Quem é Paul Mescal, galã de Aftersun e Normal People – 05/01/2023 – Ilustrada

Quando estreou nas telas na espécie de “Malhação” mais quente e dramática que foi “Normal People”, Paul Mescal era um ilustre desconhecido. Com a minissérie, no entanto, não demorou para que ele entrasse na mira de produtores e para que sua imagem, com ou sem roupa, rodasse a internet coberta por elogios.

Menos de três anos depois, Mescal conquistou espaço entre os nomes mais comentados da última temporada de festivais de cinema e na rodada de prêmios hollywoodianos que começa agora. Com “Aftersun”, que chega ao Brasil pela Mubi, o ator provou que aquela comoção toda não era fogo de palha, mas sinal de que um novo talento das telas realmente emergia —”você não vai conseguir esquecer Paul Mescal”, disse a Esquire; “de um equilíbrio tremendo”, louvou a IndieWire.

Tão próximo de uma unanimidade quanto as disputas cinéfilas permitem, “Aftersun” foi um dos longas que mais acumularam prêmios em 2022 –incluindo em Cannes e na Mostra de Cinema de São Paulo–, mas deve encontrar dificuldade para chegar ao Oscar, devido ao jeitão excessivamente indie.

Longe de grifes como Spielberg e seu “Os Fabelmans” ou de espetáculos como “Top Gun: Maverick”, o título marca a estreia de Charlotte Wells na direção de um longa-metragem e tece um retrato intimista sobre a relação entre um pai jovem, na casa dos 30 anos, e uma filha que saem de férias.

É simples e sóbrio, mas tocou muita gente nos festivais e mostras pelos quais passou –na Riviera Francesa, seus ingressos evaporaram após o burburinho da primeira sessão. Por isso, Mescal ainda assim é cogitado como possibilidade para o Oscar, por mais distante que o caminho até a indicação seja.

Isso pouco importa para o irlandês de 26 anos. Não é guiado por reconhecimento que ele busca os personagens que interpreta, mas por uma espécie de paixão que ele pena para descrever em conversa por vídeo.

“O ponto de partida para mim é o amor que eu sinto pelo personagem sobre o qual leio, o quão próximo eu me sinto dele”, tenta explicar, num sotaque forte e quase incompreensível para quem não é versado no jeito particular de se falar ao norte de Londres.

“Eu não tenho caixas para assinalar. Eu normalmente sei imediatamente depois de ler um roteiro se me interesso ou não por ele. É como se eu buscasse um sentimento de ambição, uma vontade de ser parte daquilo.”

Entre “Normal People”, adaptação do livro hit “Pessoas Normais”, de Sally Rooney, e “Aftersun”, Mescal acumulou outros três filmes. Nos ainda inéditos no Brasil “God’s Creatures” e “Carmen”, ele interpretou um filho dedicado, no primeiro caso, e um soldado perdidamente apaixonado, na releitura moderna para a ópera de mesmo nome de Bizet.

Há também “A Filha Perdida”, outro queridinho recente de prêmios e festivais, no qual repetiu a alta voltagem sexual da minissérie que o revelou. Nele, viveu um rapaz que trabalhava na praia de shortinho grudado às coxas e como uma promessa de aventura deliciosamente mais jovem para a protagonista vivida por Olivia Colman.

Um sex symbol improvável, é possível dizer. Com a pele pálida, o rosto bruto e os lábios que desenham um sorriso desajeitado, Mescal tem nos olhos, de um azul forte e penetrante, a única característica que o cola sem ressalvas ao status de galã padrão de Hollywood.

Sua fisionomia se parece com qualquer outra do norte da Europa, mas o charme que sustenta em cena ou nos bastidores o elevou a expoente de uma nova safra de galãs diferenciados vindos do velho continente –da qual fazem parte o magrelo Timothée Chalamet, o orelhudo Josh O’Connor e o baixinho Tom Holland.

Também ajudou o fato de seu papel de estreia nas telas ter sido em “Normal People”, como o colegial atleta que era na mesma medida machão e sensível, popular e atencioso, e que protagonizou, ao lado de Daisy Edgar-Jones, cenas de sexo de uma crueza dificilmente vista –a ponto de seu nu frontal não precisar de falos protéticos, como virou norma em Hollywood.

“Se eu realmente me preocupasse em me sentir demasiadamente exposto, eu deixaria de existir criativamente. Eu sou um ator prestando um serviço ao público. Essas cenas terem alcançado um número grande de pessoas é simplesmente um subproduto do meu trabalho”, diz ele, sobre a intensidade com a qual a internet compartilhou suas imagens flácido, entrelaçado por lençóis azulados e sem vida.

“Eu não tenho controle sobre o que as pessoas tiram disso, então eu deixo para lá. Se a nudez é feita da forma correta e com sensibilidade, ela gera um impacto importante no espectador. E é engraçado como a gente é fissurado nesse assunto, porque passamos boa parte da vida pelados.”

Em “Aftersun”, também, ele reforça essa energia. Seu papel na trama é ser o pai de uma pré-adolescente –esforçado, amoroso e numa crise psicológica. Mas nem por isso deixa de se jogar nu e bêbado sobre a cama, de chamar a atenção de turistas que insistem que ele é irmão mais velho da menina ou de parecer inocentemente sedutor enquanto mexe o corpo ao som de “Let’s Dance”, de David Bowie.

Se de um adolescente em “Normal People” ele foi para o pai de uma pré-adolescente em “Aftersun”, o próximo passo certamente será interpretar um avô, brinca o irlandês. Mas, apesar de serem seis os filmes para os quais ele está escalado para o futuro próximo, nenhum deles inclui netos.

A quantidade e a diversidade de papéis no horizonte é prova de que bastou a revelação na minissérie –e a indicação ao Emmy e a vitória no Bafta que vieram juntas– para que Mescal fosse procurado por todo tipo de produtor e cineasta. Mas ele quer se manter longe dos blockbusters e superfranquias por enquanto, numa espécie de ato de proteção do cinema independente.

No suspense “A Spy by Nature”, ele ficará preso numa trama de espionagem que opõe americanos e britânicos, sob a direção de Kevin Macdonald. Em “Foe”, Garth Davis o escalou com a compatriota Saoirse Ronan, com quem enfrentará um apocalipse climático. “Strangers” o trará ao lado de Claire Foy e Andrew Scott numa fantasia sobre um rapaz que descobre que os pais não envelhecem.

“The End of Getting Lost”, de Deniz Gamze Ergüven, o reaproximará dos romances, enquanto “Bring Them Down”, de Christopher Andrews, o levará aos pastos de sua Irlanda natal.

O mais aguardado, no entanto, é “The History of Sound”, de Oliver Hermanus, um drama gay entre soldados da Primeira Guerra Mundial que deixou a internet sob alerta fetichista ao anunciar que Mescal dividiria a trincheira e a cama com o já lembrado Josh O’Connor –um dos vários príncipes Charles de “The Crown”.

Atualmente, o ator está em cartaz no West End londrino numa aclamada montagem de “Um Bonde Chamado Desejo”. É nos palcos, afinal, que estão as raízes do egresso da prestigiosa Trinity College de Dublin.

Nas capitais britânica e irlandesa, ele também protagonizou outros textos importantes, como “O Grande Gatsby”, “Sonho de uma Noite de Verão” e “Um Retrato do Artista Quando Jovem”. Nem sempre, no entanto, os palcos se apresentaram como vocação para a estrela que já jogou futebol gaélico profissionalmente. Foi só depois de uma lesão na mandíbula que ele passou a enxergar seu futuro no mundo artístico.

“Mas eu não lembro de fazer uma escolha quanto a atuar. É algo clichê de dizer, mas eu honestamente não sei o que faria se não fosse isso”, diz. “Acho que vem de uma vontade de interrogar a alma humana. Sempre me interessou e continua me interessando.”

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