Aconteceu neste fim de semana. Estava eu comprando alguns gibis e, já no caixa, prestei atenção no assunto da vez na loja: a correria para garantir ingressos para o “Barbieheimer”. A turma estava eufórica para decidir qual filme ver primeiro em sua estreia, pensando se encaravam sessões em conjunto oferecidas em “pacote” por alguns cinemas ou se escolhiam horários diferentes no mesmo dia. Não importa. A prioridade eram os dois filmes.
Para quem não acompanhou o oba oba das últimas semanas, “Barbieheimer” é o apelido carinhoso dado ao fim de semana de estreia tanto de “Oppenheimer”, drama assinado por Christopher Nolan sobre o criador da bomba atômica; e “Barbie”, aventura com Margot Robbie que traduz para o cinema o mundo da boneca mais famosa do planeta.
Embora um tom de rivalidade tenha sido ensaiado quando ambos os filmes cravaram a mesma data, parece que a animosidade se tornou uma celebração da experiência do cinema. Afinal, são propostas diferentes que, se parecem tão antagônicas em teoria, na prática tem o mesmo objetivo de arrastar a plateia para a sala escura. Entretenimento é isso aí!
Não é a primeira vez que grandes filmes batem cabeça em sua estreia nos cinemas americanos. Para os estúdios nunca é o cenário ideal, já que ninguém quer dividir a atenção de seu produto. Se por vezes essa briga traz como protagonistas filmes radicalmente diferentes, em outras eles competem pelo mesmo público, deixando na esteira um clima de “que vença o melhor”.
Separei a seguir cinco destes encontros de titãs – por vezes, de Davi e Golias. E um sexto como sobremesa, mostrando que o clichê é real: quem ganha nessas batalhas sempre é a plateia. Mesmo que seja a primeira vez que vejo algo como “Barbieheimer” imortalizado em camisetas.
“BLADE RUNNER” X “O ENIGMA DE OUTRO MUNDO”
25 de junho de 1982
O mundo havia se apaixonado por “E.T. – O Extraterrestre” meras duas semanas antes de a ficção científica virar uma esquina mais sombria na temporada do verão ianque em 1982. Ninguém entendeu nada, muito menos o público, que deu de ombros para os filmes de Ridley Scott e de John Carpenter. O tempo, claro, foi o senhor da razão, e tanto “Blade Runner” quanto “O Enigma de Outro Mundo” hoje gozam do status de obras essenciais na história do cinema.
Vencedor: o fã de filmes de ficção científica nada fofinhos
“OS CAÇA-FANTASMAS” X “GREMLINS”
8 de junho de 1984
Às vezes um combate termina sem vencedores. Em 1984 a comédia sobrenatural e os monstrinhos politicamente incorretos estrearam com US$ 1 milhão de diferença nas bilheterias e terminaram o ano em segundo (“Os Caça-Fantasmas”) e quarto (“Gremlins”) lugares entre os filmes mais lucrativos. É inegável, porém, que a turma de Nova York, encabeçada por Bill Murray, conseguiu mais espaço e relevância na cultura pop.
Vencedor: “Os Caça-Fantasmas”
“OS DONOS DA RUA” X “CAÇADORES DE EMOÇÃO”
12 de julho de 1991
No começo dos anos 1990, duas culturas radicalmente diferentes da cidade de Los Angeles bateram os cotovelos nos cinemas. Os surfistas Keanu Reeves e Patrick Swayze deram outro significado ao conceito de “mocinhos e bandidos” (espelhado anos depois em “Velozes & Furiosos”), enquanto John Singleton traçou o retrato mais contundente da cultura afro-americana desde que Spike Lee escancarou as portas com “Faça a Coisa Certa”. Embora “Os Donos da Rua” seja um clássico moderno, “Caçadores de Emoção”, de Kathryn Bigelow, enfronhou-se no zeitgeist com mais fúria.
Vencedor: “Caçadores de Emoção”
“TOY STORY” X “CASSINO”
22 de novembro de 1995
Se a internet fosse alguma coisa em 1995, o embate aqui talvez fosse batizado… “Toyssino”? Foi uma briga boa e eclética. De um lado, Martin Scorsese, um dos maiores diretores da história, voltando suas lentes mais uma vez para o submundo do crime em “Cassino”. Do outro, uma inovação que mudou para sempre o modo de como fazer cinema – além de colocar a Pixar no mapa. O maestro, amparado por Robert De Niro, Joe Pesci e Sharon Stone, é sempre imbatível. Dessa vez, porém, a revolução digital tomou a dianteira.
Vencedor: “Toy Story”
“PIRATAS DO CARIBE” X “A LIGA EXTRAORDINÁRIA”
11 de julho de 2003
Há 20 anos, dois filmes, embalados por produções atribuladas, chegaram ao cinema com a missão de disparar novas séries cinematográficas. “A Liga Extraordinária” tinha mais pedigrée, com Sean Connery à frente da adaptação da série premiada do escritor Alan Moore. Já “Piratas do Caribe” tinha Johnny Depp como o antiastro à frente da adaptação de uma… atração da Disneylândia! Quando a poeira assentou, contudo, deu zebra. Connery se aposentou com o fracasso de “Liga”, que não deu em mais nada, e a Disney ganhou uma de suas séries mais festejadas e lucrativas.
Vencedor: “Piratas do Caribe”
Bonus round
“STAR WARS: A AMEAÇA FANTASMA” X “A CARTA ANÔNIMA”
21 de maio de 1999
Foi como testemunhar um massacre! Uma de minhas primeiras viagens para Nova York foi para acompanhar de perto o fenômeno do retorno de “Star Wars” ao cinema após uma ausência de dezesseis anos. As filas eram intermináveis, a empolgação estava no máximo e a experiência foi… bom, foi aquilo lá. Mas achei espaço na agenda para assistir ao que seria o último filme no cinema da carreira de Kate Capshaw, esposa de um certo Steven Spielberg e estrela de “Indiana Jones e o Templo da Perdição”. “A Carta Anônima”, acredite, é simpático. Pelo menos eu e as três outras pessoas presentes na sessão gostamos.
Vencedor: errr… Jar Jar Binks?