O governo italiano se negou a receber o barco Ocean Viking, da ONG SOS Mediterranee, com 234 pessoas a bordo por mais de duas semanas e a tripulação decidiu zarpar em direção à França, que confirmou o acolhimento “excepcional” após a “incompreensível” atitude de Roma.
Nesta quinta, porém, o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, anunciou uma série de medidas em represália, como a suspensão do recebimento de 3,5 mil migrantes até o fim do verão de 2023 e o reforço nos controles de fronteira com a Itália, por onde muitas pessoas estrangeiras em situação irregular tentam atravessar.
“A reação da França me pareceu desproporcional em relação ao caso. Nós temos cerca de 90 mil chegadas e temos um acordo para redistribuir cerca de oito mil. Até agora, só 117 pessoas foram redistribuídas. Agora são 234 pessoas que estão chegando na França e é preciso enfrentar o assunto com maior serenidade – e se pode e se deve achar soluções em nível europeu”, disse Tajani após uma série de reuniões em Amsterdã, nos Países Baixos.
Os números citados pelo ministro referem-se a dois dados: o total de migrantes que chegaram ao país em 2022, que somam mais precisamente 89,2 mil, conforme o Ministério do Interior com informações atualizadas até o dia 7 de novembro, e um novo acordo assinado por 13 países da União Europeia em junho deste ano para a realocação de migrantes – que não considera aqueles que já deixaram a Itália antes disso.
Conforme o pacto de junho, são 10 mil as pessoas que serão beneficiadas pelo “Mecanismo Voluntário de Solidariedade” e os italianos serão os mais ajudados com 3,5 mil deslocamentos nesse sentido. Já França e Alemanha foram as que se comprometeram a receber migrantes, com 3,5 mil e 3 mil, respectivamente.
Apesar das reclamações italianas, considerando o que ocorre nos últimos anos, a maior parte das pessoas que chega por meio do Mar Mediterrâneo à Itália costuma seguir viagem rumo a países ao norte, como a Alemanha e a própria França. Até agosto, essas nações contabilizavam 238,7 mil e 134,4 mil solicitantes de refúgio, respectivamente, de acordo com o gabinete de estatísticas da União Europeia, contra 61,8 mil da Itália.
“Há pessoas que querem vir à Itália e nós estamos prontos a cuidar delas, mas nem todos podem ficar na Itália. Sobre a redistribuição não foi feito muito e por isso precisamos encontrar soluções com determinação. As polêmicas não servem para nada, mas podemos achar uma solução com a África”, acrescentou ainda.
Ministro do Interior – A mesma linha de reclamação foi adotada pelo titular do Ministério do Interior, Matteo Piantedosi, que disse que a situação é “incompreensível”.
“A reação que a França está tendo sobre o pedido de acolher 234 migrantes é totalmente incompreensível perante aos contínuos pedidos de solidariedade devida a essas pessoas. Mas, mostra também como é a postura das outras nações perante à migração ilegal, que é firme e determinada. Aquilo que não entendemos é a razão pela qual a Itália precisa aceitar de bom grande qualquer coisa que os outros não querem aceitar”, disse Piantedosi.
O fato da Itália receber mais migrantes via Mar Mediterrâneo que outros países deve-se à questão do território ficar mais próximo de países como Tunísia e Líbia, portos de saída de milhares de barcos clandestinos. Pelas leis do direito marítimo internacional, as pessoas resgatadas no mar devem ser levadas ao porto mais próximo para recebimento. (ANSA).