Por que “Som da Liberdade” é o filme mais polêmico do ano?

Produção cristã foi acusada de ser um veículo de propagação da QAnon, uma teoria conspiratória da extrema-direita

Considerado o filme mais polêmico do ano, “Som da Liberdade” chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, dia 21 de setembro, adaptando a história real de Tim Ballard, ex-agente do governo norte-americano, que abandonou uma profissão estável para se dedicar ao combate ao tráfico sexual infantil ao redor do mundo.

Desde a sua estreia nos Estados Unidos, em junho deste ano, “Som da Liberdade” vem acumulando críticas ao mesmo tempo em que se torna um fenômeno cinematográfico. Apenas no país, o longa independente, realizado com a ajuda de financiamento coletivo, arrecadou mais de US$ 180 milhões (cerca de R$ 873 milhões na cotação atual) em bilheteria até o momento. 

Qual é a história de “Som da Liberdade”?

“Som da Liberdade” é a adaptação cinematográfica da história de Tim Ballard, um agente especial do governo norte-americano, responsável por prender pedófilos há mais de uma década, salvando as vidas de incontáveis crianças, mesmo sem nunca ter levado nenhuma delas de volta para os seus lares.

Confrontado com essa realidade, Ballard, vivido no filme por Jim Caviezel (Jesus Cristo em “A Paixão de Cristo”, de 2004), vê a possibilidade de mudar o foco do seu trabalho e, logo em sua primeira missão, é bem-sucedido e acaba recuperando o pequeno Miguel (Lucás Ávila, “Enfermeras”), devolvendo-o ao seu pai, Roberto (José Zúñiga, “Crepúsculo”).

No entanto, a irmã de Miguel, Rocío (Cristal Aparicio, “Perdida”), que foi sequestrada junto com ele, continua desaparecida, o que leva Ballard, um homem cristão, casado e pai de cinco filhos, a se colocar no lugar de Roberto e passar a dedicar os seus próximos passos ao resgate da garota e outras tantas crianças, vítimas de tráfico sexual internacional. Assista ao trailer:

O que há de tão polêmico no filme?

Bastante mediano como produção cinematográfica – CineBuzz já viu o filme e você pode ler a crítica clicando aqui -, “Som da Liberdade” acabou se tornando o “Barbie” dos conservadores estadunidenses, por sua temática delicada e viés religioso.

Aumentando a sua popularidade, o longa recebeu o apoio de movimentos conservadores de extrema-direita, especialmente de simpatizantes da QAnon, uma teoria conspiratória, que acredita na existência de uma rede global formada por adoradores do Satanás, pedófilos e canibais responsáveis pelo tráfico sexual de crianças.

Pró-Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, a teoria ainda diz que o empresário seria o responsável por acabar com essa rede e, portanto, os seus membros estariam conspirando para tirá-lo do poder, por isso Trump não teria sido reeleito à presidência – o que resultou nos atentados ao Congresso dos Estados Unidos no início de 2021.

A associação é fácil de entender, já que “Som da Liberdade” coloca um típico cidadão estadunidense – cristão, pai de família e conservador – para lutar contra uma rede de tráfico internacional de crianças. É como se Trump resolvesse agir e acabar com os pedófilos sozinho, como os seus seguidores acreditam que ele faria, caso tivesse sido reeleito.

O ex-presidente dos Estados Unidos é, inclusive, um dos maiores apoiadores do filme, o que reforçaria a relação de “Som da Liberdade” à teoria QAnon. O empresário, além de divulgar a produção, dizendo que ela era um retrato do que deveria ser combatido a todo custo, também realizou uma exibição exclusiva do filme em um clube particular em Nova Jersey.

O que os realizadores dizem?

Em entrevista ao Los Angeles TimesAlejandro Monteverde, diretor de “Som da Liberdade”, afirmou que, inicialmente, não queria se envolver com as polêmicas acerca do filme: “Eu não quero ser parte de nada que caia na área da política. Então, quando eu comecei a ver a divisão, meu primeiro instinto foi correr. Porém, mais tarde, eu percebi que, por me distanciar, a história não estava sendo mostrada, declarou.

Na conversa, o cineasta ainda admitiu que o fato de Jim Caviezel, protagonista do longa, ser um forte apoiador da QAnon, entre outras teorias da conspiração da extrema-direita, teve um impacto na promoção do filme, mas isso não estava alinhado a “como eu sou como pessoa, como cineasta e como contador de histórias”.

À Variety, Monteverde explicou que começou a trabalhar no filme em 2015, cerca de dois anos antes do surgimento da teoria QAnon, e disse que ficou “realmente doente” por conta dos ataques que o filme passou a receber antes mesmo da estreia nos cinemas. 

“Foi de partir o coração quando eu vi toda a polêmica e toda a controvérsia acontecendo. (…) Olha, quando eu contrato as pessoas, eu não posso controlar o que elas fazem em seu tempo livre”, afirmou. “Eu era um diretor. Eu escrevi o roteiro. Eu contratei o ator que considerei ser o melhor para o filme. O tema era bastante pessoal para ele.”

É real ou não?

Outra polêmica sobre o filme é a afirmação de que “Som da Liberdade” é inspirado em uma história real. De fato, o filme conta a história de Tim Ballard, que era agente do governo norte-americano e abandonou o trabalho para fundar a Operation Underground Railroad (O.U.R.), organização sem fins lucrativos de combate ao tráfico sexual infantil.

No entanto, o próprio Ballard admitiu, em entrevista ao canal The Victory Channel, que nem tudo é real na produção: “Algumas coisas são definitivamente exageradas. [O filme] me faz parecer muito mais legal do que sou, por exemplo”, brincou na ocasião.

Ao longo dos anos, a própria O.U.R. foi acusada de exagerar no relato de algumas de suas missões, como revelou uma reportagem da VICE News, de 2020, que apontou a falta de provas dos feitos “heróicos e excitantes” de Ballard e a organização:

“Ballard disse repetidamente que a O.U.R. desempenhou um papel central em um grande caso de combate ao tráfico humano no estado de Nova York e insinuou que ajudou a resgatar uma vítima desse caso, quando, na realidade, de acordo com transcrições judiciais e outros registros analisados pela VICE World News, a vítima corajosamente escapou do seu traficante por conta própria”, diz a publicação.

Acusação de má conduta sexual

No início deste ano, Tim Ballard se desligou da Operation Underground Railroad e, agora, uma nova reportagem da VICE pode ter revelado o motivo: sete mulheres acusam o fundador e ex-presidente da organização de má conduta sexual durante missões realizadas pela O.U.R..

Segundo a reportagemBallard convidaria mulheres para se disfarçarem como suas esposas em missões para resgatar vítimas de tráfico sexual. Então, de acordo com as vítimas, ele tentaria coagir essas mulheres a dividir a cama com ele ou a tomar banhos juntos, afirmando que a “tática” seria uma forma de enganar os traficantes.

Uma das vítimas ainda revelou ter recebido uma foto de Ballard de cueca, com o corpo coberto de tatuagens falsas, e sido questionada pelo ex-agente “quão longe ela estava disposta a ir” para salvar crianças.

Tim Ballard ainda não comentou as acusações. Contatada pela VICE, a O.U.R. reafirmou que Ballard já não fazia mais parte da organização e acrescentou: “A O.U.R. é dedicada a combater o abuso sexual e não tolera assédio sexual ou discriminação por ninguém dessa organização”.

Para qual lançamento de 2023 você está mais ansioso? Vote em seu filme favorito!

  • “As Tartarugas Ninja: Caos Mutante” (31 de agosto)
  • “A Freira 2” (7 de setembro)
  • “A Noite das Bruxas” (14 de setembro)
  • “Som da Liberdade” (21 de setembro)
  • “Jogos Mortais X” (28 de setembro)
  • “Assassinos da Lua das Flores” (19 de outubro)
  • “Duna: Parte” (2 de novembro)
  • “As Marvels” (10 de novembro)
  • “Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” (16 de novembro)
  • “Aquaman e o Reino Perdido” (21 de dezembro)
  • “Rebel Moon” (22 de dezembro)

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