O ano de 2022 foi um importante marcado pela agitação no cenário econômico. A Folha separou dez personas importantes nesse aspecto para que você relembre:
Elon Musk
O CEO da Tesla e da Starlink adquiriu um novo título neste ano: barão da mídia. Elon Musk esteve no noticiário ao longo de todo o ano após protagonizar uma briga na Justiça para comprar o Twitter por US$ 44 bilhões (R$ 226,3 bilhões), num processo de idas e vindas que durou sete meses e foi concluído em outubro de 2022.
As movimentações do bilionário para a compra da rede social começaram silenciosamente em março, quando Musk adquiriu uma participação de 9,2% no Twitter, tornando-se seu maior acionista. A compra foi revelada no início de abril, e o CEO da Tesla foi convidado para fazer parte do conselho de administração da plataforma.
Em 14 de abril, Musk lançou oficialmente sua oferta de US$ 44 bilhões para fechar o capital do Twitter, que, num primeiro momento, tentou impedir a aquisição. Menos de duas semanas depois, porém, a rede social voltou atrás e aceitou a oferta.
No mês seguinte, porém, foi a vez de Musk recuar. O bilionário anunciou em maio que o acordo estava “pausado” por conta do número de contas de spam da plataforma e pediu ao Twitter que comprovasse os dados de perfis automatizados antes de prosseguir com a oferta. Em julho, Musk anunciou formalmente que estava desistindo do acordo.
A partir daí, formou-se uma das maiores brigas corporativas de 2022, após o Twitter entrar na Justiça para tentar obrigar Musk a completar a aquisição. A companhia ganhou direito a um julgamento rápido, após uma juíza americana ter entendido que as incertezas sobre a compra prejudicavam a plataforma.
O Twitter e Musk trocaram acusações durante meses. Enquanto a rede social dizia que Musk era o culpado por sua queda de anúncios, o CEO da Tesla acusava a plataforma de maquiar o número de contas spam. Ele chegou a levar denunciantes que acusaram o Twitter de ter falhas na proteção de usuários e “colocar os lucros acima da segurança”.
Apesar disso, Musk voltou atrás mais uma vez. Em 4 de outubro, o bilionário enviou uma carta ao Twitter afirmando que manteria o acordo original em vigor, que foi oficialmente fechado no dia 28 do mesmo mês.
“O pássaro está liberto”, escreveu o bilionário ao confirmar a compra do Twitter. Musk também assumiu o cargo de presidente-executivo da rede social após o negócio. No início de novembro, ele fez demissões em massa na empresa, cerca de 7.500 em todo o mundo.
Na semana passada, Musk promoveu uma enquete em seu perfil no Twitter onde perguntava se deveria renunciar ao cargo de CEO da rede social —e prometeu respeitar o resultado. Cerca de 57,5% dos votos foram a favor de o bilionário deixar o comando da companhia, enquanto 42,5% foram contra a ideia. Foram 17,5 milhões de usuários participantes.
Após o resultado, o bilionário afirmou que vai deixar a presidência do Twitter assim que achar “alguém tolo o suficiente” para aceitar o cargo. “Depois, comandarei apenas as equipes de software e servidores”, disse.
Sua gestão foi marcada por uma série de anúncios sobre mudanças na plataforma que não foram implementadas (ou duraram poucos dias) e pela suspensão de contas de jornalistas americanos vinculados a veículos como The New York Times, CNN, The Washington Post, The Intercept e da estatal Voice of America, entre outros.
Com a aquisição, Musk também encerra 2022 perdendo o título de homem mais rico do mundo. Após uma queda acentuada no valor das ações da Tesla, que perderam 58% de seu valor desde a oferta do bilionário pelo Twitter, o bilionário foi ao segundo lugar do ranking de maiores fortunas do planeta.
Bernard Arnault
Agora, o francês Bernard Arnault, presidente-executivo da LVMH, e sua família estão liderança do ranking de pessoas mais ricas do mundo, com uma fortuna US$ 188 bilhões (R$ 967 bilhões), após a queda de ações da Tesla que desbancou Elon Musk.
Arnault já havia ocupado o primeiro lugar dentre os mais ricos brevemente em 2021, quando ultrapassou o então homem mais rico do mundo Jeff Bezos, fundador da Amazon. O topo do ranking de bilionários não era ocupado por um europeu desde outubro de 2015, segundo a Forbes.
Bezos, no entanto, recuperou o primeiro lugar do ranking no mesmo dia.
Dias antes de conquistar o atual título de mais rico do mundo, Bernard Arnault indicou seu filho mais velho, Antoine Arnault, para o cargo de presidente-executivo da Christian Dior. Todos os seus cinco filhos ocupam altos cargos na LVMH, grupo que também está por trás da casa de moda Louis Vuitton e dezenas de outras marcas que variam de champanhe a hotéis cinco estrelas.
Gautam Adami
O indiano Gautam Adami desbancou o bilionário Jeff Bezos, fundador da Amazon, e atingiu o posto de segunda pessoa mais rica do mundo em 2022. Dono do maior conglomerado empresarial da Índia, o magnata tem fortuna estimada em US$ 150 bilhões (R$ 771,5 bilhões), US$ 15 bilhões a mais que Bezos.
Com o feito, Adami tornou-se o primeiro asiático a atingir um dos postos mais altos no ranking de riqueza mundial, que costuma ser ocupado por figurões de tecnologia dos Estados Unidos.
O Grupo Adani, do qual o magnata é presidente, atua em áreas como mineração de carvão, administração de portos e aeroportos, fabricação de cimento e distribuição de gás e produção de energia renovável.
Segundo a Bloomberg News, o grupo pretende tornar-se o maior produtor de energia renovável do mundo. Boa parte de sua receita, porém, ainda vem de combustíveis fósseis.
Hoje, com as mudanças de Musk e Arnault, o indiano ocupa o terceiro lugar no ranking de mais ricos do mundo.
Jerome Powell
O presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) Jerome Powell, liderou a instituição num ano em que a inflação nos Estados Unidos atingia seu maior valor em décadas, mudando a direção de uma política de juros mais frouxa que foi implementada após a pandemia, para o enfrentamento da desaceleração econômica trazida com a Covid-19.
Já em janeiro, a inflação nos EUA subiu 0,6%, o ritmo mais alto desde 1982. O índice foi puxado pelos custos da comida, eletricidade e moradia, de acordo com o Serviço de Estatísticas do Trabalho.
Nesse cenário, o Fed de Powell elevou em março as taxas de juros do país pela primeira vez desde 2018, sinalizando o início do que seria uma política monetária agressiva de combate à inflação mesmo com as incertezas trazidas pela Guerra da Ucrânia, que havia acabado de começar.
O mercado, porém, reagiu de forma positiva ao pronunciamento de Powell após o anúncio, avaliando que a autoridade monetária manteria o cuidado de evitar solavancos inesperados na condução do processo de retirada de estímulos ao mercado.
Mas o Fed não só continuou a inversão da curva de juros como também promoveu saltos cada vez maiores. Em maio, o banco aumentou as taxas de juros em 0,5 ponto percentual, para a faixa entre 0,75% e 1% ao ano, maior alta desde 2000.
Na reunião seguinte, em junho, o aumento foi 0,75 ponto percentual, algo que não era visto desde 1994. O último dado disponível mostrava pico inflacionário de 8,6% em maio. A meta do país era de 2%.
Após esse anúncio, Powell tentou tranquilizar o mercado ao afirmar que altas daquela magnitude não se tornariam comuns, mas que ainda considerava provável um novo aumento entre 0,50 e 0,75 ponto na reunião seguinte do órgão.
Como anunciado, o Fed realizou novos aumentos a cada reunião em 2022. Foram mais três altas de 0,75 ponto percentual nas taxas de juros até que, finalmente, o banco reduzisse o ritmo do aperto monetário pela primeira vez no ano, em dezembro. Neste mês, a alta foi de 0,5 ponto, deixando a taxa alvo do Fed em 4,5% —em janeiro, era de 0,25%.
A decisão veio após a notícia de desaceleração da inflação nos Estados Unidos em novembro. No mês, o índice subiu 7,1%, menor taxa desde dezembro de 2021.
Ao longo da inversão dos juros, o presidente do Fed deixou claro que os passos seriam ditados pelas pressões inflacionárias. Em agosto, durante o simpósio de banqueiros centrais em Jackson Hole, afirmou que os juros nos Estados Unidos continuariam subindo até que a inflação caisse a um nível considerado seguro. Disse, ainda, que o banco preferia pecar pelo excesso, mesmo que provocasse forte desaceleração da economia, do que correr o risco de perder o controle dos preços.
“Uma falha em restaurar a estabilidade de preços significaria uma dor muito maior”, afirmou Powell na ocasião, fazendo os mercados de ações das principais economias globais afundarem.
Após a desaceleração de dezembro e com uma menor pressão inflacionária, o Federal Reserve deve continuar a diminuir o ritmo de alta dos juros, trazendo alívio para os mercado de ações, que passam a enfrentar menor concorrência da renda fixa americana.
Lisa Cook
A economista Lisa D. Cook tornou-se a primeira mulher negra a compor o conselho de diretores do Fed, após a vice-presidente americana, Kamala Harris, quebrar um empate de 50 a 50 no Senado e confirmar sua indicação.
Cook é doutora em economia pela Universidade da Califórnia, com pesquisa sobre mercado de trabalho e disparidades raciais.
Seu nome foi indicado junto a outros funcionários escolhidos pelo presidente Joe Biden, que nomeou dois cargos de diretores, dois vice-presidentes (geral e de supervisão) e o presidente da instituição, reconduzindo Jerome Powell à liderança do Fed.
Mauricio Claver-Carone
Em setembro, o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) decidiu destituir o executivo Mauricio Claver-Carone da liderança da instituição, após acusações de que o então presidente do banco teria mantido relações íntimas com uma funcionária de menor escalão.
As denúncias contra Claver-Carone foram reforçadas por uma investigação independente conduzida pelo escritório de advocacia Davis Polk, que encontrou evidências do relacionamento. A falta de colaboração do executivo durante as investigações também pesou para sua destituição.
Claver-Carone foi indicado para a presidência do BID pelo então presidente dos EUA, Donald Trump, e assumiu o cargo em setembro de 2020, quebrando uma tradição de seis décadas em que um nome da América Latina comandava a instituição.
Ao cair, Claver-Carone chegou a acusar o ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, de ter sido o culpado por sua destituição, após ter pedidos de cargos na instituição negados por Carone. Guedes rebateu as acusações e chamou o ex-presidente do BID de desqualificado.
A destituição de Carone deu espaço, ainda, para a eleição do primeiro presidente brasileiro no BID. Ilan Goldfajn, que comandou o Banco Central no governo Michel Temer, foi indicado por Paulo Guedes e venceu a disputa pela liderança do banco em novembro, apoiado por Brasil, Estados Unidos e Argentina, que juntos detêm mais de 50% das ações da instituição.
Christine Lagarde
Assim como Jerome Powell, Christine Lagarde, presidente do BCE (Banco Central Europeu), também teve que enfrentar uma alta de preços severa. A zona do euro registrou inflação de 5,1% em janeiro deste ano, um recorde para a série histórica iniciada em 1997, segundo a Eurostat, escritório de estatísticas da União Europeia.
O índice continuou a trajetória de alta ao longo do ano, pressionado pela Guerra da Ucrânia, e bateu novos recordes a cada mês. Em junho, chegou a 8,6%, próximo dos dois dígitos e distante da meta de 2% do BCE.
No mês seguinte, a gestão de Lagarde no BCE tomou a decisão de aumentar os juros da zona do euro pela primeira vez em 11 anos, elevando de -0,5% para zero sua taxa de depósito e financiamento. O movimento, apesar de esperado, foi considerado agressivo, já que o banco rompeu com sua própria orientação de um movimento de 0,25 ponto nos juros da área.
Em setembro, uma nova alta nos juros foi anunciada: o BCE elevou suas taxas em 75 pontos-base, um aumento sem precedentes que ocorreu em meio a uma previsão de recessão no bloco, já que, dias antes, a Europa havia perdido acesso ao gás russo num movimento de retaliação do Kremlin. O movimento repetiu-se na reunião seguinte, com mais uma subida de 0,75 ponto percentual.
Apenas no fim do ano, com a inflação atingindo um provável pico e uma recessão se aproximando, o BCE diminuiu o ritmo. Em dezembro, o banco decidiu subir os juros em 0,5 ponto percentual, finalizando o ano com taxa de depósito de 2%. A inflação da zona do euro ficou em 10,1% em novembro, último dado divulgado, o que representa uma queda com relação aos 10,6% do mês anterior.
Ex-chefe do FMI e a primeira mulher a comandar o BCE, Lagarde precisou calibrar o aumento dos juros para o combate à inflação na zona do euro enquanto uma recessão dava sinais. Sob sua gestão, o banco priorizou a estabilização de preços, e não a possível desaceleração econômica, numa política semelhante à praticada por Powell nos Estados Unidos.
Para o próximo ano, são esperados novos aumentos de juros pelo BCE.
Kwasi Kwarteng
O ultraliberal Kwasi Kwarteng foi nomeado para o cargo de ministro das Finanças do Reino Unido em 6 de setembro pela primeira-ministra Liz Truss.
Pouco mais de um mês depois, porém, foi demitido do cargo, após um catastrófico pacote de redução de impostos que levou ao colapso dos títulos de dívida britânicos e derrubou, além do ministro, a própria Truss, que renunciou ao cargo após 44 dias de governo.
Kwarteng anunciou seu plano econômico com apenas duas semanas no cargo de ministro, no dia 23 de setembro. Sua agenda previa cortes históricos de impostos, com a derrubada da maior alíquota de imposto de renda do país, o congelamento do imposto corporativo em 19% —eliminando o aumento de 25% planejado por seu antecessor— e enormes aumentos em empréstimos pelo governo.
As medidas elevaram o plano de emissão de dívida do Reino Unido para 72,4 bilhões de euros (R$ 395,1 bilhões) e previam renúncia de 45 bilhões de euros (R$ 245,6 bilhões) em impostos, que seriam somados a outros 60 bilhões (R$ 327,4 bilhões) já anunciados por Liz Truss para apoio à energia no país.
Com o anúncio, a libra caiu para o menor patamar em 37 anos em relação ao dólar, e os títulos de dívida de dois anos do governo britânico tiveram sua maior queda desde 2009.
Após dias de turbulência na economia britânica, Liz Truss decidiu demitir Kwarteng do cargo de ministro das Finanças e anunciou o aumento de impostos para empresas, um recuo em seu plano fiscal, em 13 de outubro. Na ocasião, Kwarteng estava em Washington para participar das reuniões anuais do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial, mas retornou a Londres um dia antes do planejado.
Com isso, Kwarteng, ultraliberal nascido em Londres e filho de pais imigrantes, de Gana, foi o ministro das Finanças com o mandato mais curto do país desde 1970.
Ben Bernanke
O ex-presidente do Fed Ben Bernanke foi laureado com o prêmio Nobel de Economia de 2022, junto com Douglas Diamond e Philip Dybvig, ambos americanos.
Segundo um integrante do comitê julgador do prêmio, os três foram escolhidos por terem criado uma base sobre por que os bancos são necessários, por que eles são vulneráveis e o que fazer sobre isso através de suas pesquisas acadêmicas.
Bernanke destacou-se, porém, por ter liderado o Federal Reserve durante a crise financeira de 2008, conduzindo a política monetária dos EUA no período de maior turbulência econômica do país.
Para alguns analistas, as medidas agressivas e pouco ortodoxas adotadas por Bernanke permitiram que o Fed fortalecesse o sistema financeiro dos EUA e mantivesse o fluxo de crédito, evitando uma catástrofe ainda maior, como a Grande Depressão de 1930, objeto de estudo do ex-presidente.
Seus críticos, porém, afirmam que ele fez pouco para evitar a crise. Douglas Diamond, por exemplo, afirmou, em entrevista coletiva após a premiação, que se a quebra do banco americano Lehman Brothers, em 2008, tivesse sido evitada, a crise teria sido menor.
Bernanke rebate a crítica ao afirmar que não havia maneiras legais de salvar o Lehman, e utilizou recursos públicos para evitar a quebra de outros bancos que estavam em risco. Apesar da lenta recuperação, que durou em torno de dois anos, os EUA conseguiram atingir um crescimento longo, e o então presidente do Fed deixou indicadores positivos, como desemprego abaixo de 4%.
Sergio Massa
Como o Reino Unido, a Argentina também protagonizou uma dança das cadeiras na Economia. O país chegou a ter três titulares para a pasta em um mês e terminou com o “superministro” Sergio Massa, que, além de tentar reverter a crise econômica argentina, foi alçado ao cargo também com a missão de salvar o governo de Alberto Fernández.
As trocas no ministério começaram com a renúncia de Martín Guzmán, em julho, após pressão da ala kirchnerista do governo. Sua gestão ficou marcada pela negociação com o FMI em uma tentativa de alcançar o equilíbrio das contas públicas do país em 2024.
A renegociação, porém, marcou o início da piora na relação de Fernández e a vice-presidente Cristina Kirchner, que foi contrária ao acordo com o FMI e chegou a afirmar, um dia antes da renúncia de Guzmán, que “o déficit fiscal não é responsável pela inflação”. Na época, o índice de preços registrava alta de 64% e representava a principal preocupação de 43,4% dos argentinos, segundo pesquisa do Management & Fit.
Guzmán foi substituído por Silvina Batakis, economista próxima de Cristina Kirchner que atuava como secretária de províncias no Ministério do Interior. A nova ministra, porém, não durou nem um mês no cargo: foi demitida após 24 dias, quando o presidente Alberto Fernández anunciou uma reforma ministerial com a criação de um “superministério” que abrange as pastas de Economia, Desenvolvimento Produtivo e Agricultura e Pesca e foi entregue ao então presidente da Câmara Sergio Massa, indicado por Kirchner.
Com essa configuração, Massa passou, na prática, a agir como um primeiro-ministro argentino, respondendo a Cristina e coroando o escanteamento de Fernández.
Após o anúncio, porém, o novo superministro anunciou um pacote de medidas para tentar dar estabilidade ao país com revisão dos gastos sociais e fortalecimento das reservas do Banco Central para contornar a dívida, num aceno pró-mercado.
Assim, Fernández viu em Massa a chance de recuperar a economia e ter uma salvação de seu governo, tomado, na época, pela crise política com a vice-presidente.