Assunto popular nas redes sociais e presença inusitada em algumas academias, os chamados “vapes vitamínicos” prometem melhorar o desempenho durante atividade física. Não deixam de ser, porém, cigarros eletrônicos.
Os produtos não são seguros, benéficos à saúde ou desenvolvidos a partir de estudos que comprovem sua eficácia. A Anvisa e especialistas alertam para o desconhecimento de sua composição e destacam que a venda de cigarros eletrônicos é proibida no Brasil.
Em propaganda veiculada nas redes sociais, a empresa Iz Health anunciou um “pod [cigarro eletrônico] sem nicotina”, que supostamente ofereceria suplementos e nutrientes, como a vitamina B12. No vídeo, a empresa alega que seu produto não traz malefícios à saúde e promete melhora na disposição e no desempenho ao se exercitar.
O cigarro eletrônico divulgado é chamado “power”, que ofereceria a “energia necessária para realizar as mais variadas tarefas”, além de garantir alta performance e dias mais produtivos. Também são oferecidas outras variedades do produto, como o denominado “concentrado vitamínico”, com objetivos que vão desde facilitar o sono até melhorar a imunidade.
https://twitter.com/Lucassakamotoo/status/1619746746216886273
Após a publicação do vídeo, discussões sobre o assunto viralizaram nas redes e a empresa apagou seus perfis no Instagram e no TikTok e manteve apenas o canal no YouTube. O primeiro vídeo publicado pela conta é de maio de 2022, onde são anunciados os cigarros eletrônicos.
A Folha não encontrou nenhum canal para contato ou registro oficial da Iz Health no Brasil, como CNPJ, sede ou site oficial. Ainda é possível, porém, encontrar o produto à venda online por cerca de R$ 55.
O pneumologista Paulo Corrêa, coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, destaca que os riscos ainda estão sendo estudados.
“No cigarro eletrônico, existem cerca de 2.000 substâncias químicas, a maioria desconhecida”, afirma. “As que conhecemos, sabemos que não foram estudadas para uso inalatório.”
Apesar da presença de vitaminas ser comumente associada a benefícios à saúde, não se sabe ao certo quais outros componentes estão presentes nesse cigarro. Mesmo que o anúncio indique a ausência de nicotina, Corrêa alega que isso não pode ser confirmado antes de uma análise da composição em laboratório.
O especialista alerta também para a ocorrência de Evali (doença pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico, na sigla em inglês), que se relaciona à presença de acetato de vitamina E neste tipo de produto. “Não é porque é vitamina que faz bem à saúde em qualquer circunstância.”
O posicionamento da Anvisa vai ao encontro da recomendação do especialista. O órgão destaca que não se sabe o perfil de toxicidade das substâncias utilizadas e reforça que dispositivos eletrônicos para fumar e quaisquer acessórios destinados a esse uso são proibidos no Brasil.
Além disso, a agência ressalta que não é permitida a comercialização de vitaminas em forma de vaporizadores e, por isso, o produto não pode ser vendido como suplemento. O consumo de vitaminas por via inalatória também não é recomendado.
Corrêa diz que muitas substâncias que podem ser ingeridas por via oral ainda não foram estudadas para consumo pela inalação, o que pode acarretar em prejuízos ao tecido pulmonar.
A nutricionista Debora Lima, mestranda em Educação em Ciências e Saúde pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), afirma que o princípio do produto, levar vitaminas ao corpo pelo ato de fumar, não faz sentido pela maneira como ocorre a absorção de nutrientes pelo organismo, feita por meio do trato digestivo, e não do pulmão.
Lima destaca que o consumo de suplementos sem necessidade ou indicação de um profissional de saúde pode ser prejudicial.
A melhor maneira de buscar um estilo de vida saudável é praticar atividades físicas de maneira regular e manter uma boa alimentação, com acompanhamento de profissionais especializados, se necessário, segundo os especialistas.