O ano de 2023 começou com um triste balanço na Cisjordânia. Desde 1° de janeiro, 29 palestinos foram mortos pelo exército israelense ou por colonos judeus nesse território ocupado. Nesta quinta-feira (26), um ataque de Israel visando um hospital em Jenin matou nove pessoas e feriu gravemente outras 15.
O ano de 2023 começou com um triste balanço na Cisjordânia. Desde 1° de janeiro, 29 palestinos foram mortos pelo exército israelense ou por colonos judeus nesse território ocupado. Nesta quinta-feira (26), um ataque de Israel visando um hospital em Jenin matou nove pessoas e feriu gravemente outras 15.
Sami Boukhelifa, correspondente da RFI em Jerusalém
Segundo um comunicado da ministra da Saúde palestina, Mai Al Kaila, as forças israelenses “jogaram deliberadamente granadas de gás lacrimogêneo” na ala pediátrica do hospital, o que “causou a asfixia de algumas crianças”. O Exército israelense não respondeu às acusações e se limitou a declarar, via Telegram, que “as forças de segurança realizaram uma operação no campo de refugiados de Jenin” e que “os detalhes serão fornecidos mais tarde”.
“A situação no acampamento [de refugiados palestinos] de Jenin é crítica”, insistiu a ministra, que convocou uma “reunião de emergência” com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Com o ataque desta quinta-feira, o saldo de vítimas fatais na Cisjordânia ocupada já é de mais de um morto por dia do lado palestino. Se continuar nesse ritmo, 2023 pode bater os recordes registrados no ano anterior. Com 144 pessoas mortas, segundo a ONG israelense de defesa dos direitos humanos B’Tselem – ou um total de 170 vítimas, de acordo com as autoridades palestinas -, 2022 já era considerado o mais violento dos últimos 20 anos, quando ocorreu o final da segunda Intifada.
Como sempre após os ataques, surgem questões sobre a identidade dos palestinos que morrem diariamente vítimas de disparos das forças de Israel. Segundo autoridades israelenses, a maioria deles seriam combatentes armados. Mas o jornal Haaretz, que fez uma investigação sobre o assunto, desmente esse argumento. De acordo com esse diário israelense, menos da metade das pessoas mortas em 2022 estavam armadas. As demais eram civis, vítimas colaterais da ocupação.
Imunidade para os soldados israelenses
Os soldados israelenses responsáveis por essas mortes raramente são sancionados, o que deixa na população uma sensação de impunidade. “Constatamos que menos de 1% dos boletins de ocorrência feitos por palestinos contra soldados israelenses são concluídos com uma condenação”, afirma o advogado israelense Roni Pelli, especialista na defesa dos direitos humanos nos territórios palestinos.
“Nossa vida não tem nenhum valor para eles”, desabafa um palestino que cruzava o checkpoint israelense recentemente em Hebron. “Basta um olhar atravessado para que um soldado israelense atire. Mas ele poderá sempre se justificar, colocando uma faca ao lado de um cadáver, afirmando que a vítima estava armada e queria atacá-lo”, explica.
Esse tipo de acusação é frequente do lado dos palestinos e alguns documentos divulgados recentemente apontam que essa teoria não seria exagerada. Como na semana passada, quando um relatório publicado pelo exército israelense afirmava que um palestino havia sido abatido “após ter tentado atacar soldados israelenses” perto de Ramallah. No documento, os militares insistem que atiraram em legítima defesa.
No entanto, a cena foi filmada, provando o contrário. As imagens mostram que o palestino em questão foi atacado com um jato de gás lacrimogênio, seguido de uma granada de efeito moral lançada na direção de seu carro. Desorientado, ele tentou fugir e se debateu no meio dos soldados, até que um dos militares disparou, o matando diante de seu filho. O caso deixou o Exército israelense em uma situação delicada, sendo obrigado a reconhecer que a vítima não representava um risco de atentado e abrindo uma investigação sobre o episódio.
Em meio a esse contexto de tensão, o novo governo israelense, que vem adotando uma política ultraconservadora impulsionado pela extrema direita, estuda as regras sobre o uso de armas pelos soldados. Mas para as ONGs Yesh Din e Breaking The Silence, que contestam a ocupação dos territórios, o anúncio é muito mais uma operação de comunicação para melhorar a imagem do Exército israelense que uma iniciativa visando proteger os palestinos. “Israel teme pela reputação de suas Forças Armadas e está mais preocupado com as aparências”, acusam as organizações.
Com informações da AFP