A orientação do presidente Lula (PT) de não organizar atos alusivos aos 60 anos do golpe militar no Brasil gerou reações dentro e fora do governo. Em entrevista recente à RedeTV!, o petista disse que prefere não remoer 1964 porque isso “faz parte do passado” e que quer “tocar o país para a frente”.
Com a postura, ministérios cancelaram ações —que previam pedidos de desculpas a vítimas da ditadura— e organizações da sociedade civil cobraram a gestão, chamando a fala do presidente de equivocada. Setores do governo defenderam a decisão: o ministro José Múcio (Defesa) enquadra a medida em um esforço de pacificação com os militares, que mantêm uma relação delicada com Lula nesse terceiro mandato.
O presidente também desencorajou manifestações das Forças celebrando o golpe, como as que ocorreram sob Jair Bolsonaro (PL). Em entrevista à Folha, a historiadora Heloisa Starling, professora da UFMG, disse que a ação sugere “uma espécie de tutela dos militares”. Para ela, deixar os 60 anos do golpe passarem em branco é perder uma chance de discutir o lugar das Forças Armadas —o que pode ter consequências graves para a democracia.
O episódio do Café da Manhã desta quinta-feira (28) traz trechos da entrevista de Starling e, na segunda parte, ouve Fabio Victor, autor do livro “Poder Camuflado”, sobre o veto de Lula à memória de 1964. O jornalista conta como essa postura repercutiu tanto entre grupos que lutam pela memória quanto entre militares e analisa a disputa sobre isso dentro do governo.
O programa de áudio é publicado no Spotify, serviço de streaming parceiro da Folha na iniciativa e que é especializado em música, podcast e vídeo. É possível ouvir o episódio clicando acima. Para acessar no aplicativo, basta se cadastrar gratuitamente.
O Café da Manhã é publicado de segunda a sexta-feira, sempre no começo do dia. O episódio é apresentado pelas jornalistas Magê Flores e Gabriela Mayer, com produção de Carolina Moraes e Laila Mouallem e edição de som de Thomé Granemann.