Seja no balcão dos restaurantes temporários que circundam o Parque Villa-Lobos ou nos auditórios a céu aberto que viram salas de aula, quem foi ao Taste Festival neste sábado (19) conseguiu interagir com uma dezena de chefs renomados do Brasil.
O evento, que começou nesta sexta-feira (18) e se estende até o próximo final de semana, recebeu mais de 12 mil pessoas só no sábado. Mais de 30 restaurantes, dos grandes aos pequenos, e marcas famosa do setor ofereceram amostras grátis de drinques e doces, pratos famosos e aulas de diferentes gastronomias.
Às 13h, o cheiro de brasa acesa dominava o espaço onde o chef Jefferson Finger ensinava os métodos de churrasco do seu restaurante, o Barbacoa, para 80 pessoas.
Finger mostrou como um chef acende o braseiro com álcool em gel em segurança e prepara as carnes. Na aula, o chef transformou uma peça de 7kg de alcatra completa em outros cortes, como picanha e maminha, que viram bifes para serem grelhados.
De tempero, só um sal comum mesmo, e antes de entrar na grelha. “A ideia foi passar as técnicas profissionais para ensinar como as pessoas podem fazer no dia a dia, em casa”, explica Finger. “Do cuidado com a carne, que precisa começar no dia anterior, ao preparo do braseiro”.
Outra aula que lotou foi a do chef Edson Leite, da Gastronomia Periférica. “Ele ensinou como defumar vegetais com um método que usa água, além de explicar o contexto histórico da técnica, o que foi ótimo”, conta a professora Ellen Miquelino, 24.
“Deu vontade de aplicar em casa, com as devidas adaptações”.
Para Luiz Américo, consultor e curador do Taste SP, as aulas trazem um conteúdo de ótima qualidade, de jeito divertido e leve, mas sem ter um discurso intelectualizado.
“A ideia é aproximar as pessoas da gastronomia”, explica. “Não só da alta, mas de vários estilos. A gente quer inspirar as pessoas a cozinhar, a falar e entender um pouco sobre comida”. Américo argumenta que o contato do público com os chefs quebra essas barreiras de conhecimento.
A chef Mariana Pelozio, da Tirolez, acredita que essa troca de experiências com o público ajuda na descoberta de outros gostos e combinações ainda não conhecidas.
Para todo evento, Pelozio trouxe 650kg de queijos especiais para ensinar técnicas de harmonização de cervejas com brie, parmesão ou provolone. “São combinações que as pessoas podem fazer no dia a dia. O queijo do reino, por exemplo, combina com cervejas frutadas, mais doces”, explica.
Cozinhas artesanais, com cardápios mais exóticos, também fazem parte do aprendizado e degustação do evento. O chef Renato Vea, do Vea’s Charcutaria Artesanal, do centro de São Paulo, mostrou ao público que carteira de produtos inclui salame de javali (R$ 360/kg), file de porco maturado a 180 dias (R$ 300kg), salame com cordeiro (R$ 350) e copa do lombo do javali (R$ 380).
Para acompanhar as carnes, a Vea’s sugere diferentes molhos, como um ketchup de abacaxi, geleia de pimenta e molho de chimichurri. Para quem nunca provou esse tipo de charcutaria, é uma oportunidade.
Os pratos mais diferentes foram os que mais chamaram a atenção de Pedro Sabioni, 21, que trabalha como administrador de empresas. Seu favorito foi o pastel de arraia (R$ 25), do Preto Cozinha. “Não poderia perder a oportunidade. “Comeria outro”, diz.
Outro prato que chamou sua atenção foram as ostras com algas, do Aizomê. Sabioni afirma que a última vez que havia comida o prato foi há mais de 15 anos, mas que gostou bastante da combinação.
Quem empratou o pedido de Sabioni foi a própria chef Telma Shiraishi. Quem vai ao estande do Aizomê pode ver a chef cortando ostras e empratando vieiras. À Folha, Shiraishi afirmou que, pelo calor, as ostras têm sido as preferidas pelo público durante à tarde.
“Trouxemos mais de mil ostras só para esse final de semana e precisamos pedir mais”, afirma. Já na parte da noite, a pedida é o missô ramen, com barriga de porco, broto de bambu e cogumelo.
Também à noite, Shiraishi trocou o balcão do Aizomê pelo auditório ao ar livre para ensinar churrasco japonês. “Quando se fala em churrasco, as pessoas esquecem que o Japão também tem tradição nessa culinária”.
A chef mostrou como grelhar enguias, língua de Wagyu e legumes em um carvão especial à base de carvalho sem odor. O churrasco japonês, continua Shiraishi, tem pequenas porções, mas diversidade de pratos.
A interação com os alunos é positiva, segunda a chef. É bom ver os clientes de perto e mostrar como trabalham. “Muitas pessoas nunca tiveram oportunidade de ver uma ostra sendo aberta, por exemplo”, explica.
Outro ponto positivo do evento, na visão público, foi a diversidade de cardápio. Os diferentes menus, explica Américo, curador do festival, ajudam também a criar um público maior para esses chefs. “Esse é nosso papel, esse elo entre o público e os chefs. É uma marca assim fundamental do Taste Festival”.