Se você passou pelas redes sociais recentemente e viu um gif de duas pedras conversando ou imagens de pessoas com dedos de salsicha, provavelmente percebeu que se formou quase um culto ao redor de “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”. O filme dirigido por Daniel Kwan e Daniel Scheinert é o maior indicado ao Oscar 2023, com 11 nomeações.
Será que essa popularidade pode influenciar na performance no Oscar?
Este ano, a lista de indicados ao maior prêmio da Sétima Arte mistura filmes com “cara e cheiro de Oscar” (como “Os Fabelmans” e “Os Banshees de Inisherin”) e outros que parecem ter caído ali por acaso, para apontar que pode haver um caminho diferente no futuro.
Neste caminho, sobretudo em um momento em que a audiência das cerimônias ao vivo está em queda livre, a presença forte de um filme nas redes sociais pode se tornar cada vez mais importante.
Do que fala o filme?
“Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” é um filme que brinca com as estruturas tradicionais de tempo e espaço para contar a história de Evelyn Wang (Michelle Yeoh), uma mulher que se envolve por acaso em uma aventura multidimensional que coloca o destino de todos os universos em suas mãos — e também a faz questionar quem ela é para si mesma e sua família.
O filme mistura ação, comédia e aventura, e já recebeu uma enxurrada de prêmios de diversas associações ao longo do ano passado.
No Critics’ Choice Awards de 2023, por exemplo, ele foi premiado com melhor direção, melhor roteiro original, melhor montagem, melhor ator coadjuvante (para Ke Huy Quan) e melhor filme. No SAG Awards, do sindicato de atores, recebeu cinco indicações, e também foi lembrado pelo DGA (do sindicato dos diretores), pelo WGA (do sindicato dos roteiristas) e pelo BAFTA.
O que tudo isso significa? Que as 11 indicações ao Oscar não são um fato isolado — muito menos imprevisível.
Por que está sendo cultuado por fãs?
“Tudo em Todo o Lugar” foi exibido pela primeira vez em março do ano passado, no festival SXSW. No mês seguinte, estreou em grande circuito nos Estados Unidos, chegando ao Brasil somente em junho.
Neste período, o boca-a-boca e os elogios que vinha arrancando de público e crítica contribuíram para que a expectativa em torno do filme aumentasse. A falta de linearidade da narrativa contou a favor da obra, que brinca com o conceito de multiverso de uma forma muito mais ousada que, por exemplo, “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”.
Revolucionário?
Essa ousadia nas brincadeiras com o multiverso foi o que mais chamou atenção de modo geral. Há um êxito nessa proposta porque ele mexe com todos os sentidos, e provoca a audiência a mergulhar na extravagância de cabeça.
Em um ano como 2022, isso foi muito simbólico por um motivo em especial. Trata-se de um ano em que o audiovisual ficou mais refém do que nunca de blockbusters do Universo Cinematográfico Marvel — que, obrigatoriamente, existem dentro de uma caixinha que limita o que eles podem ser e “educam” uma parcela do público para não esperar mais do que isso.
Quando “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” lembra que o cinema mercadológico pode (e deve) se arriscar a ser um pouco mais do que isso, ainda que dentro de uma estrutura familiar, se destaca do meio. Até por isso acabou sendo chamado de revolucionário, embora o que faça não seja algo necessariamente novo.
Desde a vitória de “Parasita”, em 2020, a Academia parece estreitar um flerte com novos ares. Seja com a vitória do contemplativo “Nomadland” em 2021 ou de “CODA – No Ritmo do Coração” no ano passado (uma vitória questionável e estranha, mas ainda assim inesperada), o maior padrão que parece despontar é o de tentar se distanciar de filmes que têm cara de “Oscar bait”.
Se isso vai premiar filmes tão bons quanto “Parasita” ou tão… Questionáveis como “CODA”, só o tempo irá mostrar.
O fato é que a popularidade de “Tudo em Todo o Lugar” se transformou quase numa guerra em alguns recantos das redes sociais, em que a importância e a originalidade do filme são questionadas por uns e defendidas de forma ferrenha por outros. O debate, embora cansativo, é bom para a premiação de modo geral. Quem ganha é o engajamento.