Essas atividades eram responsáveis por 33% do valor adicionado ao PIB no início da década passada. Nos últimos três anos, essa participação ficou em 29%
Eduardo Cucolo
São Paulo-SP
Três setores representativos da economia brasileira e que se destacaram nos governos anteriores do PT ainda seguem produzindo abaixo do verificado em 2014, quando o país entrou em uma das maiores recessões da sua história: indústria manufatureira, comércio e construção. Essas atividades eram responsáveis por 33% do valor adicionado ao PIB (Produto Interno Bruto) no início da década passada. Nos últimos três anos, essa participação ficou em 29%.
Nas Contas Nacionais do IBGE, a indústria manufatureira e a construção estão dentro do grande setor industrial, junto com o segmento extrativista e atividades como eletricidade, água e esgoto. Já o comércio é contabilizado como parte do grupo serviços. O nível de produção da manufatura brasileira está cerca de 15% abaixo do pico da série histórica, que foi alcançado em 2013. O declínio do setor, portanto, começou antes da recessão de 2014-2016. A construção e o comércio tiveram seus picos no início de 2014. A primeira ainda está mais de 20% abaixo daquele patamar. O segundo mantém uma defasagem de 5%.
Esses resultados contrastam com o comportamento da agropecuária, setor que mais cresceu desde o início da série histórica do IBGE, iniciada em 1995, e foi também o primeiro a se recuperar da recessão. Os serviços como um todo tiveram sua trajetória de recuperação adiada por causa da pandemia, mas voltaram ao patamar pré-crise no segundo semestre de 2022.
Construção
Entre os três setores que ainda não voltaram, a construção é a que sofreu a maior perda de participação no PIB na história recente, de 6,4% em 2013 para 3,3% em 2021. A crise fiscal que resultou em cortes em programas de investimentos e de habitação popular inviabilizou a manutenção do alto nível de produção do setor alcançado há uma década.
José Carlos Martins, presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), afirma que o Brasil tem hoje grandes projetos de infraestrutura em andamento, mas que demoram para dar resultado, e obras que demandam baixos recursos, como construção de praças e asfaltamento de avenidas. “Falta investimento na coisa média. A estrada que dá acesso à Dutra, a vicinal, a ponte, o conjunto habitacional”, afirma Martins. “Para isso, precisa voltar a ter investimento público. Mas não adianta ter investimento público sem responsabilidade fiscal.”
Nos últimos dois anos, o setor cresceu o dobro do PIB. Pode crescer o triplo em 2023, segundo projeção da entidade. Martins diz que o setor chegou a 3 milhões de trabalhadores com carteira assinada no pico. As vagas caíram para 2 milhões no momento mais agudo e agora estão em 2,5 milhões.
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Indústria
Outro segmento ainda sem perspectiva de voltar ao pico é a indústria de transformação ou manufatureira, que chegou a representar mais de 20% do PIB brasileiro na década de 1970. Em 1980, foi iniciado um processo de desindustrialização que reduziu essa participação praticamente pela metade.
Um trabalho dos economistas André Nassif e Paulo Morceiro mostra que essa desindustrialização não é uma tendência mundial. A taxa de crescimento do valor adicionado pelo setor caiu na década passada no Brasil, mas avançou na média das economias mais representativas, resultado puxado pelos emergentes China e Índia. Em alguns países desenvolvidos, como EUA e Japão, ela ficou praticamente estável.
“O Brasil é um caso particular. A participação da indústria de transformação no PIB mundial não tem uma trajetória de queda. Está relativamente estável. Se você exclui a China, tem uma redução muito pequena. Não há um processo [global] de desindustrialização”, afirma Rafael Cagnin, economista do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Ele afirma que outros países que também tiveram uma rápida desindustrialização, como Reino Unido e Austrália, já haviam alcançado um alto nível de desenvolvimento antes que isso ocorresse. Não é o caso do Brasil. Naquelas duas economias, a indústria encolheu, mas se tornou mais intensiva em tecnologia e com mais capacidade de agregação de valor. “O Brasil tem o pior caso de desindustrialização prematura. Um processo dos mais intensos do mundo, que ocorreu antes de o país enriquecer e que efetuou os setores mais intensivos tecnologicamente, que hoje são os que estão na base da indústria 4.0”, diz o economista do IEDI.
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Para ele, o governo eleito pode seguir os passos de outras economias que buscam a reindustrialização, o que passa por um Estado com capacidade de articulação e coordenação junto ao setor privado.
Comércio
O comércio é outro setor que tem demorado mais a se recuperar da recessão de 2014-2016, embora esteja próximo de alcançar o patamar da época. Desde 2012, tem um peso na economia que supera o da indústria de transformação –cerca de 14% do valor adicionado ao PIB e 20% de participação no grupo serviços como um todo.
A CNC (confederação nacional do comércio) estima que o setor deve fechar 2022 com crescimento próximo de 1,2%, praticamente o mesmo resultado dos dois anos anteriores, em um cenário de juros elevados e inflação ainda alta. O valor é bem inferior ao desempenho do PIB brasileiro, cujo crescimento neste ano é estimado em 3,1% e deve ficar em 1,6% na média 2020-2022.
Segundo a CNC, passados quase dois anos e meio desde o início da crise sanitária, o volume de vendas segue cerca de 1% acima do observado em fevereiro de 2020.
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