Nº de pedidos de tapa-buraco em SP é 12,8% maior do que no pré-pandemia – 20/12/2022

Bancos de couro, ar-condicionado digital, central multimídia, faróis com acendimento automático, motor 1.8 e um irritante barulho seco contra a lataria, na altura do pneu dianteiro esquerdo, que tira do sério Donato Aparecido Fernandes, de 59 anos. Os primeiros itens vieram de fábrica. O último é cortesia de um dos buracos que se espalham pelas ruas de São Paulo. Taxista há 15 anos, ele sabe bem onde foi. “Na esquina das Ruas Barra Funda e Lopes Oliveira. Caí ali muitas vezes, mas na última ouvi o barulho do amortecedor”, diz.

“Arrumar isso não vai sair por menos de R$500”, afirma. O que Donato sente nos ouvidos e no bolso também pode ser visto nos dados da Prefeitura. De janeiro a setembro, o serviço 156 – a central de atendimento da administração municipal – recebeu 115.452 reclamações e pedidos de recapeamento, alta de 12,8% ante o mesmo período de 2019, último ano antes da pandemia. Em relação a 2020, quando a circulação de carros diminui drasticamente, o aumento foi de 44,6%.

São Paulo tem 17 mil km de vias, o que equivale a 196 milhões de metros quadrados, conforme mapeamento da Prefeitura. É o dobro de Nova York. Com a temporada de chuvas, os problemas também se avizinham. Ruas esburacadas e pavimentação asfáltica precária tendem a causar dores de cabeça. Em junho, a gestão Ricardo Nunes (MDB) anunciou que estava iniciando “o maior programa de recapeamento da história”. Ao todo, 5,8 milhões de metros quadrados de vias devem ser recuperadas, equivalentes a 703 campos de futebol.

Mas os problemas continuam. Em Higienópolis, Pacaembu, Vila Buarque e na Rua da Consolação, Donato lista os buracos que atrapalham sua rotina. Em algumas dessas ruas é possível até mesmo acompanhar o nascimento e o crescimento dos buracos por fotos das vias ao longo dos anos no sistema de mapas do Google.

EXEMPLOS

Na Consolação, na direção da Avenida Paulista, ao entrar na Rua Maria Antônia, um enorme cone laranja da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) alertava os motoristas sobre uma fenda no asfalto no fim da semana passada. Há poucos metros dali, no cruzamento da Rua Augusta com a Marquês de Paranaguá, pedras foram colocadas em uma vala para tentar nivelar a passagem. Especialmente após chuvas, não é incomum encontrar arranjos improvisados pelos próprios moradores.

Problemas com a qualidade das vias e do asfalto não são exclusividade. Há três meses, o encanador Antônio Candido Leite Júnior, de 44 anos, teve de procurar um borracheiro, à noite, após rasgar um pneu na Avenida Miguel Ignácio Curi, em Itaquera. “Deixei R$ 200 na borracharia: o pneu rasgou de fora a fora. Não teve o que fazer”, diz Leite Júnior. “Passo lá quase todo dia. Arrumaram, mas e dai? O prejuízo é meu.”

Desde 2019, a cidade tem um Manual de Especificação Técnica para ações de tapa-buraco. Lista especificações técnicas, como o “requadramento”, um recorte quadrado maior do que o buraco que corrige não só a erosão, mas toda a parte comprometida. Essa técnica tende a garantir maior durabilidade do serviço e não era adotada antes. Segundo a coordenadora de Engenharia Civil da Universidade Mackenzie, Patrícia Barboza, o que garante a qualidade da pavimentação nas vias são planejamento e gestão. “Nenhum buraco aparece de um dia para o outro”, diz.

“Começa como trinca, a água vai se infiltrando e faz com que essa estrutura, formada por diversas camadas, vá perdendo a qualidade, até se transformar em um buraco.”

Entre as medidas tecnológicas, o uso do georreferenciamento é uma das formas mais efetivas, diz ela. São Paulo tem um programa do tipo. Implementado em 2019, o Sistema Gaia identificou a qualidade e o conforto do pavimento, avaliando a ondulação do asfalto. A medida nasceu da parceria com a sociedade civil: 108 veículos, entre táxis e carros de aplicativos, mapearam a situação das vias rodando pela cidade. O sistema foi desenvolvido pela Prefeitura em conjunto com a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

Tempo médio de atendimento foi de 121 para 10 dias, diz Prefeitura

A Prefeitura afirma que o asfalto usado na Operação Tapa Buraco é o mesmo das rodovias paulistas, “eleitas as melhores do País”. A gestão Ricardo Nunes (MDB) ressalta que neste ano foram tapados 117.879 buracos nas ruas da cidade, 2427 a mais do que o número de reclamações recebidas pelo serviço 156.

“O aumento no número de solicitações é resultado da maior divulgação do Portal 156”, conforme a Prefeitura, que visa a atender as solicitações dos munícipes para “tornar São Paulo uma cidade melhor e mais funcional, com a participação de todos”.

Segundo a Prefeitura, algumas solicitações recebidas via 156 são indeferidas por não se tratarem de serviços de tapa-buracos, mas de problemas em sarjetas, reparos em calçadas, entre outros. Ainda assim, afirma a administração, apesar de registradas inadequadamente, as equipes das subprefeituras incluem os reparos na programação.

TEMPO

“O tempo médio de atendimento para solicitações de tapa-buraco caiu de 121 dias, em 2017, para cerca de 10 dias, representando uma diminuição de 91%. Nas principais vias da capital, a operação tapa-buraco é executada em até 48 horas. Estes são os menores números registrados para o serviço na série histórica”, afirma.

Empresas concessionárias, como a Sabesp, a Comgás, e de telefonia também são autorizadas a fazer a recomposição do asfalto em vias em que executam serviços e devem seguir o manual da Prefeitura. A Secretaria Municipal das Subprefeituras informou ainda que vai realizar vistorias nos locais citados pela reportagem e os serviços necessários serão realizados. Caso sejam de concessionárias, estas empresas serão acionadas para fazer o devido reparo.

MANUTENÇÃO

De acordo com Patrícia Barboza, professora de Engenharia Civil da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o tempo é o fator crucial para esse processo. E o tempo em vias, urbanas ou rodoviárias, é medido não só em meses e anos, mas também pelo tráfego e pela carga que passa por elas. “A pavimentação não é feita para durar a vida inteira. Na cidade, a duração média para que seja preciso fazer o recapeamento é de 12 anos. Esse tempo a gente mede em tráfego. Esses 12 anos podem ser 15 anos ou dez, de acordo com o trânsito”, afirma.

Onde solicitar: pelo aplicativo sp156, nas subprefeituras ou no descomplica sp e pelo telefone 156. O Estadão ainda recebe e encaminha queixas dos leitores pelo [email protected].

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Deixe um comentário