O presidente da Rússia, Vladimir Putin, reconheceu nesta segunda-feira (21/02) a independência das cidades ucranianas de Lugansk e Donetsk, regiões separatistas localizadas no território ucraniano.
Em discurso de quase uma hora transmitido em rede nacional, Putin destacou que a Ucrânia “não é somente um país vizinho”, mas também “uma parte importante de nossa história” e que os princípios da “livre confederação dos povos” estabelecidos durante a existência da União das Repúblicas Soviéticas foram um “erro” que fez com que a região do Donbass, onde ficam os separatistas, fosse “literalmente espremida”.
A decisão do presidente russo amplia ainda mais a tensão entre Moscou e Kiev, principalmente na região fronteiriça onde estão localizados as cidades de Donetsk e Lugansk. Na última semana, autoridades da região acusaram o governo ucraniano de preparar uma ofensiva contra os separatistas e ordenaram a evacuação de civis para o território russo.
Resgatando fatos históricos, Putin afirmou que a Ucrânia foi “uma criação da Revolução Russa” de 1917. “Apesar de não ser possível mudar a história do que aconteceu na URSS, é preciso falar dela de forma direta”, disse, destacando que a Ucrânia nunca teve uma soberania própria e sempre copiou um modelo externo.
O mandatário russo disse ainda que o documento aprovado em 1989 pelo Partido Comunista da URSS tratando sobre a política nacional das repúblicas foi fatal à Ucrânia, pois teria desestabilizado ainda mais o país.
“A questão nacional não tratava das aspirações do povo e sim das elites”, opinou Putin, afirmando que neste contexto as decisões tomadas tiveram consequências “trágicas” ao país.
Putin disse que “apesar de tudo, o povo russo reconheceu a realidade que surgiu após a queda da URSS, e a Rússia ajudou antigos países soviéticos, incluindo a Ucrânia, por sua independência.
Em seu discurso, afirmou ainda que a corrupção no país vizinho corroeu sua soberania e levou “nacionalistas”, em referência a grupos de extrema-direita organizados na Ucrânia, a tirarem proveito disso em 2014, apoiados por países ocidentais. Neste ano, um movimento “pró-ocidente” derrubou o governo do então presidente Viktor Yanukovych, desencadeando uma série de conflitos civis que estão presentes até hoje no país.
Esse momento também propiciou a organização de grupos supremacistas e neonazistas, que atuam como milícias das Forças Armadas ucranianas.
A embaixada dos EUA em Kiev, prosseguiu o presidente, controla diretamente as ações anticorrupção na Ucrânia sob o pretexto de contribuir para uma luta mais eficaz, “mas a corrupção está mais enraizada que nunca”.
Segundo Vladimir Putin, os “radicais” que tomaram o poder na Ucrânia em 2014 criaram um ambiente de terror, com uma onda de assassinatos impunes, com destaque para um acontecimento na cidade de Odessa, em que sindicalistas de oposição foram queimados vivos por discordarem do movimento. Ele sublinhou que os responsáveis pelo atentado têm seus nomes conhecidos, e “tudo será feito para puni-los”.
O presidente voltou a declarar que a adesão da Ucrânia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) é uma ameaça à seguridade euroatlântica, dizendo que seu país foi enganado pela aliança militar, já que nos anos 1990 havia um combinado de que a Otan não iria se expandir para o leste europeu.
Putin disse também que os países ocidentais e o governo ucraniano não estão interessados em uma saída para a questão na fronteira, mas sim “promover uma guerra relâmpago, como aconteceu em 2014”.
Ele afirmou ainda que a Ucrânia se converteu em uma plataforma de ataques à Rússia.
Mais cedo, em ligação com os líderes europeus da Alemanha, o premiê Olaf Scholz, e da França, o mandatário Emmanuel Macron, o presidente russo já havia falado sobre sua intenção de reconhecer independência das repúblicas.
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