Igreja Universal enfrenta maior crise desde sua fundação

Desde que surgiu no Rio, em 1977, a Igreja Universal do Reino de Deus nunca mais saiu dos noticiários.

A partir daí, e certamente devido a sua profissão de fé neopentecostal e da teologia (ou teoria) da prosperidade, a instituição atraiu para si a desconfiança de boa parte da população e também da mídia.

A prisão

Atraiu também a atenção de autoridades, como o Ministério Público. O auge dessa desconfiança e impopularidade ocorreu em 92, com a prisão do líder máximo da Igreja, acusado de charlatanismo.

Como era previsível diante de uma acusação tão frágil e sem provas, o bispo foi inocentado.

Macedo e a Universal atraíram muito a atenção da TV Globo, que em 1995 exibiu no “Jornal Nacional” um vídeo em que Macedo “ensinava” como pastores e bispos deveriam agir para conseguir dinheiro dos fiéis.

Depois de alguns dias de ira popular contra a Igreja e seus membros, o caso arrefeceu e nenhum crime foi ali comprovado também.

Alvo do Leão

Veio então a Receita Federal, que passou a investigar declarações de I.R. não só de Macedo, mas de toda a cúpula da Igreja, além de pastores e alguns fiéis.

Também o Ministério Público Federal começou a fazer investigações para saber se havia ilegalidade na compra da Record por Edir Macedo, em 1989. Isso aconteceu apenas 20 anos depois da compra!

Mais uma vez, nada foi encontrado contra ninguém.

Ou seja, independentemente do clamor popular e midiático, nada nunca foi definitivamente comprovado nem contra Macedo nem contra a Igreja no Brasil.

Os órfãos

Houve ainda outra denúncia que causou furor: em 2017, uma TV portuguesa começou a exibir uma série de reportagens nas quais acusava a Igreja de “tráfico de crianças”.

Muitos pastores e bispos, além do próprio Edir Macedo, têm o hábito de adotar crianças. O motivo principal é a orientação da Igreja para que eles não tenham filhos (sim, é confuso).

A Universal negou qualquer ilegalidade nas adoções de crianças portuguesas órfãs, e o caso arrefeceu.

Livres para doar

O Brasil garante liberdade religiosa. Se uma pessoa de livre e espontânea vontade acredita que se doar um dízimo, de pagar um carnê, vai ter prosperidade, isso é problema dela.

Se ela acredita no pastor ou bispo ou apóstolo que lhe pedem dinheiro, é seu integral direito doar.

“Ah, mas está enganando os pobres”. Pode ser, mas isso não é da minha, da sua, da nossa conta. Trata-se de uma questão de fé pessoal e inviolável. Ponto.

“Ah, mas eles lavam o dinheiro dos dízimos”. Bom, até hoje no Brasil nenhuma autoridade conseguiu documentar e provar isso.

Porém, em Angola a coisa é outra

Acontece que todos esses fatos negativos, olhados hoje à distância, não se comparam com o que está ocorrendo em Angola.

As autoridades daquele país, por meio de colaboradores e fiéis da própria Igreja de Macedo naquele país, dizem ter comprovado um suposto esquema de ‘”lavagem” de dinheiro e evasão de divisas daquele país.

A estimativa é que seriam tirados do país de forma ilegal, por pastores e bispos, ao menos US$ 10 milhões mensais (R$ 50 milhões).

A Igreja também foi acusada de menosprezar os fiéis angolanos e de, na hora de decidir pro “promoções” de cargo e poder, dar preferência sempre a brasileiros.

A Record acabou entrando na roda e teve sua licença cassada naquele país. Fechou as portas. As autoridades também fecharam templos e iniciaram um processo judicial acusatório.

Esse julgamento só deve terminar no próximo dia 10, quando um juiz dará a sentença a quatro líderes da Igreja que estão no banco dos réus.

Na prática, porém, nada acontecerá com eles, já que todos já deixaram o país africano.

A Universal promete recorrer a instâncias superiores, mas sabe que a chance de reverter tudo que ocorreu até agora será muito difícil, se não for impossível.

O pior momento em 45 anos

Vendo agora de longe todas as crises e percalços que a Igreja enfrentou, a crise de Angola é de longe o momento mais delicado da Igreja de Edir Macedo desde sua fundação.

Dessa vez ela foi atingida não só em sua honra, mas também nos seus cofres e na soberania de sua instituição.

O caso é confuso e paradoxal: a Universal continua a existir em Angola, mas não pertence mais à instituição de onde ela nasceu.

É como uma “sucursal” que se rebelou, ou um navio de uma frota que se amotina e passa a agir de forma independente. E com aval da Justiça local.

Mas, tudo ainda pode piorar, porque a rebelião de Angola tem sido vista com cada vez mais interesse em outros países africanos em que a Universal está.

Há um risco ainda maior para a Igreja: se Angola for apenas a primeira peça do dominó a cair.

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