O preso Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, 37, conhecido como Minotauro, apontado como integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital), vai permanecer recolhido em penitenciária federal por determinação da Justiça de São Paulo.
O desembargador Francisco Bruno, presidente da Seção de Direito Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, cassou ontem a decisão do juiz Fábio Correia Bonini, da 4ª Vara Criminal de Bauru (SP), que havia autorizado a volta dele para o sistema prisional paulista.
Na decisão, Bonini mencionou que foram expedidos seguidos ofícios ao Depen (Departamento Penitenciário Nacional) solicitando esclarecimentos sobre a participação do preso em organização criminosa e envolvimento em crimes graves e violentos e também sobre risco de vida.
No entendimento do magistrado, as respostas não trouxeram os esclarecimentos solicitados nem continham elementos de convicção e “diante desse quadro, não se mostra viável a manutenção do preso no SPF (Sistema Penitenciário Federal)”.
Plano de fuga
Mas para o desembargador Francisco Bruno, o narcotraficante Minotauro, mesmo depois de preso, continuou com a prática de diversos crimes, “dentre os quais um plano cinematográfico de fuga de integrantes do PCC, incluindo Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo da facção”.
Francisco Bruno se baseou em relatórios e documentos apresentados pelo Depen, MPF (Ministério Público Federal), Polícia Federal, Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) de São Paulo e da SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária).
Segundo o desembargador, as documentações enviadas pelo MPF “dão conta de um íntimo relacionamento entre Marcola e Minotauro, o que demonstraria por si só como Minotauro poderia reestruturar a cadeia de comando do PCC, tão logo inserido no sistema penitenciário paulista”.
Já o relatório do Depen aponta que Minotauro possui forte atuação no tráfico de drogas nacional e internacional, principalmente na fronteira do Brasil com a Bolívia e o Paraguai e antes de ser preso movimentava de oito a dez toneladas de cocaína por mês para a Europa.
A documentação enviada pelo Depen diz ainda que Minotauro foi responsável por vários homicídios em Ponta Porã, região de fronteira com o Paraguai, e que o grupo criminoso dele teria grande poder bélico, como fuzis e até metralhadora calibre 50, capaz de derrubar aeronaves e furar blindados.
A SAP e o Gaeco de São Paulo também se manifestaram “pela necessária permanência de Minotauro junto ao Sistema Penitenciário Federal”, alegando que “o retorno dele às prisões paulistas poderia desencadear novas ações criminosas, já que ele é da alta hierarquia do PCC”.
Vida de luxo
Minotauro foi preso pela Polícia Federal em 4 de fevereiro de 2019 em Balneário Camboriú, Santa Catarina. Ele morava em um condomínio de luxo e tinha diarista, governanta, massagista e até piloto de helicóptero, como informou esta coluna em 23 de fevereiro de 2021.
O narcotraficante foi incluído no Sistema Penitenciário Federal em 6 de fevereiro de 2019 e, atualmente, encontra-se recolhido na Penitenciária Federal de Brasília. A custódia dele no SPF se encerraria em 23 de janeiro de 2023.
Em 2012, o criminoso havia sido processado duas vezes por tráfico de drogas pela Justiça de Bauru. Isso aconteceu três anos depois de ter saído em liberdade de uma prisão paulista. Minotauro passou então a ser procurado e por isso fugiu para o Paraguai.
Em setembro de 2020, o juiz Vitor Figueiredo de Oliveira, da 2ª Vara Federal de Ponta Porã, condenou o narcotraficante a 40 anos e nove meses pelos crimes de organização à associação criminosa, tráfico de drogas e falsidade ideológica.
A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Minotauro, mas publicará na íntegra a versão dos defensores dele assim que houver uma manifestação.