Inelegível, Bolsonaro faz primeiro comício do ano eleitoral

Chega a ser uma afronta, um escárnio, Bolsonaro anunciar que quer apenas se defender, assim como o Estado democrático de Direito, “sem atacar ninguém”, justamente ele, que passou seus quatro anos de governo conspirando contra a democracia. Quem ainda pode acreditar nisso e apoiar um golpista juramentado, que nunca escondeu seus objetivos nem as provas dos seus crimes de lesa-pátria?

O pior é que tem muitos, como mostram as pesquisas. Ainda há um considerável contingente de brasileiros em todas as latitudes dispostos a seguir o Mito de fancaria. Essa é a pior sequela deixada pelo bolsonarismo em marcha por militares e civis que bancaram e levaram o ex-deputado do baixo clero ao poder, em 2018, sabendo quem ele era, sem se preocupar com o país. Agora, todo mundo sabe, não há mais desculpas.

Pensaram em reviver o golpe de 1964, mas criaram apenas uma seita fundamentalista que orava por uma intervenção militar nos acampamentos diante de quartéis, movida por mentiras, delírios, ameaças e uma usina de fake-news, cujos efeitos tóxicos ainda perdurarão por muito tempo. Derrotados no 8 de janeiro, o ápice do movimento, eles não aprenderam nada e não desistem, resistem a largar o osso.

Basta ver a atual composição do Congresso Nacional e o palanque montado para o comício, com tantos parlamentares, governadores e outros notáveis devotos, que precisaram alugar mais um trio elétrico. O que o ex-presidente quer é apenas uma fotografia verde e amarela de apoiadores para “mostrar ao Brasil e ao mundo” como ele ainda é poderoso e popular, e assim evitar ou postergar a iminente prisão dele e de seus comparsas, ao final dos processos. Enquanto isso não acontecer, não viveremos em paz. Nossa democracia continuará ameaçada.

Como não têm mais defesa possível, diante de tantos vídeos, áudios, mensagens, delações e documentos incriminadores, o ex-capitão renegado pelo Exército, bem como seus generais, só podiam mesmo permanecer em obsequioso silêncio durante os depoimentos de quinta-feira na Polícia Federal. Quem cala, consente, se dizia antigamente.

Nuvens negras pairam sobre o comício, e não só por causa das fortes chuvas previstas para o domingo à tarde pelos institutos de meteorologia. Para Claudio Langroiva, professor de processo penal da PUC-SP, a mera convocação do ato feita por Bolsonaro é “arriscada” e pode motivar a prisão preventiva, segundo matéria da Folha de sexta-feira.

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