Se o seu assessor de investimentos ou gerente de banco parece mais distante ultimamente, não estranhe. A captação de dinheiro pelas empresas via mercado de capitais neste ano até abril foi 40,5% menor do que no mesmo período do ano passado.
Isso contando o valor de tudo que é tipo de papel: debêntures, CRIs, CRAs, fundos imobiliários, emissão de novas ações etc.
Os grandes números contam parte da história: o volume emitido de janeiro a abril atingiu R$ 82,6 bilhões, ante R$ 138,8 bilhões do período em 2022. Na quantidade de operações feitas, são 503 ante 643 (queda de 21%).
Mais preocupante do que os números, como sempre, são os porquês. São eles que devem interessar os investidores. Altas e baixas, seja na Bolsa, seja na economia real, não te ajudam a tomar boas decisões. Entender as razões de cada movimento pode ajudar.
Sabe o que as empresas farão com o dinheiro que captaram neste ano? Expandir? Aumentar receitas? Criar novas áreas? Inovar? Pesquisar? Nada disso.
As operações de refinanciamento de passivo representam 31,6% das feitas em 2023, ante 19,2% no fim do ano passado, explica a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Por pouco, as operações de capital de giro foram as predominantes, com 32,1%.
Em resumo: as empresas estão evitando ir a mercado atrás de dinheiro e, quando topam passar com o pires na mão, é para cobrir as contas do dia a dia ou empurrar dívidas.
Caixas apertados levam normalmente a escolhas ruins. Na vida pessoal e na vida corporativa. O senso de urgência em pagar as contas faz com que o devedor aceite propostas que não aceitaria em momentos melhores.
Empresas mais novas, que entraram no mercado dependendo de crescimento com publicidade ou aquisição de outras companhias, estão em sofrimento —suas ações mostram isso. Empresas como Enjoei (ENJU3); GetNinjas (NINJ3); e T4F (SHOW3, antiga Time For Fun) viram suas ações despencar 54%, 11% e 55%, respectivamente, nos últimos 12 meses. O Ibovespa subiu 2,3% no período.
Os balanços mais recentes dessas três empresas, divulgados na semana passada, mostram que elas têm mais dinheiro em caixa do que valor de mercado (o que valeria, em hipótese, a venda de todas as suas ações existentes).
Há quem diga que uma ação está barata quando o caixa da empresa já cobriria o valor dela mesma no mercado, mas trata-se apenas de futurismo sem sentido. O que isso mostra, na verdade, é que, na visão dos grandes investidores, essas companhias quase não são mais capazes de gerar valor. Em outras palavras, aponta que ninguém quer pegar a faca caindo.
Uma mudança na facilidade de acesso a dinheiro novo (como queda de juros) ou uma mudança drástica no direcionamento desse tipo de empresa pode mudar o cenário. Porém, até lá, são mais histórias tristes para servir de exemplo quando o dinheiro e o otimismo sem sentido voltarem a jorrar no mercado.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.