu dezenas de familiares e amigos.
Uma homenagem durante o enterro foi feita por ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), onde Leandro trabalhou como intensivista.
📲 Clique aqui para seguir o canal do g1 ES no WhatsApp
Dia de trabalho no abrigo
O dermatologista contou que estava difícil encontrar pessoas que topassem realizar a ação voluntária no Rio Grande do Sul no fim de semana do Dia das Mães, mas que Leandro se prontificou rapidamente ao ficar sabendo da ideia.
Leandro Medice, médico do Espírito Santo, ajudando pessoas em abrigos no Rio Grande do Sul
Reprodução
“No Dia das Mães, estava difícil conseguir alguém para se deslocar, mas ele se dispôs imediatamente a ir. Operou no sábado até 23h e saímos direto para o aeroporto. Chegando lá, o abrigo tinha 1.600 pessoas, 500 crianças, mais uns 200 cachorros. Estava eu, Leandro, uma colega que veio do Recife e mais duas empresárias que foram conosco. Nós fizemos atendimento direto e durante o dia a gente trabalhou feliz”, disse o médico.
À noite, os dois foram dormir para se preparar para o próximo dia. A ideia era passar a segunda toda trabalhando e retornar para Vitória à noite. Mas o amigo não conseguiu acordar Leandro.
LEIA TAMBÉM:
‘Morreu feliz ajudando as pessoas’, diz amigo que estava com médico do ES ajudando vítimas da chuva no RS
“Ele já estava cansado, mas normal, conversando. Ele foi dormir do meu lado. Pela manhã, fui acordá-lo cedo, mas tive dificuldade no primeiro momento, mas só achei que ele estivesse cansado. Umas 6h30, voltei e toquei a mão dele, estava um pouquinho morno, mas como entrava um vento gelado, achei que fosse por causa disso. Quinze minutos depois, voltei e realmente achei muito estranho ele não ter acordado. Na hora que eu fui tocá-lo, ele já estava frio, já tinha falecido e não tinha muito tempo, porque às 4h eu ouvi o ronco dele”, contou.
Leandro Médice, Carlos José Cardoso, do Espírito Santo, e uma médica de Recife que foram juntos fazer ação humanitária no RS
Reprodução
O Samu foi acionado e o corpo do médico foi levado até o Instituto Médico Legal (IML) de Porto Alegre. O marido do médico João Paulo Martins, contou que reconheceu o corpo de Leandro com a irmã de Leandro.
“Foi um choque, embora eu seja médico, acostumado a ver morte. Mas naquele momento era meu amigo que estava ali. Ele morreu feliz por estar ali. Ele falou que mudou a vida dele atender aquelas pessoas que estão muito necessitadas”, lamentou o dermatologista.
Médico gravou vídeo mostrando situação no RS
Antes de viajar para o estado que foi atingido pela tragédia da chuva, o profissional compartilhou vídeos falando sobre o desejo em ajudar as vítimas das chuvas e disse estar “ansioso”.
Médico capixaba morre no RS, durante viagem para atendimento a vítimas da chuva
“Ei pessoal! Hoje eu estou fazendo uma coisa diferente. Pela primeira vez, eu vou partir para uma missão humanitária. O Sul está precisando da gente. Então, saí um pouco da minha rotina, do conforto do consultório. A cirurgia acabou agora pouco, a gente já emendou. São 4h da manhã agora. A gente tá indo pra lá ajudar os nossos irmãos que estão precisando. Eu vou tentar passar pra vocês aqui a real situação que está lá até mesmo pra gente conseguir juntar mais forças pra ajudar o pessoal, que está precisando em meio a essa catástrofe no Sul. Assim que eu conseguir, eu mostro tudo que está acontecendo e vamos juntos nessa missão. Conto com a oração de vocês pra gente juntar forças e ajudar o máximo de pessoas que a gente conseguir. “, disse na publicação.
Homenagens de autoridades e familiares
A sobrinha e afilhada do médico, Amanda Médice, publicou nas redes sociais uma carta para se despedir do tio.
Sobrinha de Leandro Medice, a nutricionista escreveu uma carta ao saber da morte do tio. Profissional morreu durante viagem para ajudar vítimas do Rio Grande do Sul.
Reprodução/Redes Sociais
Carta aberta para o meu dindo: 🖤🥀
Morrer é ridículo.
Você combinou o que iríamos almoçar na semana seguinte, está com planos de reformar sua casa, está preocupado com contas, com várias ideias para o instituto… e do nada, pela manhã, morre. Como assim??? E os e-mails que você não leu? sua toalha molhada no varal? suas roupas para lavar? o instituto para limpar? os pacientes? a nossa família? Você passou mais de 10 anos estudando, se profissionalizando… fez fisioterapia, medicina, se especializou em cardiologia, intensivista, transplante capilar… De uma hora pra outra, tudo termina num infarto no meio da tragédia que você foi ajudar no Rio Grande do Sul.
Morrer é uma loucura. Te obrigada a sair da festa na melhor hora, sem se despedir de ninguém, sem ter um último abraço ou um último “te amo”. Dindo, meu amor, éramos tão iguais e nunca me imaginei escrevendo isso para você… para sempre serei sua filha, sua cópia!
Eu te amo além da vida,
com amor, sua filha do coração,
Amanda.
O marido de Leandro, João Paulo Martins, disse que o companheiro era muito saudável e não tinha histórico de doenças.
“Ele era muito saudável, sempre cuidou da saúde. Nunca teve histórico nenhum de problemas. Eu ainda não consigo acreditar no que aconteceu. Quando me contaram, pensei que fosse brincadeira. Ele foi para ajudar as pessoas e aconteceu essa tragédia”, contou João Paulo.
O caso gerou comoção nacional. O presidente Lula publicou nas redes sociais uma nota de solidariedade à família.
“Os meus sentimentos à família do médico voluntário Leandro Medice que nos deixou ontem. O cardiologista, que morava no Espírito Santo, estava em São Leopoldo (RS) ajudando as vítimas da enchente. Leandro morreu de um mal súbito. Ele é um exemplo de entrega e solidariedade, como o que estamos vendo de todas as partes do Brasil para ajudar o povo gaúcho neste momento de dificuldades. Um sentimento que une o nosso país e que tenho certeza que se repetiria caso outra parte do nosso país sofresse uma tragédia desta dimensão. Estendo meu abraço a todos os voluntários e as voluntárias que estão por todo o estado ajudando quem precisa”, escreveu.
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), lamentou a morte e decretou luto oficial de três dias no estado. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), também se solidarizou com a família.
Homenagens também foram feitas pela Força Aérea Brasileira, antes de o médico ter o corpo levado para o Espírito Santo, onde foi velado e sepultado nesta quarta-feira. O marido de Leandro aparece nas imagens emocionado e recebendo a bandeira do Brasil.
Esposo do médico Leandro Medice se emociona ao receber bandeira do Brasil da Força Aérea Brasileira (FAB) . Profissional morreu no Rio Grande do Sul durante missão humanitária para ajudar vítimas das chuvas.
Reprodução
VÍDEOS: tudo sobre o Espírito Santo
Veja o plantão de últimas notícias do g1 Espírito Santo

Deixe um comentário