Marrocos quer contra a Espanha exorcizar fantasma de 1986 – 05/12/2022 – Esporte

Na última vez que chegou ao mata-mata da Copa do Mundo, Marrocos teve o coração partido pelo futebol. Após derrotar Portugal na fase de grupos em 1986, no México, a seleção não apenas enfrentou a Alemanha nas oitavas de final como a dominou por 88 minutos.

Até que Lothar Matthäus acertou uma falta para definir o placar de 1 a 0. Desde então, a equipe africana participou dos torneios em 1994, 1998 e 2018, sem conseguir sair da fase de grupos.

“Isso não vai acontecer de novo. Queremos deixar as pessoas felizes. É o momento perfeito para fazer com que se sintam orgulhosos de nós. Vamos nos matar em campo pelo povo de Marrocos”, disse o goleiro Munir El Kajoui.

O time chegou perto da classificação em 1998 e avançaria para a fase eliminatória se a Noruega não tivesse virado o placar sobre o Brasil nos acréscimos.

Nesta terça-feira (5), Marrocos tenta uma inédita vaga nas quartas de final do Mundial contra a Espanha, às 12 horas (de Brasília), no estádio Cidade da Educação.

A declaração do goleiro é um sentimento de gratidão. Os marroquinos presentes no Qatar formam uma das mais vibrantes torcidas da competição. Na segunda rodada, na vitória por 2 a 0 sobre a Bélgica, tomaram conta do estádio Al Thumama.

A identificação acontece apesar de mais da metade do elenco não ter nascido no país. Dos 26 convocados pelo técnico Walid Regragui 14 nasceram fora de Marrocos, em seis países diferentes. É o maior número entre as 32 seleções do Mundial. Dois deles são da Espanha, rival desta terça, o defensor Achraf Hakimi e o goleiro Munir El Kajoui.

O grupo também tem três atletas originários da França, quatro da Holanda, três da Bélgica, um da Itália e um do Canadá.

Dos 832 atletas inscritos na Copa do Qatar, 16% (137) nasceram em outros países que não o da seleção que representam.

Isso no passado já causou mais polêmica. Jean-Marie Le Pen, 94, líder da extrema direita francesa no final do século passado, pediu para a população do país não comemorar o título mundial de 1998 porque a equipe era composta por filhos de pessoas nascidas em antigas colônias francesas.

Era o caso do craque do time, Zinédine Zidane, de ascendência argelina.

Não seriam franceses, segundo Le Pen.

Quando a França conquistou o troféu, mais de um milhão de pessoas se deslocaram à Champs-Élysées, a principal avenida de Paris, para comemorar a vitória. Foi a maior reunião de pessoas no país desde a liberação da cidade pelas tropas aliadas na Segunda Guerra Mundial, em 1944.

“Você tem dever com aquele país que está em seu coração”, disse Regragui, quando questionado sobre a quantidade de jogadores com ascendência marroquina, mas que nasceram em outros países.

Não é um fenômeno novo em outros torneios da Fifa. A França campeã de 2018 também era formada por filhos de imigrantes.

“Eu disse aos outros jogadores antes da Copa do Mundo ‘nós só estamos jogando finais aqui’. Nós jogamos três finais na fase de grupos e agora será a nossa quarta final”, disse El Kajoui, 33, nascido em Melilla, cidade autônoma da Espanha no norte da África, na fronteira com Marrocos.

O fator emocional e a possibilidade de a maioria no estádio ser de marroquinos preocupam o técnico marroquino. Ele crê que seus jogadores precisam ter frieza ao enfrentarem uma das “melhores seleções do mundo” em um momento que será histórico para o futebol do país.

“Nós não chegamos neste nível há 36 anos, então eu e meu estafe precisamos manejar as emoções dos jogadores. É o maior jogo da nossa história, mas eu espero que o próximo seja ainda maior. Nossos antecessores não podem repetir a partida contra a Alemanha, já o confronto contra a Espanha está diante de nós. Eu vou dizer aos rapazes para aproveitarem o momento e se divertirem enquanto milhões de marroquinos estarão nos assistindo.”

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