Mulheres e jovens sofrem mais com transtornos de imagem – 04/05/2023 – Equilíbrio

Com base em dados de dois questionários respondidos por 1.750 voluntários, pesquisadores brasileiros identificaram um conjunto de características que tornam uma pessoa mais propensa a desenvolver transtornos mentais associados à imagem corporal e à alimentação.

De acordo com o estudo, o problema afeta principalmente as mulheres, os mais jovens, os consumidores de suplementos fitness ou de substâncias farmacológicas para mudar a forma corporal. Também entram na lista os adeptos de dietas restritivas, os sedentários, pessoas com diagnóstico de obesidade ou sobrepeso e que fazem uma avaliação ruim da própria alimentação.

O levantamento foi conduzido por pesquisadores das Unesp (Universidade Estadual Paulista) e Unifal (Universidade Federal de Alfenas) e recebeu financiamento da Fapesp. Os resultados foram divulgados na revista Environmental Research and Public Health.

Segundo os autores, conhecer o perfil dos indivíduos mais vulneráveis a esse tipo de transtorno do corpo pode subsidiar estratégias preventivas e de promoção da saúde.

“Há uma preocupação mundial com doenças como diabetes, hipertensão e obesidade, que afetam a saúde da população em grande proporção. Porém, existem outras condições, como os transtornos alimentares, que são subdiagnosticados e desconsiderados, embora também afetem substancialmente a saúde das pessoas. É preciso levar em conta que uma relação ruim com a comida pode anteceder uma série de problemas físicos e mentais”, afirma Wanderson Roberto da Silva, professor da Unifal e coautor do artigo.

Ainda segundo o pesquisador, é importante considerar que, embora transtornos como compulsão alimentar, anorexia e bulimia nervosa tenham baixa prevalência na população, podem desencadear problemas sérios. “Eles estão fortemente associados a afetividades negativas, como ansiedade, estresse e depressão, que estão entre os principais desafios em saúde do século 21”, pontua.

No trabalho, os pesquisadores aplicaram dois questionários para examinar a relação entre “atenção à forma corporal”, “ansiedade física social” e “características pessoais dos participantes”.

Na primeira etapa do estudo, que envolveu 1.750 adultos brasileiros, foi identificado que, quanto mais os indivíduos dão atenção à forma corporal, mais propensos são a esperar uma avaliação negativa de sua forma física. Além disso, tendem a estar menos confortáveis com a apresentação física do corpo.

As características mais comuns entre os que apresentaram níveis elevados de atenção à forma corporal foram: sexo feminino, consumo de suplementos fitness ou de substâncias farmacológicas para mudar a forma corporal e realização frequente de dietas restritivas.

Já entre aqueles que apresentaram maior expectativa de avaliação negativa da forma física, os traços mais comuns foram: sexo feminino, ser considerado um jovem adulto, consumir substâncias farmacológicas para mudar a forma corporal, sedentarismo, autoavaliação negativa da qualidade da alimentação e presença de sobrepeso ou obesidade.

Os pesquisadores observaram ainda que entre os indivíduos que estavam mais confortáveis com o próprio corpo em geral eram mais velhos, do sexo masculino, sem sobrepeso ou obesidade, não faziam uso de substâncias farmacológicas para modificar a forma corporal, não realizavam dietas restritivas e praticavam atividade física. Além disso, nesse grupo, a autoavaliação da qualidade da alimentação foi mais positiva.

O corpo real

Na segunda etapa do estudo, os pesquisadores avaliaram uma subamostra composta por 286 indivíduos submetidos a teste de bioimpedância, feito em um tipo de balança capaz de medir aspectos como o percentual total de gordura, a massa magra e o nível de gordura visceral.

“Com essa análise, observamos que a composição corporal do indivíduo influenciou a percepção em relação à forma física do corpo. As pessoas com maior quantidade de gordura e menor massa muscular foram as mais suscetíveis a problemas”, relata o pesquisador.

De acordo com o estudo, portanto, pessoas que têm uma preocupação excessiva com o corpo, a ponto de isso gerar ansiedade, podem apresentar comportamentos disfuncionais tanto em relação à alimentação quanto ao corpo.

“A grande questão do trabalho é destacar que existem características individuais que sugerem maior vulnerabilidade a comportamentos disfuncionais em relação à imagem corporal negativa e alimentação transtornada. É importante prestar atenção a esses comportamentos, pois eles representam a raiz de problemas futuros. Com isso em mente, tem-se a oportunidade de desenvolver ações mais assertivas de prevenção de doenças e promoção da saúde, seja em contexto coletivo ou individual”, diz.

O trabalho foi desenvolvido com foco nos aspectos cognitivos (como a atenção à forma corporal) e afetivos (como a ansiedade gerada quando o corpo é exposto) da imagem corporal. Segundo o pesquisador, a ansiedade está relacionada com o comportamento alimentar e com a relação que as pessoas têm com a própria imagem corporal.

“Isso influencia as ações. Portanto, uma pessoa com um nível alto de ansiedade pode se tornar mais suscetível a ter algum transtorno alimentar, especialmente se possui problemas com a imagem corporal. Pode usar estratégias inadequadas visando mudar a imagem corporal, sem nenhum tipo de supervisão por profissional capacitado, e isso comprometer sua saúde em vez de melhorá-la”, diz.

Entre os exemplos de comportamentos disfuncionais estão a adoção de dietas restritivas ou da moda sem acompanhamento especializado, a prática de exercício físico excessivo sem supervisão e o consumo de suplementos alimentares ou substâncias potencialmente danosas (anabolizantes, por exemplo). “Como se vê, são várias estratégias que podem desestruturar a vida de um indivíduo em vários aspectos, afetando tanto sua saúde física quanto mental e social”, destaca.

Deixe um comentário