A invasão do Planalto, do Congresso e do Supremo, no domingo passado, expôs falhas em órgãos como a PMDF, e das polícias legislativas do GSI
Uma sequência de vídeos e fotos dos ataques às sedes dos poderes em Brasília pôs em dúvida o profissionalismo dos policiais mais bem pagos do País e dos militares das Forças Armadas. A invasão do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, no domingo passado, expôs falhas em órgãos como a Polícia Militar, as polícias legislativas da Câmara e do Senado, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência e o Batalhão da Guarda Presidencial, unidade do Exército.
Entre as suspeitas levantadas está a possível atuação ou omissão por conveniência ideológica e simpatia à intenção intervencionista da marcha bolsonarista, que irrompeu com facilidade a barreira, feita de material plástico, montada pela PM no acesso ao Congresso. Os policiais não portavam equipamentos para reagir a distúrbios. Não havia efetivo do Choque e da Cavalaria na retaguarda. A horda invadiu os palácios sem resistência.
Lula admite perda de ‘confiança’ em parcela de militares e adia escolha de ajudante de ordens
Após extremistas tentarem provocar intervenção, presidente endurece discurso e afirma que soldados e PMs foram coniventes; alas militares veem escalada da tensão
Ibaneis diz à PF que houve ‘sabotagem’ de plano de ação das forças de segurança
Governador do DF está afastado do cargo por suspeita de ‘condutas omissivas e comissivas’ que teriam facilitado a invasão dos radicais
Exército conclui primeiro inquérito sobre ataques em Brasília e indicia coronel por dois crimes
Oficial postou vídeos na Esplanada com ofensas contra o Alto Comando e contra as Forças Armadas após repressão aos invasores
Militares deixaram a golpista Ana Priscila ‘escapar’, após ser detida no Palácio do Planalto
Uma das lideranças dos atos terroristas, Ana Priscila Azevedo chegou a ser detida no domingo por militares do Exército, mas sua prisão só ocorreria dois dias depois
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Plano Escudo
Para funcionar, o ‘Plano Escudo”, o esquema de defesa do Planalto, prevê três linhas de defesa: a PM nas ruas do entorno imediato; agentes do GSI, que andam de terno ou uniforme cercando o palácio; e depois os homens de Choque do BGP, como último recurso. A fraqueza da primeira e a ausência das outras duas em quantitativo apropriado são apontadas como erros da operação por especialistas.
No dia a dia, o choque do BGP não fica no palácio. O prédio é guarnecido pelos seguranças do GSI vestidos em trajes civis e sentinelas do BGP, fardados, munidos de espingardas calibre 12. Quando surgem informações de protestos nas cercanias do Planalto, os generais do GSI telefonam ao comandante do batalhão para pedir reforço e depois comunicam ao Comando Militar do Planalto. É uma forma de agilizar a chegada dos militares. Com a tropa no palácio, o secretário de Segurança e Coordenação Presidencial, hoje o general Carlos Feitosa, assume o controle operacional.
Cada uma das companhias do batalhão possui cerca de 200 homens, totalizando 2 mil militares. O pelotão dispensado era uma fração deles, tinha 36 homens, e não conseguiria conter os invasores, na avaliação de militares. O ideal seria cerca de 400 homens, duas companhias.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Um experiente militar, que comandou o BGP, observa que nunca havia ocorrido em Brasília de a PM ter que entrar para defender o palácio e efetuar prisões lá dentro. Os soldados do BGP, diz ele, estavam “debilitados” e parecia “emboscada”. “Foi um caos, praça dando ordem em oficial, voz de prisão, descontrole, violação de hierarquia, perda de comando”, afirma o coronel, sobre as cenas gravadas. “Precisa ser esclarecido se foi intencional, se o dado da ameaça não chegou.”
Entre os atos sob investigação, estão:
- A falta de resistência das polícias militar e legislativa, que recuaram em investidas dos extremistas e abriram passagem no gramado e na chapelaria do Congresso
- O abandono de posto em barreira por parte de alguns policiais para comprar água de coco
- Os flagrantes de confraternização entre extremistas e policiais militares e legislativos — alguns posaram para fotos e outros filmaram os atos, sem agir para impedir crimes
- A decisão de abrir a Esplanada dos Ministérios e permitir o trânsito da marcha
- O subdimensionamento da tropa na linha inicial postada em frente ao Congresso, sem equipamentos de contenção de distúrbios
- No Senado, policiais demoraram horas para retirar invasores do plenário — os agentes foram gravados dizendo que quem saísse de forma voluntária não seria detido
- A desorientação de soldados desalinhados na defesa do BPG na entrada do Planalto
- Troca de acusações e bate-boca entre PMs da Patamo (Patrulhamento Tático Móvel) e o comandante do Batalhão de Guarda Presidencial
- Reforço do Choque do BGP dispensado 20 horas antes
- A fuga não explicada da extremista Ana Priscila Azevedo, detida entre militares do BGP no Planalto, ela sairia do palácio e seria presa por ordem do Supremo dois dias depois
Segurança
- 2 mil é o efetivo do Batalhão da Guarda Presidencial
- 271 agentes formam a Polícia Legislativa da Câmara
- 169 agentes formam a Polícia Legislativa do Senado
- 400 homens integram a Força Nacional de Segurança Pública
- 10,2 mil é o número de agentes da PM-DF
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE