O filme “O Enfermeiro da Noite”, lançado no último dia 26 na Netflix, é baseado na história verdadeira de Amy Loughren, a enfermeira que ajudou a polícia a deter seu colega de trabalho, o serial killer Charles Cullen, enfermeiro acusado de assassinar dezenas de pacientes sob seus cuidados em hospitais. Estrelado por Jessica Chastain como Loughren e Eddie Redmayne como Cullen, o longa é baseado em fatos retratados no livro do jornalista investigativo Charles Graeber, de 2014.
O filme já está entre as dez produções mais vistas no mundo pela Netflix e hoje (6) ocupa a 4ª posição da plataforma de streaming no Brasil. A história é um retrato do poderoso heroísmo de Amy. O longa mostra a relação do assassino com sua companheira de trabalho, que começa a perseguir os passos do colega no hospital Somerset Medical Center, após investigadores informarem sobre coincidências nos óbitos de idosos dentro da enfermaria da instituição. Loughren ajudou a reunir provas contra o enfermeiro até a sua prisão, em 2003.
Na vida real, Loughren era uma enfermeira que trabalhava no Hospital Somerset em Nova Jersey e vivia no norte de Nova York com suas duas filhas jovens. Em entrevista à revista People, Amy revelou que continuou na profissão após os assassinatos. Além de auxiliar na investigação dos crimes, usando uma escuta para gravar a confissão do criminoso, que resultou em onze condenações de prisão perpétua para Cullen, ela também participou dos depoimentos que embasaram o livro e o filme.
No longa, a enfermeira mantém suas duas filhas no escuro sobre os crimes de Charles, que era um amigo da família. Mas na vida real, Loughren revelou à People que conversou com sua filha Alex, de 11 anos, e ela convenceu a mãe de contar tudo à polícia. “Eu disse a ela: ‘Nossas vidas podem mudar completamente. Não sei se posso fazer isso com você’. E Alex disse: ‘Mãe, ele está matando pessoas’”, relembrou. Encorajada pela filha, Amy continuou ajudando os detetives Danny Baldwin e Tim Braun a resolver o caso.
Em entrevista à emissora CBS, ao lado da atriz Jessica Chastain, a enfermeira explicou como foi um gatilho ver toda essa fase de sua vida de novo no filme. “Para mim, é claro, que reviver tudo isso foi muito traumático. Foi há 20 anos, então eu tive um tempo para superar, mas eu consegui assistir ao filme apenas uma vez. Despertou um gatilho”, afirmou Loughren.
Ao ser questionada sobre quando começou a suspeitar de Charles, Amy explicou: “Eu queria dizer que comecei a suspeitar dele antes, mas não. Eu ainda carrego muita culpa sobre isso, por não ter conseguido perceber antes”. A enfermeira ainda acrescentou que o colega certamente tinha muitos problemas psicológicos, que podem ter sido o motivo do comportamento assassino. “Eu acredito que ele tinha muitas doenças mentais, ele chegou a tentar suicídio. E ele começou a ter tendências assassinas ainda na adolescência”, completou. Assista à íntegra:
Em conversa com a BBC, Amy admitiu que incialmente tentou acreditar que Charles matava apenas pacientes em estado terminal, para aliviar a dor, mas esse não era o caso. “Lutei com a culpa de sentir falta dele (Cullen). Lutei com a culpa de não ver que esse amigo também tinha um lado sombrio e monstruoso. E eu não queria ver… Eu queria acreditar que ele matava por misericórdia para que eu ainda pudesse me importar com ele. Mas ele não era um assassino que matava por pena. Ele era um assassino a sangue frio. E eu realmente me culpei por não ter visto isso“, recordou.
Com o longa, entretanto, ela mudou sua percepção e passou a se enxergar como a heroína que foi. “Eu literalmente arrisquei tudo para ter certeza de que ele seria preso. E me esforcei todos os dias, não importa o quão doente eu estivesse. Ao vê-la (Jéssica Chastain, no filme), pude me orgulhar dessa personagem. Abriu espaço para eu dizer: ‘eu fiz a coisa certa‘”, refletiu.
Charles Cullen foi preso por seus crimes em 2003, mas estima-se que tenha matado ativamente pessoas por até 16 anos antes. Ele foi denunciado por atividade suspeita por alguns dos lugares para os quais trabalhava, mas conseguiu evitar investigações profundas por muito tempo, mudando de instituições entre Nova Jersey e Pensilvânia. O enfermeiro injetava digoxina em suas vítimas, medicamento que pode ajudar quem sofre de insuficiência cardíaca, mas que em alta dose pode matar. Outras vezes, ele adicionava uma dose letal de insulina nas bolsas salinas.
O filme mostra que as autoridades foram capazes de identificar 29 vítimas que morreram nas mãos de Cullen. Charles confessou ter matado cerca de 40 pessoas, embora os investigadores acreditem que o número real chegue até a 400 assassinatos. Em entrevista à Sky News, Loughren deu sua opinião sobre a performance de Eddie como o enfermeiro. “Foi um gatilho assistir porque Eddie realmente encarna quem meu amigo Charlie era. A maneira como ele se move, a maneira como ele fala, as interações que temos, são tão reais. Essa parte foi extremamente traumática”, afirmou.
“E me permitindo entender que senti falta dele por um tempo — e minha culpa por realmente perder minha amizade, porque ele é um monstro. Mas eu não conhecia o assassino. Só conheci o assassino algumas vezes e ele fez esse papel como meu amigo. Senti falta dessa amizade, por isso foi um gatilho muito grande”, admitiu a enfermeira. Assista ao trailer de “O Enfermeiro da Noite”:
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