Neste sábado, 12, o julgamento da pastora Flordelis (PSD-RJ), ex-deputada federal, caminha para o sétimo dia consecutivo. A ex-parlamentar é de mandar matar o próprio marido, o pastor Anderson do Carmo, em 2019. Além disso, ela é ré por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, associação criminosa, uso de documento falso e falsidade ideológica.
Presa desde 2021, Flordelis é acompanhada de outros quatro acusados no caso. São eles: Simone dos Santos, filha biológica de Flordelis; Rayane dos Santos, neta da pastora; e os filhos afetivos André Luiz e Marzy Teixeira.
Durante a semana, foram ouvidas 25 testemunhas, no fórum de Niterói, região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro. Entre elas estão: parentes de Flordelis, médicos, conhecidos da família, um desembargador e dois delegados que guiaram as investigações e acusam a pastora de ser a mandante do crime.
Entre todos os depoimentos do julgamento, alguns chamaram mais a atenção do que outros. Esse é o caso de Regiane Ramos Cupti Rabello, proprietária de uma oficina. Anteriormente, Regiane havia contratado Lucas Cezar dos Santos de Souza, então com 14 anos.
Souza, filho adotivo da pastora, foi condenado a nove anos de prisão, em 2021, por homicídio triplamente qualificado em regime totalmente fechado. Ele foi acusado de ter sido o responsável por adquirir a arma usada no assassinato do pastor.
Segundo Regiane, depois de contratar o rapaz, ela passou a cuidar dele. “Estou me sentindo coagida para não falar a verdade”, declarou no julgamento. “Tive uma bomba jogada na minha casa, que sempre teve paz. Os carros da minha oficina todos rabiscados pela senhora Lorraine, neta de Flordelis. Quem é a família de bandidos é eles.”
Ainda em seu depoimento, a empresária denunciou que, desde a adolescência, Souza era maltratado pela família da pastora. O rapaz, conforme Regiane, não tinha acesso à alimentação adequada e a cuidados de higiene básicos.
“Lucas não foi ensinado nem a usar um desodorante”, afirmou. “Foi meu marido que ensinou como homem. O Lucas fedia.”
Já Marzy, demonstrou não se importar com as consequências de seus atos para que as ordens da mãe fossem cumpridas. Marzy havia sido interpelada sobre a prática de colocar substâncias nos alimentos que Carmo consumia.
Daiane Freires, também filha adotiva de Flordelis, explicou em depoimento que viu a irmã de criação colocando um “pó” em um suco que o pastor bebeu. “Falei para ela: ‘O dia que ele pegar isso vai ter morte nessa casa”, declarou Daiane. “E ela respondeu: ‘Pela minha mãe, Flor, eu vou presa.”
Daine ainda relatou ter ciência das supostas relações sexuais mantidas pelo pastor com outras mulheres que moravam na casa. De acordo com ela, sua mãe adotiva sabia de tudo. A linha de defesa da pastora é que ela e algumas de suas filhas e netas foram abusadas sexualmente pelo pastor.
“Embrulho no estômago”
“Uma noite ele entrou no nosso quarto e alisou a minha irmã”, explicou. “No dia seguinte, quando amanheceu, perguntamos porque ela não contava para a mãe. Ela falou que conversou com a mãe, mas que ela (Flordelis) pegou a Bíblia e mostrou que, se a mulher está ciente que o marido está procurando outra mulher, não é pecado.”
Ainda nos depoimentos do caso Flordelis, Luana Rangel Pimenta, nora de Flordelis, afirmou que a pastora dizia que Carmo iria morrer, pois atrapalhava “a obra de Deus”. O pastor era carinhoso, mas rígido nas condutas familiares, segundo Luana. “Se não fosse por ele, a casa virava uma pornografia”, disse.
Roberta dos Santos, outra filha adotiva da ex-parlamentar, negou os abusos por parte do pai adotivo. Roberta morou na casa de Flordelis até 2015, quando se casou.
“Quando me perguntam sobre o abuso sexual me dá embrulho no estômago”, sustentou. “É um deboche. O pastor respeitava a todos. Ele não permitia, por exemplo, que a gente andasse de biquíni e de short (sic) porque dizia ter muito homem naquela casa.”
A delegada Bárbara Lomba, que conduziu a primeira investigação do assassinato, contou que ouviu relatos, nos depoimentos que coletou, que afirmavam que Anderson e Flordelis mantinham relações íntimas com os filhos adotados.
“Havia o casamento entre Anderson e Flordelis”, explicou. “Para a igreja deles e sociedade era um casamento tradicional. Mas os depoimentos desmontam algo que era passado de outra forma. Não havia o amor de pai e mãe, eles conviviam e as pessoas tinham relações com eles de cunho sexual.”