“Avatar: O Caminho da Água”, “Babilônia”, “Tár” e “Os Fabelmans”. Os quatro filmes estão em evidência por serem indicados ao Oscar de Melhor de 2023, mas também compartilham outra característica: todos têm mais de duas horas e meia de duração. São 3h12m, 3h09m, 2h38m e 2h31m respectivamente.
Há quem reclame da duração de filmes e defenda que os títulos devem durar no máximo uma hora e meia. Em algumas plataformas de streaming, há até mesmo listas com títulos que se estendem por apenas 90 minutos.
Com vídeos curtos, como no TikTok, e a opção de algumas plataformas de acelerarem o conteúdo, a impressão é que de está cada vez mais difícil aceitar que precisamos de filmes que demorem muito para terminar.
Para Franthiesco Ballerini, doutor em Processos Socioculturais e autor do livro “Jornalismo Cultural no Século 21”, a discussão sobre a duração de conteúdo é uma “questão geracional”. Ele acredita que estamos lidando com “a impaciência que essas novas gerações têm e a questão do próprio streaming que dá a facilidade para você muda e acessar outra obra rapidamente”.
“Eu, como professor universitário, sinto nos meus alunos uma completa impaciência de muitos deles, que não chegam até a um terço de muitos filmes. Sendo que a gente sabe, especialmente na linguagem clássica americana, o qual é o primeiro terço que vai definir um pouco da história, da narrativa, então você precisa chegar nisso pelo menos.”
Hoje, a oferta de conteúdo é muito maior do que há anos, deixando aberta a possibilidade de comparações. Por exemplo: uma pessoa que for ao cinema hoje, pode assistir às 3 horas e 12 minutos de “Avatar: O Caminho da Água” ou à uma hora e 42 minutos de “M3gan”. A diferença nesta escolha está no tipo de filme a ser consumido, com alguns quesitos a serem considerados.
O segundo filme de “Avatar” tem a seu favor ser a continuação de um dos longas de maior sucesso de todos os tempos e entrega diversas sequências deslumbrantes visualmente. O espectador que aceita passar mais de três horas dentro da sala de cinema leva isso em conta.
Já alguém que vá assistir à “M3gan”, um título dirigido por um diretor desconhecido, que não faz parte de uma série de outros filmes, precisa ser convencido e, um longa de uma hora e pouco é muito mais atraente.
Roberto Sadovski, crítico de cinema e colunista do UOL, acredita que nada mudou. “No cinema, as coisas continuam como sempre foram. Filmes longos são comuns desde os anos 1930.” Vale dizer que um dos filmes mais famosos da história do cinema, “E O Vento Levou?” tem a duração de três horas e 58 minutos. Portanto, as suas quase quatro horas não se tornaram motivo para que a obra não fosse assistida.
Para o colunista do UOL, chega a ser contraditório dizer que Hollywood nos força a assistir a conteúdos longos. “Exibidor até prefere filmes curtos. Aumenta o número de sessões diárias. É melhor do ponto de vista comercial. Produtores malandros também gostam de retalhar a metragem justamente para isso.”
E no streaming?
Sadovski defende que, diferente do que poderíamos imaginar, “o streaming até estimula filmes maiores”. “As pessoas desenvolveram o hábito de maratonar séries. Tamanho, então, passa a ser irrelevante para boa parte do público que vê filmes em casa.”
“Eles pausam. Começam num dia e terminam em outro. A experiência deixa de ser contínua. Então o tamanho do filme deixa de ser um fator.”
A prova disso são filmes como “O Irlandês”, da Netflix, com 3 horas e meia de duração, e “Liga da Justiça de Zack Snyder”, com quatro horas e dois minutos. Ambos os casos, os diretores mostraram momentos que poderiam ser pausados os conteúdos consumidos em episódios.