Filme do Zé do Caixão é grotesco e inédito

José Mojica Marins morreu em 2020, mas isso não o impediu de lançar um novo filme em 2023. Na última semana, chegou às salas de exibição “A Praga”, um média-metragem inédito do cineasta conhecido mundialmente como Zé do Caixão, o protagonista de “À Meia-Noite Levarei Tua Alma”, um clássico do cinema brasileiro.

O título traz o que há de melhor no cinema de Mojica: cenas cruas, grotescas, violentas e sensualidade. Entre os temas abordados está, principalmente, como lidamos como o desconhecido.

“A Praga”

Foi concebido por Mojica como um episódio do programa “Além, Muito do Além”, da TV Bandeirantes, que foi ao ar entre 1967 e 1968. No entanto, um incêndio na emissora, em 1980, perdeu o conteúdo.

Em 1980, o cineasta quis refilmar a obra, mas não conseguiu concluir o trabalho. O trabalho então foi considerado perdido.

Anos depois, Eugenio Puppo, da Heco Produções, começou a trabalhar na recuperação das produções de Mojica e conseguiu encontrar os rolos com as gravações originais do projeto.

Filme do Mojica foi remasterizado

Imagem: Divulgação

Liz Marins, filha de Mojica que também é atriz e cineasta, contou a Splash que o conteúdo foi encontrado em sacos pretos, no início dos anos 2000, enquanto a equipe da Heco Produções procurava títulos para exibir em uma mostra de cinema.

Meu pai e eles [da produtora] resolveram dar continuidade a esse filme e gravaram mais algumas cenas que faltavam.
Liz Marins, filha de Mojica

Juntos, cineasta e produtor trabalharam para corrigir as cores e remasterizar os áudios por mais de 15 anos.

'A Praga' chegou aos cinemas em 2023 - André Sigwalt/ Divulgação - André Sigwalt/ Divulgação

‘A Praga’ chegou aos cinemas em 2023

Imagem: André Sigwalt/ Divulgação

Como as gravações das vozes originais nunca foram encontradas, foi preciso incluir uma nova dublagem.

Não havia registro escrito das falas, então a produção contratou uma pessoa com deficiência auditiva para fazer leitura labial dos personagens e poder transcrever para que, depois, atores dublassem o filme.

Toda a história do processo de restauração em 4k é contado no curta-metragem documental “A Última Praga de Mojica”, com direção de Cédric Fanti, Eugenio Puppo, Matheus Sundfeld e Pedro Junqueira. O título é exibido antes de “A Praga”.

Para Puppo, o curta “busca transmitir uma mensagem que chama atenção para as recentes ameaças enfrentadas pela preservação da memória audiovisual. Consideramos essencial destacar os desafios que a preservação audiovisual enfrenta, como a escassez de recursos financeiros e infraestrutura adequada, bem como a falta de políticas públicas específicas para o setor”, disse em entrevista a Splash.

Sobre o que é o filme?

“A Praga” acompanha o casal Marina (Silvia Gless) e Juvenal (Felipe Von Rhein), que está passeando por um campo. Os dois são bastante sensuais e, assim como todos os jovens, se entediam fácil.

'A Praga' acompanha o casal Marina (Silvia Gless) e Juvenal (Felipe Von Rhein), que está passeando por um campo - Divulgação - Divulgação

‘A Praga’ acompanha o casal Marina (Silvia Gless) e Juvenal (Felipe Von Rhein), que está passeando por um campo

Imagem: Divulgação

Para se entreter, param em frente a uma casa onde uma excêntrica idosa (Wanda Kosmo) mora. Eles acham uma boa ideia tirar fotos da senhora, que fica bastante irritada por ser tratada como uma aberração.

Ela se revela uma bruxa e, para se vingar, roga uma maldição em Juvenal, que começa a ser perseguido de maneira psíquica e física, com feridas se abrindo em seu corpo descontroladamente.

Wanda Kosmo interpreta a bruxa de 'A Praga' - Divulgação - Divulgação

Wanda Kosmo interpreta a bruxa de ‘A Praga’

Imagem: Divulgação

O ferimento leva Juvenal a uma fome insaciável por carne crua e precisa ser alimentado constantemente para ser saciado.

É uma obra que ainda carrega um frescor. Não há dúvida de que Mojica permanece um cineasta transgressor e ainda tem muito a ensinar às novas gerações de cineastas, especialmente na forma como desafiou as convenções do cinema tradicional e explorou temas tabus. Ele mergulhou corajosamente em aspectos sombrios da psicologia humana, abordando o medo, a morte, a sexualidade e a religião de maneiras provocativas.
Eugenio Puppo, produtor de ‘A Praga’

Zé do Caixão, o personagem mais famoso de Mojica, não aparece na trama, mas serve como uma espécie de mestre de cerimônia, um narrador da história.

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