A Justiça bielorussa condenou nesta segunda-feira (6), a 11 anos de prisão, Maria Kolesnikova, uma das grandes figuras da contestação de 2020. A sentença ilustra a repressão sem trégua à oposição do regime de Alexander Loukachenko. A União Europeia denuncia a “indiferença flagrante” de Minsk pelos direitos humanos.
A Justiça bielorussa condenou nesta segunda-feira (6), a 11 anos de prisão, Maria Kolesnikova, uma das grandes figuras da contestação de 2020. A sentença ilustra a repressão sem trégua à oposição do regime de Alexander Loukachenko. A União Europeia denuncia a “indiferença flagrante” de Minsk pelos direitos humanos.
Maria Kolesnikova, de 39 anos, foi considerada culpada de “complô para tomar o poder”, “convocação a ações ameaçando a segurança nacional” e “criação de uma formação exremista”, anunciou a assessoria de imprensa de Viktor Babaryko, opositor preso para quem ela trabalhou. Outro acusado, o advogado Maxime Znak, foi condenado a 10 anos de prisão.
O processo dos dois opositores, incarcerados há 11 meses, teve início no começo de agosto e foi realizado a portas fechadas, sem que os detalhes fossem conhecidos. A maior parte dos veículos de comunicação independentes, ONGs e movimentos de oposição sofrem há meses com a repressão do governo Loukachenko.
Os advogados de defesa foram proibidos de falar sobre o caso.
Segundo imagens divulgadas antes do veredito por contas Telegram, Kolesnikova, com os cabelos curtos e usando um batom vermelho, compareceu sorridente à audiência. Ela estava presa com Znak em uma cela de vidro reservada aos acusados.
Algemada, ela fez um coração com as mãos para os poucos jornalistas pró-governo autorisados na sala, um dos símbolos da oposiçao.
No começo do processo, ela fez alguns passos de dança, em sinal de desafio ao poder de Loukachenko. No poder desde 1994, o presidente teve sua reeleição considerada fraudulenta pelo movimento de contestação que ganhou as ruas em 2020.
“Injustificada” e “coragem”
Após a sentença, a Alemanha denunciou uma condenação “injustificada” e pediu “a liberação de todos os prisioneiros políticos em Belarus”. Londres pediu o fim da “repressão”.
“A coragem de Maria, que decidiu ficar em Belarus apesar de uma ameaça de condenação a prisão, não será esquecida”, destacou, por sua vez, a ONG Anistia Internacional em um comunicado.
A candidata da oposição nas eleições, Svetlana Tikhanovskaia, reagiu no Twitter ao veredito pedindo “a liberação imediata de Maria e Maxime”. “Querem aterrorizar os bielorrussos que se opõem ao regime”, afirmou.
Kolesnikova foi presa em setembro de 2020 após resistir a uma tentativa das autoridades de expulsá-la do país. Segundo próximos, os serviços especiais bielorrussos (KGB) a sequestraram, colocaram um saco em sua cabeça e a conduziram até a fronteira com a Ucrânia. Ela se recusou a sair de Belarus, pulou pela janela e rasgou o passaporte.
A opositora e Znak trabalharam para Viktor Babaryko, rival do presidente bielorrusso e recentemente condenado a 14 anos de presão por fraude, mas ele nega e denuncia perseguição política. Eles também pertencem ao Conselho de coordenação de sete membros eleitos pela oposição após a presidencial de agosto de 2020 para organizar uma transição pacífica de poder.
Kolesnikova era uma das três mulheres propulsadas à liderança do movimento de contestação, com Tikhanoviskaia, candidata às eleições presidenciais no lugar de seu marido preso, e Veronika Tsepkalo. As duas últimas fugiram do país sob pressão das autoridades.
Apoio russo
O movimento de contestação que mobilizou dezenas de milhares de manifestantes nas ruas no verão (no hemisfério norte) de 2020, foi progressivamente silenciado, com milhares de detenções, exilos forçados e a prisão de dirigentes políticos, de responsáveis de mídias e Ongs.
O regime bielorrusso também foi acusado de ter desviado, em maio, um voo comercial, sob pretexto de um alerta a bomba, para prender o dissidente e jornalista Roman Protassevitch que estava a bordo.
Os países ocidentais adotaram diversas sanções contra Minsk, que conta com o apoio de Moscou. Loukachenko deve ser recebido novamente por Vladimir Poutin esta semana. Os dois dirigentes trabalham há meses para reforçar a integração econômica e política de seus países.