Autoridades do Irã prenderam Farideh Moradkhani, sobrinha do aiatolá Ali Khamenei, depois que ela foi filmada chamando o regime islâmico de “homicida e assassino de crianças”. A ativista de direitos humanos pertence a um ramo da família contrário aos líderes religiosos.
O irmão de Farideh, Mahmud Moradkhani, foi quem revelou, por meio das redes sociais, que ela havia sido detida na última quarta (23), após ser intimada pela Promotoria. No sábado (26), Mahmud postou um vídeo em que a irmã aparece condenando a “clara e óbvia opressão” sofrida pelos iranianos e pedindo ajuda à comunidade internacional.
“Povos livres, fiquem do nosso lado! Digam aos seus governos que parem de apoiar este regime homicida e assassino de crianças”, declara a sobrinha do líder supremo do Irã.
Não se sabe quando o vídeo foi gravado. Nas imagens, a iraniana reclama que as sanções contra o país, consequência da repressão aos protestos, são insignificantes e afirma que seus compatriotas estão sozinhos na luta pela liberdade.
Farideh já havia sido presa em janeiro deste ano, após ter elogiado em uma videoconferência a viúva do xá Mohammad Reza Pahlavi, derrubado pela Revolução Islâmica de 1979. A ativista foi libertada sob fiança em abril, segundo a ONG Human Rights Activists News Agency.
Seis condenados à morte
A repressão endurece à medida que os protestos contra o regime se perpetuam. Até o momento, 416 pessoas morreram, e seis manifestantes foram condenados à pena morte por supostas ações violentas durante os atos. Mais de 14 mil pessoas foram presas e cerca de duas mil foram acusadas, segundo dados oficiais.
A revolta teve início em meados de setembro, com a morte da jovem Mahsa Amini, de 22 anos, após ser presa por estar usando o véu islâmico de forma inadequada, segundo alegações da polícia da moralidade. O regime classifica os protestos como “distúrbios” e afirma que eles são promovidos pelo Ocidente.
Neste domingo (27), a autoridade Judiciária do Irã disse que o rapper Toomaj Salehi, acusado de fazer propaganda contra o regime e agir contra a segurança nacional, pode ser condenado à pena de morte. Ele foi detido depois de ter postado um vídeo de uma música que pede a derrubada do regime teocrático.
Familiares do músico indicaram que seu julgamento já teve início, a portas fechadas e sem qualquer representação legal. Ele teria sido acusado de ser um “inimigo de Deus” e “corrupção na terra”, crimes passíveis de pena de morte no Irã.
Dois militantes libertados
As autoridades iranianas libertaram sob fiança, no sábado (26), o jogador de futebol Voria Ghafouri e o dissidente Hossein Ronaghi, dois dos mais célebres militantes contra a repressão aos protestos no Irã.
A decisão ocorre em um contexto particular, depois da vitória da seleção nacional de futebol frente ao País de Gales na Copa do Mundo e a dois dias do duelo com os Estados Unidos. Os jogadores iranianos roubaram a cena antes do início do jogo contra a Inglaterra, ao se recusarem a cantar o hino nacional em protesto à repressão.
Ghafouri, que jogou 28 vezes pelo Irã até 2019, foi preso após um treino de seu time Foolad. De origem curda, ele foi acusado de ter insultado e difamado a reputação da seleção nacional e de ter feito propaganda contra o regime, segundo a agência de notícias iraniana Fars.
Já Ronaghi, colaborador do americano The Wall Street Journal, teve de ser hospitalizado devido a uma greve de fome que durou dois meses na prisão. Segundo seu irmão, Hassan, o militante deixou a prisão sob fiança para se submeter a um tratamento.