Risco de promoção de Mauro Cid leva o Exército ao mundo da Lua

A abertura da cela veio junto com um lote de medidas cautelares que converteram o investigado numa aberração funcional. Afastado de suas funções, Mauro Cid teve que instalar um GPS entre a batata de perna e o pé direito. Transformado em arrastador de tornozeleira eletrônica, o ex-faz-tudo de Bolsonaro perdeu o posto de adjunto da Chefia de Preparo do Comando de Operações Terrestres, no Quartel-General de Brasília. Mas manteve o contracheque de mais de R$ 26 mil mensais. Em bom português, ganha sem trabalhar.

Durante os quatro anos da Presidência de Bolsonaro, Cid foi remunerado para subverter as funções de ajudante de ordens. Nos quatro meses em que desfrutou do encarceramento especial, recebeu pelo exercício do ócio de prisioneiro. Libertado, passou a usufruir de recompensa pecuniária para desfilar uma tornozeleira diante dos olhares de contribuintes indefesos. Descobre-se agora que Cid pode ser alçado ao setor de operações lunares do Exército.

Alega-se que Cid está protegido pelo princípio constitucional da presunção de inocência. Nessa versão, só a conversão do personagem em réu o retiraria da fila de promoção. Apenas uma sentença condenatória definitiva levaria o Exército a abrir o procedimento administrativo para expulsar Cid de suas fileiras.

Entretanto, nem mesmo o expurgo definitivo retiraria Cid de dentro dos cofres públicos. A família do militar continuaria recebendo pensão em valor proporcional ao tempo de “serviço” do ex-ajudante de ordens.

Fica cada vez mais nítido que a legislação que ampara os militares até na delinquência precisa ser submetida a uma lufada de ar fresco. Num Brasil em que a Justiça tarda, mas não chega, o trânsito em julgado não é senão um ponto inatingível do calendário. Num país menos ilógico, a ausência de condenação definitiva jamais seria obstáculo para a fixação de punições intermediárias, compatíveis com a evolução do processo.

No início da investigação, Cid era um mero um suspeito. A perícia realizada no seu celular empurrou para dentro do inquérito que corre no Supremo um sólido conjunto de indícios de culpa. A admissão voluntária de participação nas malfeitorias bolsonaristas guindou Cid à condição de réu confesso. O acordo de delação converteu-o num culpado à espera da definição do prêmio judicial que pode atenuar sua pena.

Deixe um comentário