Por que Som da Liberdade é considerado o filme mais polêmico do ano?

Produção independente foi acusada de ser um veículo de propagação da QAnon, uma teoria conspiratória envolvendo tráfico sexual e política

Considerado o filme mais polêmico do ano, Som da Liberdade chegou aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, dia 21 de setembro, adaptando a história real de Tim Ballard, ex-agente do governo norte-americano que abandonou o trabalho para fundar a Operation Underground Railroad (O.U.R.), organização sem fins lucrativos de combate ao tráfico sexual infantil. 

Desde a sua estreia nos Estados Unidos, em julho deste ano, Som da Liberdade se torna um fenômeno cinematográfico. Apenas no país, a produção independente, realizado com a ajuda de financiamento coletivo, arrecadou mais de US$ 180 milhões (cerca de R$ 873 milhões na cotação atual) em bilheteria até o momento.

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Qual é a história de “Som da Liberdade”?

Som da Liberdade é a adaptação cinematográfica da história de Tim Ballard, um agente especial do governo norte-americano, responsável por prender pedófilos há mais de uma década, salvando as vidas de incontáveis crianças, mesmo sem nunca ter levado nenhuma delas de volta para os seus lares.

Confrontado com essa realidade, Ballard, vivido no filme por Jim Caviezel (Jesus Cristo em A Paixão de Cristo, de 2004), vê a possibilidade de mudar o foco do seu trabalho e, logo em sua primeira missão, é bem-sucedido e acaba recuperando o pequeno Miguel (Lucás Ávila), devolvendo-o ao seu pai, Roberto (José Zúñiga, Crepúsculo).

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No entanto, a irmã de Miguel, Rocío (Cristal Aparicio), que foi sequestrada com ele, continua desaparecida, o que leva Ballard, um homem cristão, casado e pai de cinco filhos, a se colocar no lugar de Roberto e dedicar os seus próximos passos ao resgate da garota e outras tantas crianças, vítimas de tráfico sexual internacional. Assista ao trailer:

O que há de tão polêmico no filme?

Dividindo a crítica, Som da Liberdade chamou a atenção de grandes personalidades dos Estados Unidos como o ator Mel Gibson, o ex-presidente Donald Trump e o empresário Elon Musk por sua suposta alusão à teoria da conspiração conhecida como QAnon, que é bastante popular entre a extrema-direita nos EUA. 

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A teoria de QAnon conspira na existência de uma rede global formada por adoradores do Satanás, pedófilos e canibais responsáveis pelo tráfico sexual de crianças. A narrativa falsa ainda diz que Trump seria o responsável por acabar com essa rede e, portanto, os seus membros estariam conspirando para tirá-lo do poder, por isso Trump não teria sido reeleito à presidência – o que resultou nos atentados ao Congresso dos Estados Unidos no início de 2021.

O título do longa reforça a teoria, já que Som da Liberdade coloca um típico cidadão estadunidense – cristão, pai de família e conservador – para lutar contra uma rede de tráfico internacional de crianças. Apesar do filme não fazer nenhuma alegoria a supostas maquinações pedófilas de esquerda, se dificultou desvincular a polêmica do filme depois de Cazeviel apoiar publicamente a teoria conspiratória.

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Além disso, o ex-presidente dos Estados Unidos é um dos maiores apoiadores do filme, o que reforçaria a relação de Som da Liberdade à teoria QAnon. O empresário, além de divulgar a produção, dizendo que ela era um retrato do que deveria ser combatido a todo custo, também realizou uma exibição exclusiva do filme em um clube particular em Nova Jersey.

O que os realizadores dizem?

Em entrevista ao Los Angeles Times, Alejandro Monteverde, diretor de Som da Liberdade, afirmou que, inicialmente, não queria se envolver com as polêmicas acerca do filme: “Eu não quero ser parte de nada que caia na área da política. Então, quando eu comecei a ver a divisão, meu primeiro instinto foi correr. Porém, mais tarde, eu percebi que, por me distanciar, a história não estava sendo mostrada”, declarou.

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Na conversa, o cineasta ainda admitiu que o fato de Jim Caviezel, protagonista do longa, ser um forte apoiador da QAnon, entre outras teorias da conspiração da extrema-direita, teve um impacto na promoção do filme, mas isso não estava alinhado a “como eu sou como pessoa, como cineasta e como contador de histórias”.

*texto originalmente publicado pelo CineBuzz

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