‘One Piece’ é a melhor adaptação de um mangá fora do Japão

Quando digo “marca”, o certo seria “império de mídia”. “One Piece” ganhou um anime em 1999 que também já soma mais de mil episódios, com outros 14 longa-metragens em animação e mais uma dúzia de especiais para a televisão. É, de longe, o mangá mais vendido da história, e uma propriedade intelectual com estofo para ir muito além de sua base de fãs. O cuidado com uma série live action, portanto, é justificado.

O fato de Oda manter os olhos grudados na produção não foi apenas uma jogada de marketing, e sim um ótimo exemplo de controle de qualidade. Em muitas adaptações de mangás e animes por Hollywood, o senso de humor bizarro e os conceitos visuais absurdos são suavizados e enfraquecidos por conta da miopia de muitos executivos temerosos de o produto não encontrar seu público.

Esse pensamento viu obras como “Ghost in the Shell” e “Cowboy Bebop” esvaziadas em conceito, sobrando um vislumbre de seu apuro visual. “One Piece”, por outro lado, não tem o menor pudor em assumir um senso de humor decididamente tolo, embalado por personagens por vezes ridículos, com todo o pacote se mostrando charmoso e empolgante. São bons personagens em uma trama simples de seguir, que adapta com respeito a obra de Oda.

À frente de “One Piece” está Monkey D. Luffy (o espetacular Iñaki Godoy, que a gente quer imediatamente como melhor amigo), um autoproclamado pirata que, auxiliado por seu corpo de borracha e entusiasmo aparentemente infinito, busca o “one piece”, um tesouro mítico que o tornaria Rei dos Piratas. Em sua jornada ele forma uma tripulação com a ladra Nami, o espadachim Zono (Mackenyu, que se redime aqui do fiasco “Os Cavaleiros do Zodíaco”), o atirador/inventor Usopp e o cozinheiro/artista marcial Sanji.

Luffy mostra que é bom de briga em 'One Piece'
Luffy mostra que é bom de briga em ‘One Piece’ Imagem: Netflix

A melhor coisa em “One Piece” é dispensar qualquer conhecimento do material original para ser apreciado. Sem exigir uma bula – o que, depois de mil episódios em mangá e anime, seria proibitivo -, os produtores criaram a melhor versão possível sem abrir mão de sua excentricidade e criatividade. Existe em “One Piece” um pouco da loucura narrativa do Terry Gilliam de “As Aventuras do Barão Munchausen”, da inventividade prática de Tim Burton em “Beetlejuice” e da bobeira pop do “Batman” dos anos 1960.

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