Paulo, o Shakespeare de Uberlândia – 20/02/2022 – Nosso estranho amor

Esta era pra ser a história de amor de um contador de histórias de amor. “Aliás, deixa eu te falar, me separei em janeiro”, Paulo Franco, 59, inicia assim nossa conversa sobre seu assunto predileto.

“O tanto que eu amo poesia, ser carinhoso… Acho que é isso que me estraga”, especula o homem que acumula nove casamentos e quatro páginas no Facebook dedicadas a esse sentimento que move nosso Shakespeare de Uberlândia: Paulo Franco Escritor e Compositor, Felicidades, Lindas Histórias de Amor e Frases de Paulo Franco.

Ele diz ter várias máximas de sua autoria. “Quer ouvir uma?” Não espera a resposta e já emenda: “Não me importa passar por lutas todos os dias. Só não aceito receber propostas da derrota”.

É uma peleja diária para manter o romantismo vivo, admite o avô de uma neta e pai de três filhos, uma levada por um “câncer avassalador aos 25 anos, menina linda dos olhos azuis”.

Foi-se o tempo em que postagens arrebatadas alcançavam, nas suas contas, até cinco milhões de leituras nas redes sociais.

“Hoje você posta um poema e tem 50, 70 [visualizações]. As pessoas só querem saber de discórdia, de ‘BBB’, de ‘A Fazenda’. E todos os realities são voltados em cima de B.O., de relacionamentos conturbados”, reclama o autor de “Eu Sonhei Com Você”, poema publicado em 2015 na mineira Gazeta do Triângulo, junto com a ilustração de uma sílfide rodeada de cisnes sob uma lua cheia.

“Seus olhos me fitaram como em um laço, e eu me entreguei para a mais linda história de amor”, escreveu o apaixonado que mantém com a escrita seu relacionamento mais duradouro até aqui.

O pai rabiscava em tampas de sapato ou papel de pão tudo o que lhe dava na telha, como esta fábula que inventou para educar os filhos: cuidado com o Lobo Afonso, que roubava comida dos irmãos e era capaz de devorar o forro da mesa, de tão esfomeado que era.

O Paulo escritor nasceu junto com seu primeiro xodó, uma vizinha descendente de italianos “que amava Veneza”. Nunca se beijaram. Só dançaram coladinhos em matinês e olhe lá, mas mesmo nesses momentos “parecia que nós dois estávamos pegando fogo”, hiperboliza a paixão de infância. “Eu já tinha essa visão poética, sou da família do Moacyr Franco.”

O casamento que terminou faz um mês, segundo Paulo, seguiu o modus operandi de dedicação total à cara-metade da vez. Engenheiro de software que presta serviços para russos, ele costuma acordar às 2h para cumprir o fuso horário do cliente. Deixava sempre um Toddy quente para quando a companheira despertasse.

A relação esfriou rapidinho após ela sair do sobrado onde moravam. “Aí eu disse, ‘volta pra casa dos seus pais, pô, se não dá certo comigo, não dá certo com ninguém’.”

Ainda que seja Paulo que tenha o histórico de enlaces que não vão para frente. O primeiro divórcio, contudo, rendeu o que ele considera sua maior loucura de amor. Recém-separado, estava a caminho de seu sítio no interior de Minas. “Eu tinha um jipão, parei numa lanchonete, e lá dentro tinha uma menina de Campinas tomando Fanta laranja.”

Tentou se engraçar, e a moça cortejada alertou que era a filha do pastor da cidade. Melhor não. Mas ela também confessou que estava morrendo de vontade de virar uma cervejinha com a que Paulo estava tomando.

Ele captou o sinal para avançar. No fim, descobriu alguém “muito pra frentex”, conta. “Sabe aquelas meninas que empinam moto?”

A certa altura, perguntou qual era a fantasia dela. Ela respondeu: duas. “Uma é transar num bote inflável.” Legal, qual a outra? “Em cima de um cavalo.”

“Eu disse pra ela: tenho bote e tenho cavalo.”

Talvez ele seja o último romântico.


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