Tarcísio terá de cumprir 1 promessa a cada 12 dias de mandato em SP

Assim como ocorreu com a campanha do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), boa parte das promessas de Tarcísio são vagas, sem metas objetivas nem detalhes da implementação de cada tema

O governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), precisará cumprir uma promessa a cada 12 dias de mandato para honrar os 124 compromissos feitos durante a campanha eleitoral.

A lista foi compilada pela Folha a partir das propostas do plano de governo apresentado no ato de registro da candidatura, da propaganda eleitoral e de declarações feitas em entrevistas, debates e sabatinas.

Os temas mais abordados pelo próximo governador de São Paulo são saúde e infraestrutura, com 15 objetivos cada, seguido de economia, segurança pública, temas sociais e políticas de digitalização do governo.

Na TV e no rádio, Tarcísio só listou cinco propostas que não constavam de seu plano de governo, voltadas especificamente para as mulheres –além de prometer criar uma Secretaria de Políticas para as Mulheres, o governador eleito também pretende monitorar agressores com tornozeleira eletrônica e criar frentes de saúde especializados para o público feminino.

Ele anunciou, em 29 de novembro, a criação da Secretaria da Mulher, e a cotada para o cargo é a deputada federal Rosana Valle (PL-SP), apoiadora do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Outra proposta divulgada por Tarcísio, em aceno à militância bolsonarista, foi a retirada de obrigatoriedade das vacinas para o público infantil e para os servidores estaduais -afirmando ser necessário proteger a liberdade de escolha, mesmo admitindo que a imunização é importante.

“A obrigatoriedade da vacina, realmente, pretendo acabar. Eu confio na consciência das pessoas, na liberdade das pessoas. Conscientizando os servidores públicos, trabalhando na importância da publicidade da vacinação”, disse ele a jornalistas.


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O plano de governo também traz propostas de continuidade ao que foi implementado durante a gestão de 28 anos do PSDB, como a expansão do ensino integral, com maior interação entre as unidades de ensino básico com a comunidade local e universidades.

Há algumas promessas, no entanto, que Tarcísio não parece estar certo de levar adiante. A retirada de câmeras nos uniformes dos PMs, por exemplo, está na carta de propostas do candidato e foi amplamente veiculada durante a corrida eleitoral, sob o argumento de que elas inibem o trabalho policial.

Em 14 de outubro, Tarcísio recuou e disse que reavaliará a medida com especialistas.

Ele continuou afirmando que as câmeras prejudicam o trabalho da polícia, contrariando dados que mostram queda na morte de policiais após a implementação do aparelho. Porém disse que essa é uma percepção pessoal e que cabe discutir a questão com as forças de segurança.


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Outro objetivo de mandato bastante veiculado e que agora gera receios na equipe do futuro governador envolve o centro de São Paulo, e a mudança da sede administrativa estadual para os Campos Elíseos, bairro onde fica a cracolândia.

O plano, com caráter eminentemente simbólico e elaborado há mais de dez anos por Guilherme Afif Domingos, vice-governador do estado entre 2011 a 2015 e coordenador de campanha do bolsonarista, é visto com ceticismo até por aliados de Tarcísio.

Além disso, sem o acompanhamento de políticas públicas nas frentes social, econômica e de segurança pública, haveria o risco de conflitos serem agravados, segundo especialistas consultados em reportagem da Folha de S.Paulo.

A privatização da Sabesp é outro tema trazido durante o pleito em que Tarcísio recuou parcialmente após ser confrontado por seu principal adversário na campanha, Fernando Haddad (PT).


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Na tentativa de reverter o quadro eleitoral aumentando a rejeição adversária, Haddad capitalizou a proposta, afirmando que os preços da conta de água subiriam a exemplo do que ocorreu no Rio de Janeiro -o estado foi escolhido porque Tarcísio é carioca.

A estratégia começou a fazer efeito, e o então candidato do Republicanos precisou recuar da proposta, afirmando que estudaria a desestatização, mas só a implementaria caso fosse vantajoso para o estado.

Nas últimas semanas, porém, Tarcísio indicou que a ideia de privatização está mantida.


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Deysi Cioccari, doutora em ciência política pela PUC-SP, avalia que o maior desafio de Tarcísio é se manter viável para os próximos quatro anos, dialogando com a direita bolsonarista e os mais moderados, que nele votaram no segundo turno, sem perder a relação com o governo federal.


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Para ela, as sinalizações ao bolsonarismo raiz têm sido feitas com a indicação de Capitão Derrite para a Segurança Pública e a retirada da obrigatoriedade vacinal no estado, mas há outros espaços dados ao centro e à direita, especialmente com a presença de Gilberto Kassab (PSD) na futura administração.

Cioccari diz que a privatização da Sabesp tende a ser um processo difícil, com resistências de setores da sociedade e da própria estatal.

Fundada em 1973, a Sabesp é uma sociedade de economia mista que responde pelo fornecimento de água para 28,4 milhões de pessoas em 375 cidades paulistas.

Levantamento da base de dados internacional Public Services aponta que as reestatizações que mais aconteceram nos últimos anos no mundo foram no setor de serviços integrados de água, como tratamento de esgoto e fornecimento de água potável.

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