Todas as fronteiras do Peru em estado de emergência

Outra vez, Dina Boluarte em seu labirinto

Dina Boluarte não só está resignada aos afazeres quase domésticos do Palácio de governo, quando não se dedica a ler, quase sem compreender, os discursos e narrativas que os “notáveis” servidores do poder fáctico escrevem para ela, e que não se omitem com relação às decisões filo fascistas assinadas pelo Executivo.

Para o caso da crise migratória, a “solução” foi o decreto que instalou o estado de emergência por 60 dias em todas as províncias e distritos que possuem zonas de fronteiras internacionais: Tumbes, Piura, Cajamarca, Amazonas, Loreto, Madre de Dios e Tacna. Junto com isso, está o regime de exceção imposto à região de Puno. 

Com esta medida, ficam restritos os direitos à livre circulação pelo território nacional e os de reunião e segurança. Ademais, as fronteiras nacionais passaram a ter efetivos da Polícia Nacional e das Forças Armadas, em ação combinada para “evitar migrações ilegais”.

O que dá a medida da norma que é aplicada é a “alta criminalidade no Peru associada à migração ilegal”, sem nenhum respaldo em dados específico e sim na propaganda anti-Maduro, que transforma os venezuelanos que vivem no país em delinquentes ou potenciais delinquentes. 

Diante disso, Boluarte reitera, com patética ignorância, que dessa forma se “preservará a ordem interna e os direitos constitucionais”.

Incapacidade punível de governos

Esta é uma crise humanitária, não há como negar. Não apresenta atos de violência ou abusos como os vistos em processos migratórios em outros continentes. Essas pessoas só querem voltar para casa, e os governos do Peru e Chile deveriam agir coordenadamente, com responsabilidade.

O governo peruano enche a boca dizendo que deve implementar uma “ajuda humanitária”, mas não faz absolutamente nada há quase 20 dias, quando começaram a chegar os venezuelanos, haitianos, colombianos e equatorianos à fronteira com o Chile, dizendo que queriam voltar aos seus países. 

Boluarte não entende o problema e apela à violência contra os migrantes ilegais, justificada no discurso do “risco à segurança interna” ou em ameaças de apelar a “soluções militares”. 

O governo peruano não entende que não há força policial nem militar capaz de evitar o movimento de seres humanos pelo mundo, muito menos em tempos em que o neoliberalismo precariza o trabalho e alimenta ilusões de que “em outro país” poderiam ter melhor sorte. O drama de mulheres e crianças é insultante para qualquer ser humano, assim como o de idosos. 

Os governos de Peru e Chile não podem mais se omitir e precisam atuar de maneira rápida e eficaz para resolver a crise.

Superar as travas burocráticas e diplomáticas é urgente. A atitude da chanceler peruana Cecília Gervasi, de reproduzir o discurso discriminatório da extrema direita, está carregada de insensibilidade e ineficiência do ponto de vista diplomático.

A diplomacia do Peru já não é mais a que foi há uma década. Os que lideram as relações exteriores do país atualmente têm desprestigiado o histórico Torre Tagle [o Itamaraty peruano], dilapidando uma fama merecida, conquistada em tempos passados, de modelo regional a ser seguido.

Deixe um comentário