Dois freis capuchinhos de Canoas, no Rio Grande do Sul, estão entre os moradores da cidade resgatados por botes de bombeiros durante a enchente causada por fortes chuvas na região no início da semana. Eles estavam na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, no bairro Mathias Velho, um dos mais afetados pela inundação.
Em relatos publicados pela Arquidiocese de Porto Alegre, eles contaram momentos de apreensão e desalento depois que a água invadiu a paróquia. Também narraram o desespero da população diante da catástrofe climática.
“Domingo (5) foi um dia trágico”, disse o frei Bruno Glaab. Ele contou que acordou no início da madrugada e, ao olhar pela janela, viu o pátio da casa paroquial tomado pela água. Na cozinha, percebeu que já havia um palmo de água suja no primeiro piso. Minutos depois, a água já chegava a dois palmos e subiu rapidamente, fazendo com que os móveis ficassem boiando.
Os freis e outras 30 pessoas que procuraram abrigo contra a inundação ficaram na sala de catequese até o meio da tarde à espera da ajuda do Corpo de Bombeiros.
“Não estava muito frio, mas a roupa molhada no corpo dava uma sensação de mal-estar”, contou Bruno. Enquanto aguardavam, eles viam a água subir. Ficaram com pouca comida, sem água potável e energia elétrica e sem acesso ao banheiro. Ouviram informações sobre falta de botes e um grande número de pedidos de ajuda aos bombeiros.
Com as baterias dos celulares chegando ao fim, os religiosos calcularam que água chegaria ao piso em que estavam entre 19h e 20h. Entre as pessoas que estavam no local havia idosos, crianças e cadeirantes. Havia também gatos e cachorros.
“Eu rezava para que os bombeiros viessem antes de escurecer. Senão, a coisa ficaria trágica”, disse.
O socorro chegou às 16h30. Todos foram resgatados em vários barcos e os freis estão abrigados em outras casas religiosas.
Nas horas de espera, eles ouviram gritos de socorro vindos de casas do bairro e não conseguiam sair porque a água já havia invadido a casa paroquial.
Segundo a Igreja Católica, os freis foram os últimos a deixar o lugar, quando todas as outras pessoas já haviam embarcado.
“Parece um filme de terror, mas é a realidade que estamos vivendo. Sejamos peregrinos da fé, esperança e caridade”, afirma o frei Juan Miguel, que também foi resgatado. “Foi um pesadelo muito difícil. Momentos de tristeza, angústia e desespero”.
Ele disse que nunca imaginou passar por uma situação como a vivida em Canoas. Segundo o relato do religioso, a igreja, a secretaria e a casa paroquial ficaram debaixo d´água.
A paróquia perdeu computadores, carros, instrumentos musicais, cálices, livros e dinheiro.
A cidade, segundo o frei Luís Carlos Susin, vive um “surto coletivo, com generosidade heróica de um lado e mesquinharias, egoísmo e agressividade de outro”.
Metade da população de Canoas –153 mil pessoas– foi retirada de suas casas depois que a força das águas rompeu dois diques e a cidade ficou submersa.
A previsão da prefeitura é que cerca de 70 mil imóveis, entre residenciais, comerciais e industrias, tenham que ser reconstruídos.