A devoção de Halie Smith por Taylor Swift é tão profunda que ela sente que pode confiar na cantora como uma amiga. Depois que a estrela pop incentivou os fãs a votar nas eleições americanas de meio de mandato em 2018, Smith se registrou. O rito de passagem mais recente da jovem de 23 anos –conseguir seu primeiro cartão de crédito– também foi motivado por Swift.
Quando a 11 vezes vencedora do Grammy anunciou sua Eras Tour, a primeira turnê em cinco anos, Smith disse que sabia que tinha que “fazer tudo ao meu alcance para conseguir ingressos”. Então ela se inscreveu para um cartão da Capital One, que fez parceria com Swift para promover a turnê e oferecia aos fãs acesso preferencial na pré-venda de ingressos.
“Taylor Swift foi mais uma vez aquele empurrão”, disse Smith, que mora em Pittsburgh.
Além de conseguir ingressos para shows, ela esperava que o cartão a ajudasse a ter um bom crédito. “Quando me inscrevi, por causa da pré-venda da Taylor, percebi a importância da educação financeira e que talvez ela devesse ser mais incentivada nas escolas e faculdades”, disse a jovem.
Smith, que tem paralisia cerebral, conseguiu quatro ingressos para pessoas com deficiência para ela e seus amigos por cerca de US$ 1.000, embora tenha usado seu cartão de débito porque o total excedeu o limite do de crédito.
Ainda assim, obter um cartão de crédito era uma meta de Smith, em parte porque sua mãe a incentivou para que tivesse uma boa pontuação de crédito quando se mudasse para seu próprio apartamento, e a compra para o show de Swift levou Smith a dar esse passo financeiro.
Mais de uma década atrás, as empresas de cartão de crédito apareciam nos campi das faculdades para se vender aos estudantes, oferecendo-lhes comida ou camisetas gratuitas em troca de preencherem formulários para seus primeiros cartões.
Essa prática diminuiu depois que o Congresso americano aprovou uma lei conhecida como Lei do Cartão de Crédito em 2009, que deu proteções abrangentes aos consumidores, incluindo a restrição da venda a estudantes nos campi universitários e em eventos fora deles.
Mas as empresas continuaram usando práticas de marketing voltadas para jovens, incluindo parcerias com artistas. Agora, em vez de brindes gratuitos, a chance de ver artistas como Swift, Harry Styles ou Shawn Mendes ao vivo está convencendo muitos jovens fãs de música a se inscreverem para obter seus primeiros cartões.
Como o Capital One, o Citi oferece aos titulares de cartão acesso antecipado a pré-vendas de shows por meio de seu programa Citi Entertainment, que não tem taxa de acesso e está disponível para todos os titulares de cartão de crédito e débito do Citi.
A American Express oferece a alguns portadores de cartão acesso preferencial a ingressos para shows e musicais da Broadway, além de entradas exclusivas em alguns locais. Mas o acesso a certas experiências exclusivas, como um pacote de três dias para o Festival de Artes e Música Coachella Valley, requer um cartão American Express Platinum ou Centurion –cartões “premium”, com taxas anuais exorbitantes.
No caso da Eras Tour, a demanda foi tão intensa que milhões de fãs, conhecidos como Swifties, enfrentaram horas de espera e frustrantes problemas técnicos que os impediram de conseguir os ingressos. Durante um dos dias de pré-venda, a Ticketmaster disse que recebeu 3,5 bilhões de solicitações. Alguns fãs solicitaram seus primeiros cartões através da Capital One para aumentar suas chances de conseguir ingressos. (A Capital One não respondeu a uma pergunta sobre se o emissor teve um aumento nos pedidos após o anúncio da turnê de Swift.)
Para outros jovens fãs, obter seus primeiros cartões de crédito permitiu que eles pagassem por shows que não poderiam comprar à vista.
Leah Garcia, 21, estudante universitária que mora em El Paso, no Texas, é fã de artistas como Styles, Dominic Fike e The Driver Era. Recentemente, ela gastou cerca de US$ 800 em ingressos usando seu primeiro cartão de crédito, um Discover.
“Muitos artistas de que eu realmente gosto começaram a anunciar turnês e eu pensei: ‘Oh, Deus, não tenho dinheiro na minha conta bancária agora para comprar'”, disse Garcia. “Então resolvi fazer um cartão de crédito porque achei que seria mais fácil o acesso para comprar.”
Garcia disse que consultou sua mãe, que lhe explicou como usar o cartão com responsabilidade e lhe disse para não usá-lo apenas para ingressos de shows. Garcia disse que até agora pagou seu cartão antes do vencimento com o dinheiro que ganha como babá.
Elliot Pepper, um professor de introdução a finanças e cofundador da empresa de gerenciamento de patrimônio e planejamento tributário Northbrook Financial, disse que é positivo os jovens obterem cartões de crédito e usá-los com responsabilidade, mas os advertiu para não serem enganados pelo marketing das empresas.
“Estou preocupado que as pessoas estejam correndo para utilizar um cartão de crédito pensando que, com todo o brilho e glamour do marketing que as empresas fazem, de alguma forma estão conseguindo um bom negócio”, disse ele. “Um cartão de crédito não é dinheiro grátis. Um cartão de crédito é apenas um empréstimo de curto prazo que você precisa pagar.”
Pepper sugeriu aproveitar melhor um cartão inscrevendo-se em um que ofereça recompensas e sem taxas, e pagando o saldo integralmente todos os meses.
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves