Presos, os três acusados pelo assassinato aguardam decisão da Justiça para saber se vão a júri popular ou não
ALÉXIA SOUSA E BRUNA FANTTI
RIO DE JANEIRO, RJ
Um ano após a morte de Moïse Kabagambe, 24, morto a pauladas em um quiosque na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro, a família pede mais agilidade da Justiça. “Eu só quero justiça porque está muito lento”, afirmou a mãe do imigrante congolês, Lotsove Lolo Lavy Ivone, nesta terça-feira (24), quando o crime completou um ano.
Presos, os três acusados pelo assassinato aguardam decisão da Justiça para saber se vão a júri popular ou não.
“A gente tenta se levantar, mas é difícil. O que a gente espera é justiça. Minha mãe está sofrendo, minha família está sofrendo. Temos fotos, vídeos, provas, tudo… O que mais falta?”, questionou o irmão mais velho de Moïse, Maurice Magbo Mugenyi, 27.
Maurice ainda desabafou: “Muitos Moïse morrem todos os dias aqui. Onde isso vai parar? Quem vê isso aqui, meu irmão com todos esses machucados, lembra-se de uma coisa… É como um escravo”, disse ao mostrar a imagem do irmão morto.
O processo continua na 1ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
“Está em fase de alegações finais da defesa, na fase de pronúncia. O juiz dará uma sentença se pronuncia ou não os réus para o júri [popular]. E, assim, será marcada uma data para o julgamento”, afirmou o promotor Alexandre Graça, responsável pela denúncia.
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Para a defensora pública Gislaine Kepe, o rito do processo está dentro do prazo previsto. “Houve a denúncia e, agora, a gente espera que, dentro de oito meses, o juiz faça o pronunciamento se o caso irá a júri popular ou não. Já o processo cível para a indenização da família pode demorar até dois anos.”
A Defensoria Pública representa a família na ação criminal e também na área cível para a indenização. Além disso, o órgão passou a atuar na esfera administrativa após reclamações que a família da vítima fez em relação ao quiosque que foi ofertado a eles pela Prefeitura do Rio em doação.
O estabelecimento fica no Parque Madureira, na zona norte da cidade. “Disseram que estão há sete meses e já apareceram problemas na estrutura como paredes rachadas e mofos. Estamos em diálogo com a prefeitura para resolver isso”, disse Kepe.
Já sobre o quiosque da Barra, onde Moïse foi assassinado, a mãe e os irmãos do imigrante querem que o local se torne um memorial. Segundo a Orla Rio, no entanto, o espaço está sendo reformado para futuramente dar início a uma nova operação.
“O início da reforma só se deu nesse momento porque a Justiça entregou a posse do quiosque Biruta apenas em 19 de dezembro de 2022. O local entorno do quiosque funciona como memorial”, disse em nota.
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“Não acredito que esse quiosque vai continuar funcionando depois de tudo o que aconteceu com Moïse aqui. Seria uma falta de respeito com a família e com todo mundo que se envolveu nesse caso coma gente”, criticou Maurice Magbo Mugenyi, irmão do congolês.
No fim da tarde, os parentes estiveram no local para um ato em homenagem a um ano do crime. Ao pisar pela primeira vez no quiosque após o assassinato de Moïse, a mãe do jovem se emocionou e precisou ser acudida pelos demais filhos.
“Foi aqui, tudo aconteceu aqui… Me desculpe, meu Moïse, por mamãe não estar perto quando aconteceu, mamãe não conseguiu ajudar você. Ninguém ajudou”, disse, chorando.
Pela manhã, a família também participou de uma missa no Cristo Redentor em memória do refugiado.
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Moïse chegou ao Brasil em 2011, aos 13 anos, junto com 3 dos seus 11 irmãos. Veio como refugiado da República Democrática do Congo. O jovem cursou até a segunda série do ensino médio e fazia bicos em restaurantes, lanchonetes, quiosques e na praia.
O CRIME
As imagens do quiosque Tropicália mostram Moïse discutindo com um funcionário do local. O congolês, em determinado momento, abre um freezer, o que aumenta a confusão.
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De acordo com esse funcionário, Moïse estava bêbado e queria pegar cerveja de graça, o que originou a discussão entre os dois. A mesma versão foi dada por Alesson Fonseca, um dos réus.
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Os três suspeitos trabalhavam em quiosques e barracas da praia da Barra da Tijuca. Eles afirmaram que foram proteger o funcionário do Tropicália e iniciaram as agressões.
Familiares do congolês disseram à imprensa que ele foi cobrar uma dívida no quiosque. Contudo, esse tema não é mencionado em nenhum depoimento dado à polícia, nem mesmo nas falas dos parentes da vítima. A denúncia diz que houve uma discussão, mas não aponta o motivo.
Durante o último ano, alguns advogados renunciaram à defesa dos réus Fábio Pirineus da Silva, Brendon Alexander Luz da Silva e Alesson Cristiano de Oliveira Fonseca. Foi o caso dos de Alesson e Fábio, que estão agora com defensores públicos. Suas defesas ainda não foram apresentadas.
O defensor de Brendon pediu, em outubro, o desmembramento do processo com a justificativa de que seu cliente não participou ativamente das agressões. A Justiça negou o pedido.
Segundo as investigações, Brendon “amarrou a vítima e o estrangulou com um golpe”.
O juiz atendeu ao pedido da mãe de Moïse, Lotsove Lolo Lay Ivonne, para ser assistente de acusação no caso.